Capítulo 1

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Mesmo depois de um mês, Wooyoung ainda se sentia caído. Bom, ele estava literalmente, mas não esperava que continuasse por tanto tempo.

Depois da primeira semana as pessoas começaram a perguntar, porque ele era importante, querendo ou não, as pessoas ainda o conheciam e davam conta de sua falta. As revistas extremamente sensacionalistas publicavam hipóteses do seu sumiço, acharam que era o cio, mas descartaram assim que Yejin foi vista em um shopping, ela era sua alfa, afinal. Disseram que ele havia viajado, o que ainda é o mais veemente. Alguns insistiram que o jovem estava morto.

Seus dois únicos amigos apareceram diversas vezes, mas nunca ficavam mais do que alguns minutos, já que eles estavam ocupados demais cuidando da sua empresa. O ômega tentou dizer que estava bem, mas eles não se convenceram, então sempre voltavam para lhe alimentar e garantir que tinha ao menos tomado banho. Já haviam passado por aquilo, sabiam que quando acontecia, o amigo ficava praticamente inerte no tempo. Eles o amavam demais, era parte de sua pequena família, então não iam deixar que se fosse tão cedo.

O ômega estava acostumado com aquilo. Lamentava que fosse tão fraco, mas ele não foi ensinado a ser melhor, muito pelo contrário, ele foi ensinado a ser sozinho, triste e insuficiente. Todos sempre o apontavam com tão pouco. Depois de um tempo ele só sabia, ninguém mais precisava dizer.

Yunho e Hongjoong entraram no apartamento em uma tarde chuvosa, diferente das outras vezes, não estavam sozinhos.

— Woo? — Hongjoong, um ômega, chamou. Eles sabiam que o amigo estava preso em seu quarto, então apenas pediram que o outro esperasse ali por um momento.

— E aí, amigo. — Yunho entrou no cômodo totalmente escuro. Apesar de ser um alfa com bons sentidos, não conseguia distinguir a mistura de cheiros que impregnavam cada canto.

Wooyoung fechou os olhos imediatamente, tentando fingir que não os ouvia.

— Ei, Woony. — Hongjoong se aproximou, tocando a lateral do corpo do menor, que tentou não estremecer — Sabemos que está acordado. Podemos conversar, por favor?

Wooyoung se deu por vencido, então se sentou, sentindo o corpo doer. Podia sentir um cheiro diferente, o qual nunca havia sentido antes. Era bom.

— Como você está? — Yunho se juntou aos dois ômegas, segurando a mão trêmula do amigo — Comeu alguma coisa hoje?

— Estou bem. — ele tentou sorrir. Esperava que os amigos não se aprofundassem no assunto da alimentação de novo.

Não estava bem. Seu corpo começava a denunciar a falta de sono e alimentação, seus olhos pareciam fundos e avermelhados, seu tão agradável cheiro começava a amargar e seus cabelos estavam caindo demais.

— Trouxemos alguém. O nome dele é Choi San, mas gosta que chamamos de Sannie. — O tom do ômega era ameno e explicativo, como se falasse com uma criança, enquanto acariciava seus cabelos — Ele é um lúpus também, e assim como você, vive pelas regras da sua sociedade.

— Por que isso? Quem é esse?

— Ele é formado em gastronomia e aceitou ser seu cozinheiro.

Imediatamente uma expressão azeda tomou o rosto do mais novo.

— Já conversamos sobre isso.

— Sabemos que sim, mas você precisa de alguém, Woo. Ele vai ajudá-lo no que precisar e vai preparar todas as refeições que você precisa.

— Eu não quero. — Wooyoung se levantou rápido demais, o que o fez cambalear, assustando os outros.

— Pelos deuses, Wooyoung. — Yunho o segurou com firmeza, impedindo que ele caísse outra vez — Você não comeu, não é?

Hongjoong estava se segurando muito para não chorar, ele tinha que ser forte pelo amigo.

— Woony, por favor. — as mãos delicadas o tocaram e aquilo não havia saído como um simples pedido, Hongjoong estava implorando. Implorando por sua vida — Não posso te perder também, eu não consigo.

Wooyoung não conseguia mais chorar. Ele não tinha líquido o suficiente no corpo, vinha feito demais no último mês, estão abraçou o amigo. Tinha na mente que seus braços finos não serviam para consolar ninguém, então não poderia fazer muito, mas estava fazendo seu máximo.

Eram as únicas coisas boas que ele tinha.

— Me desculpa, Joongie. Eu não queria.

— Nos deixe tentar cuidar de você, por favor. Só por mais um tempo, não desiste agora.

O ômega não havia desistido em seus 25 anos de desgraça, ele tinha acostumado a apanhar; não apenas metaforicamente falando. Deveria aguentar, por mais um certo tempo, então descansaria, talvez.

— Eu posso… posso tentar. Mas vocês podem aceitar que eu faça isso aqui dentro? Não consigo sair. Tenho medo.

— Woony, nós sempre estaremos aqui dentro. — aquilo era uma metáfora, Wooyoung entendia. Eles não podiam ficar, diferente de si, tinham uma vida a ser vivida.

— Então o Sannie pode ficar?

— Se ele ficar longe de mim, sim.

Yunho suspirou, feliz. Poderia parecer pouco, mas já era um começo.

— Ótimo. Vamos apresentá-los, então.

Antes que o mais novo pudesse reclamar ou se opor, ambos o conduziram para fora do quarto. Suas meias felpudas tocavam o chão frio, ele se sentia gelado.

O alfa estava na sala, sentado em um dos sofás, nervoso e ansioso. Ele sentia o cheiro que, apesar de confuso, era bastante presente. Pela primeira vez em tempos, seu lobo parecia descontrolado e ele soube o porquê assim que pôs os olhos no pequeno ômega que vinha sendo trazido pelos outros dois. Não dava para se ver quase nada, o moletom exageradamente grande parecia engoli-lo, a franja um pouco grande caia sobre seu rosto delicado, não dando chance de ver quase nada.

— Sannie — Hongjoong, o ômega que havia o contratado, chamou sua atenção — Este é nosso irmão, Wooyoung. Woo, esse é o San.

Seus olhos subiram por apenas alguns segundos, apenas o tempo suficiente para localizar o alfa de cheiro bom e forte em sua sala. Uma mão foi estendida em sua direção e ele só não recuou por conta dos braços ao seu redor.

Sua mão pegou a outra muito hesitante. O contato foi mínimo por conta do moletom, que cobria boa parte da palma.

— É um prazer, senhor Jung. — a voz forte fez com que alguns pelos se eriçassem, sem controle.

Seus olhos se encontraram. Era uma mistura estranha de azul e algo que parecia verde. Wooyoung não se lembrava de um dia ter visto orbe tão bonita e únicas, eram envolvidas de mistério e uma beleza imensurável. Era vida. San não se lembrava de ter visto profundezas tão escuras e triste, havia tanta solidão, como o fundo do mar. Era escuridão.

Ele sentiu necessidade de cuidar do pequeno ômega, cuidaria independente do que fosse.

Your Eyes - WoosanOnde histórias criam vida. Descubra agora