26 | enlouquecendo

5.1K 542 281
                                    

Elisa

Aquela noite era festiva, as luzes da cidade cintilavam enquanto eu me misturava à multidão na mais recente festa da prefeitura. No entanto, minha mente não conseguia se entregar inteiramente à celebração. Desde a festa do meu aniversário de quinze anos, que tinha sido dias antes desse ocorrido, uma sombra de desconfiança pairava sobre mim, uma dúvida persistente sobre a integridade de meu pai.

Os flashbacks daquela noite específica retornavam como fantasmas indesejados. As lembranças de sua atitude estranha durante a valsa, sua rápida retirada e a conversa suspeita que testemunhei às escondidas ainda assombravam meus pensamentos. Aquela experiência deixou uma semente de suspeita que não consegui ignorar.

Na festa da prefeitura, decidi finalmente investigar. Era hora de esclarecer as dúvidas que vinham corroendo minha confiança. Disfarçada entre os convidados, deslizei pelos corredores e alcovas, como uma sombra curiosa em busca de respostas.

Ao me aproximar do escritório de meu pai, os murmúrios e risadas da festa distante contrastavam com o silêncio tenso do corredor. Respirei fundo e, com habilidade adquirida ao longo de minhas incursões anteriores, destranquei a porta do escritório.

Ao adentrar o espaço privado de meu pai, o ambiente exalava a familiaridade de um lugar que eu costumava encontrar refúgio. No entanto, agora, o local assumia uma aura sombria, impregnada de segredos que eu mal conseguia vislumbrar.

O brilho suave da luz da lua revelou um escritório meticulosamente organizado, documentos alinhados, uma visão típica da rotina do meu pai. Porém, meu olhar se fixou em uma gaveta específica, onde uma pilha de papéis parecia guardar segredos bem guardados.

Com cautela, abri a gaveta e comecei a folhear os documentos. Contratos, transações financeiras e correspondências codificadas revelaram um lado oculto dos negócios do meu pai. Meu coração acelerou enquanto eu conectava os pontos, percebendo que as atividades que ele conduzia iam além da aparência de legalidade.

A verdade, agora exposta diante de mim, era um peso insuportável. Meu pai, figura de confiança e segurança, estava envolvido em uma teia complexa de interesses duvidosos. As festas da prefeitura, as transações obscuras, tudo apontava para um homem que eu mal reconhecia.

O dilema crescia dentro de mim. Devo confrontá-lo? Expôr as descobertas que fiz, arriscando a relação que tínhamos? Ou devo manter esse segredo e viver na sombra de uma verdade que me consome?

A decisão pairava como uma sombra indecifrável. Engoli em seco, tentando afastar as lágrimas que ameaçavam se formar. A gaveta continha não apenas papéis, mas uma revelação que abalava as estruturas da minha confiança.

Antes que pudesse tomar uma decisão, ouvi passos se aproximando. Um frio percorreu minha espinha quando a porta do escritório rangeu, revelando a figura da minha mãe, cujo olhar encontrou o meu, refletindo surpresa e preocupação.

— Elisa, o que está fazendo aqui? — Sua voz continha uma mistura de curiosidade e apreensão.

Engoli em seco novamente, lutando para encontrar palavras que não denunciassem a tempestade de descobertas que se desenrolava dentro de mim.

— Eu... estava apenas procurando por alguma coisa. Nada importante.

Minha mãe franziu o cenho, observando-me de maneira perspicaz. Será que ela já sabia? Uma corrente de ansiedade passou por mim enquanto ela se aproximava da gaveta, seu olhar percorrendo os documentos que agora eu tentava desesperadamente esconder.

— Elisa, você está chorando? O que está acontecendo?

Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava esconder o peso do conhecimento recém-adquirido. As palavras teimavam em se prender na minha garganta.

Desatinar | Romance SáficoOnde histórias criam vida. Descubra agora