Nem havia percebido que estava com tanto sono até o momento em que o cansaço me venceu e eu simplesmente dormi. Quando acordei, uma sensação estranha tomou conta de mim. Pisquei várias vezes, tentando me adaptar à luz que entrava pela janela. Ao olhar para fora, percebi que estávamos chegando à estação da capital.— Atenção, senhores passageiros! Dirijam-se para fora do metrô e aguardem até as segundas ordens — anunciou uma voz robótica, feminina, ecoando pelo vagão.
Peguei minha mochila e me estiquei antes de sair do metrô. No caminho, notei outros cinco adolescentes que pareciam ser do mesmo setor que eu. Assim que pisamos no chão da plataforma, percebi a presença de guardas em cada esquina, como se estivéssemos em uma armadilha. Um deles fez sinal para nos aproximarmos.
— O que está acontecendo? — murmurei para mim mesmo, mas logo esbarrei em um garoto negro que parecia tão perdido quanto eu.
— Desculpa aí, cara — disse, apertando sua mão rapidamente.
— Não foi nada — ele sorriu. Era bem mais alto e forte do que eu; não parecia um adolescente comum. Havia algo em seu olhar que denunciava uma história difícil. — Eu sou Ethan. Setor Cães.
— Nicolai, setor Félix — me apresentei, tentando esconder minha apreensão.
— Nunca vi tantos sentinelas na minha vida. Até parece que somos famosos — disse Ethan, rindo nervosamente enquanto os guardas nos conduziam para algum lugar desconhecido.
— Aposto que a maioria está nos xingando de alguma coisa — comentei, tentando aliviar a tensão no ar.
Foi então que ouvimos uma voz alta atrás de nós. Uma garota parda de cabelo cacheado estava discutindo com um dos sentinelas.
— Ai! Não precisa ficar me empurrando! Eu não sou nenhum animal, tá bom? — reclamou ela, acelerando o passo até se juntar a nós. — Eu hein! Quem esses caras pensam que são para nos tratar assim? Como se fôssemos diferentes deles! Um bando de ignorantes!
Soltei uma gargalhada ao ver a irritação dela; sua atitude era refrescante em meio àquela tensão toda. Ela devia ter mais ou menos um metro e sessenta e estava vestida com um short e uma camisa larga.
— A propósito, sou Atria. Setor Corvo — apresentou-se com um brilho rebelde nos olhos.
— Ethan, setor Cães — disse o garoto ao meu lado, apontando para mim como se estivesse apresentando um amigo famoso. — Esse é Nicolai, setor Félix.
— É um prazer conhecê-la, Atria — respondi com um sorriso amistoso.
Ela me analisou por um momento e soltou uma risada curta:
— Você tem cara de quem apronta horrores. Para onde será que esses brutamontes estão nos levando? Estou torcendo para que essa coisa de seleção não seja fachada... Vai saber se querem nos levar direto pra morte! Não é por nada não, mas se for o caso eu pego uma dessas armas bizarras deles e me suicido! Melhor morrer pelas minhas próprias mãos do que pelas deles!
Ela continuou falando enquanto caminhávamos até um local iluminado por luzes frias. Finalmente chegamos a um ponto onde uma limousine preta aguardava ao lado da plataforma. O motorista estava parado como uma estátua ao lado da porta do condutor.
— Entrem — disse ele, colocando a digital em um controle na porta do passageiro. O controle piscou em azul e a porta se abriu sozinha com um suave "clique".
Uma garota branca de cabelo curto foi a primeira a entrar na limusine. Logo atrás dela veio um garoto pardo de cabelo liso. Atria hesitou por um instante, olhando desconfiada para os guardas ao redor, mas logo decidiu entrar também.
Então foi nossa vez: eu e Ethan trocamos olhares cúmplices antes de entrar na limousine junto com uma garota loira e magrinha que havia ficado na fila atrás de nós.
Assim estávamos: seis adolescentes — três garotos e três garotas.
Diferente de mim, Ethan e Atria, os outros não pareciam muito dispostos a se apresentar. A menina loira, com um gesto rápido, pegou um boné e o colocou sobre o rosto, como se quisesse bloquear o mundo ao seu redor e dormir. O menino desconhecido, por sua vez, começou a explorar os lanches que estavam espalhados pela limousine, enquanto a garota de cabelo curto parecia cada vez mais desconfortável, mexendo-se na poltrona como se quisesse desaparecer.
— Ei! — Atria exclamou, quebrando o silêncio. — O que você está achando desse passeio?
A garota de cabelo curto apenas olhou para Atria por um breve momento antes de desviar o olhar, ignorando-a completamente. Atria bufou e cruzou os braços, uma expressão de frustração estampada em seu rosto.
— Parece que você não é muito sociável, hein? — ela murmurou para si mesma, mas ainda assim continuou tentando puxar conversa.
Enquanto isso, eu me limitei a observar a cena e peguei algo que parecia um morango. Nunca tinha visto aquela fruta antes; as terras do setor Fênix não eram exatamente férteis. A maioria das verduras e frutas que tentávamos cultivar acabava morrendo antes mesmo de amadurecer.
Assim que levei a fruta à boca, fiz uma careta ao sentir o gosto azedo invadindo meu paladar. Mas não queria desperdiçar comida. Então, com um esforço considerável, forcei-me a mastigar e engolir.
O carro deu partida repentinamente, e cintos automáticos se ajustaram em nossos corpos. Olhei pela janela e percebi que estávamos saindo de um lugar fechado para um ambiente mais aberto. A luz do sol entrou pela janela com força total, fazendo-me piscar várias vezes. Mas antes que pudesse realmente apreciar a vista lá fora, os vidros escureceram como se tivessem vida própria.
— Estou começando a achar que Atria está certa sobre esse negócio de nos levar para a morte — murmurou Ethan com uma expressão preocupada.
— Ah, maravilha! Eu estava torcendo para sairmos de uma morte certeira para outra — brinquei, mesmo sabendo que aquele não era exatamente o melhor momento para piadas.
Quando o carro finalmente estacionou, fui o primeiro a descer. O ar fresco me atingiu como um soco no estômago. Assim que os outros saíram atrás de mim, uma mulher com cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo se aproximou. Ela usava um vestido preto elegante; as mangas eram longas e tinham os mesmos detalhes do cara de smoking que eu havia visto antes.
Ela sorriu gentilmente, mas havia algo macabro em seu sorriso que me fez arrepiar e franzir a testa.
— Olá, crianças! Eu sou Evelyn 289 — disse ela com uma voz suave e melodiosa — Fui programada para apresentar a cidade para vocês.
Então me dei conta: essa tal de Evelyn não era humana; era algum tipo de dispositivo tecnológico.
— Sejam bem-vindos à Capital! — concluiu ela com um brilho artificial nos olhos.
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MOVING FORWARD - Welcome to the Capital
Teen Fiction𝗔𝗢 𝗔𝗩𝗔𝗡𝗖̧𝗢 - 𝗕𝗘𝗠 𝗩𝗜𝗡𝗗𝗢 𝗔 𝗖𝗔𝗣𝗜𝗧𝗔𝗟 | Séculos se passaram desde o desfecho da terceira guerra mundial, e o mundo, embora devastado, encontrou uma forma de se reerguer. A nova sociedade que emergiu era marcada por um capitalismo...