The circus.

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   Após saborearmos o delicioso banquete preparado por nossa mãe, permaneci pacientemente aguardando em repouso sobre o sofá da sala. Foi bem rápido, não demorou muito  para eles descerem já arrumados, mamãe está deslumbrante, como sempre. Ao me erguer do sofá, contemplei a cena em que Michael a atraiu para um beijo fugaz, porém ardentemente apaixonado. A efemeridade desse momento logo se dissipou, e num instante, estávamos acomodados no interior do automóvel. Elowyn, ao meu lado, exibia uma exuberância descontrolada, saltitando no banco conforme nos aproximávamos do circo.

   Eu apenas tentava a ignorar para não ser chata. Desci a mão até meu bolso e peguei o meu fone, o colocando na entrada de meu celular, logo o levando até meus ouvidos.
Meddle About – Chase Atlantic começou a tocar e involuntariamente me deixei relaxar sobre o banco. Porém, o carro logo parou. Ao me inclinar para encostar as mãos no vidro, pude ver o circo de perto. O circo antiquado se erguia como um testemunho envelhecido do tempo, sua lona vermelha, agora opaca e rasgada, pendia como vestígios de dias mais vibrantes. As fendas na estrutura expunham sombras sinistras, conferindo uma aura assustadora à decadência do espetáculo que um dia foi grandioso.

    A curiosidade me fez arquear as sobrancelhas antes de abrir a porta e sair do carro. Ao vislumbrar adiante, já avistei pessoas na fila, ansiosas para adentrar o circo; parece que os espetáculos aqui são bastante atrativos.

                                   •••

   Finalmente conseguimos adentrar dentro da cabana, nos dirigimos até a primeira fileira ficando basicamente a beira do palco, aonde era possível ver tudo o que eles fariam de perto, coloquei meus fones, escutando uma música baixa tentava ignorar o pessoal ao fundo e até ao meu lado gritando eufóricos (Elowyn).
     Passou-se uns 37 minutos receio, estava cansada, queria sair dali. Meus pensamentos eram uma mistura de raiva e tristeza, não queria estar ali como eu disse, porém, chegou a hora do mágico, e dessa vez parece que alguma coisa pairou sobre mim que, involuntariamente decidi prestar atenção em suas falas, movimentos e mágicas. Vidrada, deixei o celular em minha perna, esquecendo de sua existência por alguns minutos. O rapaz, magro, alto e de cabelos grisalhos me aproximou de minha pessoa, estendendo sua mão pálida e desidratada para mim, mordi o interior de minha bochecha antes de voltar minha atenção aos meus pais que apenas assentiram em rosposta. Suspirei antes de segurar sua mão e subir no palco.

             — Boa noite pessoal! Está é? — Ele ergueu o microfone a mim, indicando-me a dizer meu nome.

             — Khaellese. — Respondi baixo, como um murmúrio enquanto tentava não o olhar diretamente.

             — Khaellese fará uma mágica para nós hoje — O homem proferiu suas palavras antes de retirar a cartola da cabeça, colocando-a no chão enquanto me fitava com seus olhos castanhos escuros. Um sorriso se desenhou em seus lábios, revelando dentes brancos, retos e, de certa forma, assustadores. — Puxe o coelho, senhorita, ele não irá te fazer mal.

   Ao levar minha mão à nuca e coçá-la ao ouvir suas palavras, uma mistura de curiosidade e coragem me impeliu a me abaixar ao lado do chapéu. Segurando sua borda com uma mão, a outra mergulhou no seu interior, encontrando um líquido gosmento, fétido e repugnante. Meus olhos se arregalaram em pânico ao sentir algo mais, passando entre meus dedos. Um grunhido escapou de meus lábios ao abaixar a cabeça, mergulhando mais fundo minha mão, revelando pelos grossos e sujos. Uma sensação arrepiante percorreu minha espinha. Com uma mescla de nojo e incredulidade, puxei algo para fora — um coelho morto. Encarei seus olhos cinzentos apagados, dentes quebrados e pelos manchados de sangue. Minhas mãos tremiam enquanto segurava aquela macabra descoberta. Levantei-me apressadamente, depositando o coelho no chão com um arrepio involuntário. Meu olhar se voltou para o público, que testemunhava o inesperado desdobramento.

   Enquanto a euforia envolvia a plateia, que sorria, gritava e aplaudia com entusiasmo, meu olhar recaiu sobre o animal inerte no chão. Parecia que, entre a multidão extasiada, apenas eu reconhecia a morbidez da cena. Desviei meus olhos para o mágico, que mantinha um sorriso fixo, fitando-me. A tentação de questioná-lo pulsava em minha garganta, mas, ao abrir a boca, meu silêncio permaneceu, afogado pela perplexidade. Lentamente, limpei minha mão na calça, como se quisesse apagar o rastro daquela experiência desagradável. Voltei a me sentar, encolhida na cadeira ao lado de minha irmã. O assento oferecia uma sensação de segurança diante do surrealismo daquele momento.
O olhar do mágico continuava a se encontrar com o meu, uma troca silenciosa de compreensão e estranheza. A multidão ao redor permanecia imersa em seu deleite, alheia à minha desconexão enquanto eu processava aquela experiência perturbadora.

                                       •••

              — Mãe! — Falei enquanto me apressava para segurar em seu braço, tentando a fazer parar de andar. — Você não viu o coelho? Ele estava morto!

             — Khaellese, o coelho estava vivo, alegre e feliz, já te falei para parar com essas coisas. Você precisa falar com a Melanie novamente. — Elise falou. A mais velha puxou seu braço para adentrar dentro do carro.

   Com um suspiro, meu olhar se abaixou e abri a porta traseira do carro, entrando e prendendo o cinto. Fiquei ali quieta, ouvindo os outros comentarem sobre o espetáculo e rirem, enquanto eu me perdida em meus pensamentos.

                                   —  𓃹  —

Oii gente! Esse capítulo foi um pouco maior que o anterior. Agradeço novamente por ler até aqui.

Sei que a história não tá tão boa inicialmente, vou melhorá-la conforme o decorrer do roteiro, eu prometo!

Melanie - Psicóloga de Khaellese.
37 anos.

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⏰ Última atualização: Jan 06 ⏰

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