Desatinar | Romance Sáfico

32 | estresse

Celine

A atmosfera mais leve na sala de aula contrastava com as tensões passadas. Eu e Elisa nos encontrávamos em dupla, trabalhando diligentemente para compensar o tempo perdido no projeto esquecido, "Estudo do Comportamento Humano em Situações de Estresse". Ambas compartilhávamos olhares significativos, reconhecendo a ironia do tema escolhido para o trabalho diante de nossas próprias experiências.

- Parece que estamos o tempo todo colocando em prática esse estudo. - Elisa riu suavemente, quebrando o gelo enquanto revisávamos nossas anotações.

- Nem me fale. Às vezes, acho que o universo está conspirando contra nós. - Respondi, tentando manter o clima leve.

Entretanto, conforme avançávamos na discussão do projeto, uma pequena divergência de opiniões surgiu, transformando a atmosfera colaborativa em algo mais tenso.

- Eu acho que deveríamos abordar o aspecto psicológico mais aprofundadamente. - Celine sugeriu, com uma expressão séria.

- Não sei, Elisa. Acho que estamos nos afastando do foco principal. O professor quer um estudo prático, não uma tese acadêmica. - Argumentei, sentindo as primeiras nuances de uma potencial discussão.

Elisa cruzou os braços, seus olhos expressando uma determinação que eu conhecia bem.

- Mas é justamente no aspecto psicológico que encontramos a base para compreender as situações de estresse.

- Ok, você está certa, amor. - involuntariamente, deixei escapar a palavra de carinho, surpreendendo a nós duas.

- Amor?

- Falei sem perceber, desculpa.

- Não. Eu gosto disso. - Elisa sorriu, criando um clima mais leve na sala de aula.

O momento de ternura que se desdobrou entre nós dissipou a tensão, e Elisa começou a mexer-se na cadeira, parecendo mais descontraída.

- Eu estava pensando se eu poderia ir na sua casa hoje, para a gente terminar de uma vez esse trabalho e... terminar o que eu queria fazer com você.

O silêncio pairou por um momento enquanto eu processava suas palavras. Elisa tinha um olhar sugestivo, deixando claro suas intenções, mas eu decidi provocar um pouco.

- O que você queria fazer comigo? - Perguntei, dando um sorriso travesso.

Elisa riu, percebendo minha brincadeira, mas sua expressão era cheia de desejo.

- Vai descobrir quando eu tiver na sua casa.

O clima entre nós se tornou cúmplice, e começamos a rir como duas bobas apaixonadas, trocando olhares cheios de ternura. No entanto, enquanto estávamos imersas nesse momento, meu olhar se desviou para a janela.

Do lado de fora, um casal de duas garotas compartilhava um beijo apaixonado. Uma onda de tristeza me atingiu, pois, ao contrário delas, eu não podia viver minha paixão publicamente com Elisa.

Os questionamentos começaram a surgir em minha mente, formando uma tempestade de pensamentos que me consumia. Eu sabia do que gostava, e com outras garotas, nunca precisei me esconder. Sempre fui livre para expressar minha verdadeira essência. No entanto, com Elisa, era diferente. Seu mundo estava envolto em política, intriga e expectativas familiares, algo que eu nunca enfrentara antes.

O dilema crescia dentro de mim, e eu me via questionando se valia a pena passar por isso. Será que o amor que sentia por Elisa era forte o suficiente para superar os desafios e as limitações impostas por suas circunstâncias familiares? Será que eu poderia sacrificar minha liberdade para estar com ela?