A próxima semana foi tão deprimente quanto a primeira.
O alfa continuava com a mesma rotina, vivia naquela casa solitária e sombria, sentindo-se cada vez mais solitário e sem saída. Havia tentado de todas as formas conversar novamente com o ômega, mas sempre era evitado ou recebido com lágrimas.
Era manhã de sexta-feira quando entrou no apartamento e se assustou ao ver seu chefe no sofá, ele dormia encolhido e coberto. Foi a primeira vez que o alfa o via na sala, foi ainda mais surpreendente quando percebeu que ele não estava de moletom, um de seus braços finos estavam servindo de apoio para sua cabeça, o alfa pôde ver as diversas tatuagens que o menor possuía, conseguia ver muitas cicatrizes também, o que doeu em seu coração.
Deixou a caixinha sobre um banquinho que tinha ali, intensificando um pouco seu cheiro, para não assustar o ômega, então tocou seu rosto com muito cuidado, vendo o menor despertar lentamente.
— Hum... — resmungou, esfregando a bochecha na mão quente do alfa. Aquilo era bom.
— Ômega. — chamou, baixinho, como se estivesse lidando com o cristal mais frágil e precioso do mundo. Era o mesmo aos seus olhos.
— Alfa. — aquilo saiu como um ronrono, o que quase fez o alfa rosnar.
— Wooyoung. Acorde, ômega.
O pequeno foi acordando aos poucos, se sentia relaxado pelos feromônios que o alfa exalava. Não acordou assustado ou com medo, ao contrário, se aconchegou mais aos cobertores, encarando os olhos verdes.
— Tenho uma surpresa.
Foi a primeira vez que o mais velho viu algo que não fosse escuridão naqueles olhos tão bonitos. Eles brilhavam. Brilhavam de algo que não era medo.
— Tipo um presente?
Às vezes San se perguntava se o ômega sabia falar alto, ou em um tom que não fosse de sussurro. Gostaria de vê-lo gritar consigo, rir alto ou impor algo. Gostaria que seu ômega vivesse.
— Sim. Peço desculpas se não gostar. Não sei do que gosta, já que nunca conversamos. — encolheu os ombros, envergonhado.
Wooyoung amava presentes, quaisquer que fosse. Apenas o fato da pessoa tirar um momento para pensar que talvez aquilo agradaria o ômega, fazia com que seu coração enchesse de um sentimento bom. Era uma pena que raramente ganhasse algo de coração.
O alfa lhe entregou uma caixa meio pesadinha, era uma caixa simples de madeira, tinha três furos pequenos ao lado e entendeu o porquê assim que a abriu. Imediatamente um par de olhos tão azuis quanto o céu encararam os seus. A bolinha de pelo miou, arranhando a caixa, pedindo por colo.
— Céus.
Suas mãos tocaram a bolinha com cuidado, vendo o mesmo se esfregar em si, pedindo carinho. San tinha o sorriso do tamanho do mundo, ao menos deu importância quando sua bochecha doeu. Ele nunca tinha sentido um perfume tão bom quanto o que o ômega exalava agora, sem ao menos perceber.
— Encontrei ele do lado de fora da minha casa semana passada, então o recolhi, mas não sei como cuidar dele, sem contar que vivo aqui. Pensei bastante antes de trazê-lo, estava em dúvida, mas resolvi tentar.
Gostar era um eufemismo, Wooyoung havia amado o animalzinho que se aconchegou a si assim que o trouxe para seu abraço. Era a coisa mais fofa que já tinha visto. O ômega amava gatinhos, podia-se dizer que é um de seus pontos fraco.
— Eu amei. Ele é lindo. Obrigada. — ele sorriu, pela primeira vez em tempos.
Ele não percebera o ínfimo erro, mas o alfa percebeu e franziu o cenho. Sua língua coçou para perguntar, mas não queria ser invasivo.
— Ele é bem preguiçoso, gosta de carinho e faz manha por tudo. Também é guloso.
— Nos parecemos bastante, então.
O alfa sorriu.
— Parecem?
Wooyoung corou ao perceber que dissera aquilo em voz alta.
— Bom, sim. Sou bem preguiçoso e manhoso. — deu de ombros, ainda abraçado com o gatinho. Sentia que estava tudo bem, não ia acontecer nada se ele trocasse algumas palavras com o alfa — Gosto de carinho.
Apesar de não ter quase nenhum.
— Também é guloso?
— Não. Não gosto de comer. — aquilo era uma das mentiras que estavam enraizadas, apenas fizeram acreditar que ele não gostava. Sempre diziam que ninguém gostaria de um ômega gordo e que comia tudo pela frente.
— É uma pena, era o único jeito que tinha de conquistá-lo. Não sou bom em muitas coisas.
— No que você é bom?
— Acho que... bom, eu sou carinhoso, gentil e trato as pessoas bem, gosto de sorrir.
— Eu percebi, alfa.
— E você?
— Sei desenhar.
— O que mais? O que gosta de fazer?
— Desenhar? — Não era para ter soado como uma pergunta — Não sei se consigo fazer muitas coisas, nunca tentei.
— Sabe que eu também não? — a retórica foi recebida com surpresa pelo ômega. Aquele alfa parecia ter vivido bastante coisa — Viajei bastante, mas nunca ousei tentar muitas coisas.
— Uma vez me disseram que é legal reconhecer as coisas que precisam mudar.
— Poderíamos fazer coisas novas juntos.
— Alfa — O menor suspirou, cansado — Eu não consigo. Não consigo socializar, as pessoas me causam medo e qualquer alfa que chegue perto de mim me causa terror, não consigo andar sem contar meus passos e tenho medo de andar sobre calçadas com piso porque morro de medo de cair. Sou fraco e desmotivado. Não sei viver.
— Posso protegê-lo, posso andar ao seu lado em qualquer calçada e farei com que saiba que estou sempre ali. Podemos viver juntos.
Wooyoung pensou por um momento, não como se estivesse considerando aquilo, pensou em como gostaria de chutar a bunda de quem tinha o condicionado àquilo, se perguntava por quê, para quê. Era um esforço tão desnecessário.
— Como gosta de ser chamado? — o alfa não conseguiu manter a pergunta para si depois de muitos instantes.
Wooyoung parecia assustado com a pergunta, como se alguém tivesse o pego no flagra fazendo uma coisa horrível. Não era um bom assunto.
Seja homem, moleque inútil.
Novamente a voz de seu avó ecoou em sua mente.
Fraco.
— Pode fazer macarrão para o almoço? Se não for incômodo. — O pequeno afastou a caixa de seu colo, levantando-se com o gatinho — Não precisa me chamar, eu saio quando sentir fome, se demorar, coloque um prato no micro-ondas.
— Claro.
Um suspiro derrotado escapou do maior.
— Obrigado.
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Your Eyes - Woosan
عاطفيةJung Wooyoung era um ômega lúpus que precisava de ajuda, sempre precisou, mas com o tempo, percebeu que teria que aprender a ser só. Com o fim trágico de seu relacionamento que já não andava bem, o ômega só se vê cada vez mais imerso em sua escuridã...