Cê gosta mim?

Desejo

Caetano não precisou dizer nada, quando Bethânia abriu a porta e deu de cara com o irmão na frente de sua casa. Aquela hora da noite, soube exatamente o que tinha acontecido. Era sempre a Bethânia que Caetano recorria quando algo ia mal.

Agora Bethânia acariciava os cabelos do irmão, deitado com a cabeça em seu colo, após contar tudo o que tinha acontecido na noite anterior.

- Você tinha razão sobre Chico. - Caetano suspirou. - Se você tivesse visto o jeito que ele me olhou, Bethânia.

- Eu bem que te avisei, não é, Caetano? - Os dedos de Bethânia brincavam com os cachos do irmão. - Mas você não quis ouvir. Queria Chico de qualquer jeito.

- Até parece que você não tem uma queda por ele também.

- Mas não fico agindo como um garoto mimado. - Bethânia deu um tapinha no braço dele. - Pô, você sabe que ele é casado, Caetano. O que você tava esperando?

- Eu só queria me aproximar dele, sei lá...

Bethânia cruzou os braços e encarou o irmão.

- Se "aproximar"?

- Tá bom, eu queria dar pra ele. - Caetano admitiu. - Mas ele também não precisava ter reagido assim. Me tratar daquele jeito...

- E como foi o show com ele depois do que aconteceu?

- Ele mal olhou na minha cara. Agora tá tudo estranho entre a gente. - Caetano levantou, ficando sentado no sofá ao lado da irmã. - Acha que eu devo ir atrás dele?

- Pra quê? - Bethânia perguntou, indignada.

- Tentar consertar as coisas.

- Não... o melhor a fazer agora é deixar Chico de lado.

Caetano olhou triste para ela.

- Que isso, Caetano? Ele não é o último homem do mundo. Até parece que não tem um monte de caras por aí dando sopa pra você!

- Tipo quem?

- Djavan.

- Lá vem você com esse papo de novo.

- Olha, o Djavan não é ruim, não!

- Já não tem a mesma graça de antes...

- Tudo bem, Caetano. Só me prometa que você não vai atrás de Chico!

- Claro que não. Eu, hein, Bethânia... Eu lá sou homem de correr atrás dos outros? Além do mais, não é como se eu estivesse apaixonado por ele.

- Então o que é?

- Você sabe... tesão! Ah, Bethânia, se você tivesse visto o quanto ele tava bonito... - Caetano jogou a cabeça para trás, tentando mentalizar Chico aquela noite em seu sofá. - Aqueles olhos azuis, a camisa aberta...

- Ah, Caetano, o que eu faço com você? - Bethânia riu, jogando uma almofada no irmão. - Pelo menos você tirou uma casquinha dele.

- Sabe de uma coisa, Bethânia? Eu podia jurar que ele também queria.

- Tá bom...

                                           *

Quando Caetano voltou para casa já era madrugada. Ele enfiou a mão no bolso da calça para procurar suas chaves, mas quando se aproximou da porta percebeu uma figura sentada nos degraus da entrada.

- Chico?

A voz de Caetano o fez despertar. Quando o viu levantou. O cheiro de álcool e o olhar perdido não deixou dúvidas que ele tinha bebido.