o plano | wolfstar

fingimentos

  No dia seguinte os murmurinhos continuam, mas, como havíamos planejado na noite anterior, vamos fingir que não damos importância. Só que não ligar é a parte fácil; já estive atrelado a tantos rumores em Hogwarts que já tenho certo costume. A parte difícil eram os detalhes que transpareciam o nosso "amor". Todos os nossos amigos ficaram dando ideias por pelo menos meia hora antes de irmos dormir e, ao finalmente irmos para nossas camas, tínhamos um plano quase sólido.

  Sentar juntos nas aulas e durante as refeições, fazendo questão de acrescentar alguns toques em braços e pernas (ideia prática da Lílian); deveríamos sorrir um para o outro em momentos aleatórios como se estivéssemos compartilhando segredos que ninguém mais soubesse (ideia da muito romântica Mary); andar de mãos dadas de vez em quando, mas fazendo questão de não exagerar para não parecer forçado (ideia da entendida Marlene); deveríamos brincar mais um com o outro, fingir que estamos nos irritando de uma maneira fofa (ideia de James, que garantira que funcionava muito bem com Lílian, embora a garota não concordasse muito com o "de uma maneira fofa"); deveríamos sempre estar cuidando um do outro, carregando o material do outro ou dando presentinhos, como chocolates e flores (ideia do Peter, que surpreendentemente fez sentido, por mais que Peter nunca tivesse namorado ninguém). Apenas Dorcas (a muito direta) foi menos útil em seu conselho: se pegar de vez em quando pelo castelo, fingindo que não queremos ser flagrados, e darmos selinhos durante as refeições e/ou aulas. Eu admito que não estive no meu melhor momento quando todos concordaram com a ideia dela ("é só um selinho!", disse Mary) e fiquei muito lívido, como se tivesse visto um trasgo na minha frente. Remus corou e escondeu o rosto - o que foi super fofo - e murmurou "não acredito que isso está acontecendo".

  Estamos na primeira aula e escolhemos sentar bem na frente de duas meninas da Lufa-Lufa que são conhecidas por serem fofoqueiras. Então, O Plano entra em ação e Remus faz a primeira jogada. Ele sorri para mim e finge sussurrar no meu ouvido, embora dê para as garotas o ouvirem perfeitamente. "Mais tarde eu te ajudo com essa matéria". Entendo que isso entra na parte do cuidado um com o outro, mas tudo o que eu consigo pensar nesse momento é no quão gostoso é ter Remus sussurrando no meu ouvido. Remus tem que me olhar intensamente para me despertar do torpor e eu murmuro de volta "obrigado, amor".

  No horário do almoço todos já estão sabendo que usei a palavra "amor" para me referir a Remus.

  À tarde temos aula com a Professora McGonagall e, por sabermos que ela é super rígida, elegemos sua aula para ficarmos de cochichos, risos e muito próximos. Remus não gosta de ser repreendido por ela, mas acaba concordando pel'O Plano. Se tivéssemos feito na aula do Prof. Binns, de História da Magia, de nada teria adiantado, pois ele continuaria dando sua aula como se não existisse nenhuma perturbação. McGonagall é a nossa melhor esperança e ela não nos decepciona: nos afasta, obrigando-nos a sentarmos em mesas separadas, depois de cerca de dez minutos de "desatenção" (Remus, como era de se esperar, trouxe uma pena de repetição que está anotando tudo o que a professora está dizendo embaixo da carteira). Só que McGonagall vai além e ainda os lança uns olhares de preocupação, certamente porque Remus não é de ficar tão distraído em sua aula.

- Senhor Lupin, talvez queira reconsiderar com quem vai se sentar nas próximas aulas. Receio que Black esteja sendo uma influência negativa sobre o senhor. - Remus cora terrivelmente e balança a cabeça em concordância, parecendo quase assustado.

  Todos os olhos da sala viram imediatamente para mim, que estou com um sorrisinho divertido no rosto, claro. Sirius Black obviamente gostaria de ser uma má influência sobre qualquer um, especialmente sobre seu namorado. Fica visível para mim que todos estão convencidos de nosso namoro.

  Ótimo trabalho, digo a mim mesmo, mas tem uma nota de amargor nesse pensamento.

  Diferentemente de ontem, em que quase todos os alunos já tinham ido dormir quando conversávamos sobre O Plano, hoje o Salão Comunal da Grifinória está lotado - o que torna o lugar perfeito para mais demonstrações de afeto. É nesse cenário que me pego praticamente deitado em um dos sofás, com Remus entre as minhas pernas, apoiando seu corpo em mim. Muitos olhares, check. Muitos risinhos, check. Muito desconforto por ter Remus deitado sobre mim: check, check, check. Nossos amigos estão conversando normalmente, fingindo normalidade (afinal eles já deviam saber há muito mais tempo), e parece que a minha mente é a única super aérea. Meu braço está esticado sobre o de Remus e minhas mãos estão fazendo um carinho "despretensioso" nele. Poderia ser um momento de conforto tão usual se fôssemos realmente namorados... a simplicidade desse toque faz tudo parecer tão íntimo...

- Sirius, você está ouvindo? - Marlene pergunta e eu volto à realidade na qual Remus está sobre mim e isso não significa absolutamente nada - Estávamos combinando de irmos todos à festa da Sonserina no sábado. São as melhores de Hogwarts, você sabe, mas se você estiver desconfortável por causa de Regulus então a gente faz outra coisa.

  Mil pensamentos cruzam a minha mente. Não quero ver Regulus, mas festas da Sonserina significam muita bebida e eu estou precisando ficar muito bêbado. Só que não poderei ficar com ninguém por lá, pois significaria que eu "traio" Remus, mas muita bebida sempre me deixa muito animado para os pecados da carne. Merlin, o que eu faço? Opto pela saída fácil.

- O que você acha, querido? - pergunto para Remus, porque ele não gosta muito de ficar louco em festas, já que tem medo de fazer ou falar algo que não deveria sobre sua licantropia. Posso sempre confiar que ele saberá o que fazer.

- Acho uma ótima ideia - ele tenta soar assertivo, mas sei que esconde um certo nervosismo em sua voz. Droga, queria saber ler mentes para entender o que ele está pensando agora.

  E, Merlin!, que Moony não tenha aprendido a ler mentes ainda, porque a minha está imaginando um Remus Lupin sem camisa me beijando naquele ambiente soturno e sexy típico das festas da Sonserina. A temperatura do meu corpo começa a elevar.

- Hora de levantar, querido! - digo ao meu "namorado", mas ele nem processou as palavras e eu já estou saindo debaixo dele no sofá.