O Passado Imutável

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Alcina desce até a sala de jantar onde as filhas já a esperam - mas todas lhe fazem o tratamento do silêncio. Isso não era novidade, já que isso vem acontecendo há mais de uma semana. Desde que Alcina tentou matar você, as filhas dela se recusaram a falar com ela. Eles ainda dividiriam as refeições e tal, mas nesse ritmo, a mulher poderia muito bem estar comendo sozinha.

Daniela havia escutado a conversa de Alcina com Donna por telefone. Quando ela soube que você havia morrido, ela imediatamente contou a notícia às irmãs assim que o telefonema terminou. Suas irmãs mais velhas não acreditaram na notícia nem por um segundo. Cassandra fez questão de tratar seus ferimentos - mesmo quando ela estava trazendo você de volta para casa. Todos sentiram uma tempestade se aproximando e sabiam que não demoraria muito para que ela acontecesse.

Mas dizer que estavam preparados era mentira. Nada poderia tê-los preparado para o que está prestes a acontecer.

“Vocês três pescaram muito esta noite. Bom trabalho”, Alcina elogia as filhas, mas elas nem pestanejam. A mulher suspira, ficando cada vez mais frustrada com a falta de reconhecimento. "O que será necessário para fazer você falar? Devo ficar de joelhos e implorar?" Ela pergunta, mas era uma piada. Nem mesmo em seus sonhos ela se curvará diante de outra pessoa.

"Quando você receber sua punição", responde Cassandra, sem desviar o olhar do prato. Alcina é pega de surpresa pela fala da filha, mas mesmo assim não a leva a sério.

"Punição? De quem? Ninguém ousará invadir meu castelo alegando vingança. Nem mesmo Donna - ela tem vontade muito fraca para agir violentamente." As irmãs riem juntas, fazendo a mãe arquear uma sobrancelha. "O que há de tão divertido?" Todos ficam em silêncio, continuando a comer em silêncio.

Alcina volta a suspirar, cansada desse jogo de gato e rato. Ela odiava ser o gato, preferindo ser o rato escorregadio que escapava impune de tudo.

"Muito bem", ela diz antes de se levantar e empurrar a cadeira ruidosamente, deixando sua irritação óbvia. "Aproveite sua refeição. Tenho certeza que você vai gostar sem que minha presença prejudique sua fala." Sua taça de vinho foi deixada na mesa, pela metade.

As criadas ficaram fora do caminho da proprietária enquanto ela andava furiosamente pelo castelo - sem saber o que fazer. Ela finalmente se retira para seu quarto - não aquele com a janela quebrada, mas aquele extra com muitas estantes. Este quarto também tinha uma cama, mas era muito menor e menos usada. A lareira crepitava quando ela se acomodou na cadeira grande depois de ler um livro. As palavras na página não lhe passaram pela cabeça enquanto ela olhava para o livro aberto. Ela se viu incapaz de se concentrar, sentindo uma estranha sensação de pânico e medo.

Foi uma sensação que ela só teve uma vez. A cena se repete em sua mente enquanto seus olhos olham fixamente para baixo.

~~~

*Flashback*

"FUGA DA OPAL!!!" Donna grita. Alcina se virou e viu sua irmã mais nova - aquela que não havia falado com ela até então - flutuando no chão. A mão do fabricante de bonecas se levanta, fazendo tremer o chão sob os pés de Alcina.

Mesmo com instintos treinados, Alcina mal conseguia perceber o perigo que corria. Seus olhos captaram raízes crescendo no chão pouco antes de ela se esquivar delas, mas não sem ser arranhada por seus espinhos. A dor que passou por Alcina fez com que ela entrasse em estado de choque ao cair de costas.

Como isso foi possível? Ela pensou que seu corpo havia se tornado resistente a feridas e dor, mas aqui estava ela, mordendo a língua para conter o grito de dor que queria desesperadamente deixar escapar. Ela não conseguia nem olhar para o ferimento sem sentir seus efeitos se multiplicarem.

The Illusionist And The DragonOnde histórias criam vida. Descubra agora