Do Amor ao Ódio

9 1 0
                                    

Há outras cartas entre Louise e Frederico que gostaria de compartilhar com vocês; cartas extremamente melódicas e românticas. No entanto, há muito a ser narrado, e vou adiantar alguns acontecimentos. Após o jantar, Frederico fez o pedido de casamento a Louise, que prontamente aceitou. Toda a família comemorou a ocasião durante a sobremesa e nos dias seguintes. Seguindo as páginas do diário da minha avó, aquele inverno foi verdadeiramente encantador. Eles exploraram algumas cidades do sul do país, passaram alguns dias no Rio de Janeiro e, por fim, Frederico levou Louise e Herminia de volta a Salvador.

Conforme o diário prossegue, a segunda semana de agosto marcaria o início do segundo semestre em CasteloBruxo, e os enamorados relutavam em se separar novamente. Louise retornaria à França, enquanto Frederico e Hermínia voltariam à escola para concluir o último ano. No diário de Louise, ela descreve a tristeza de sua partida para a França, descrevendo como tudo parecia sem cor, cinza e frio. Ela sonhava repetidamente com a casa que Frederico prometera à noiva e com a vida que levaria no Brasil. Algumas noites eram assombradas por pesadelos, nos quais imaginava Frederico ao lado de outra pessoa, e durante estas noites ela acordava passando muito mal, com muitas náuseas e dores estranhas.

Apesar da distância, os dois continuaram a trocar cartas quase diariamente, enviando presentes. Louise, com sua disponibilidade, confeccionava manualmente seus presentes, o que enchia o coração de Frederico de felicidade, pois continham uma parte da essência de Louise, sem magia, mas apenas sua própria autenticidade. Passado um mês, Louise se sentia incomodada, e Rose percebendo aquele comportamento chamou Jeanne que além de Cartomante entendia de muitas coisas, e fazia ótimos remédios com ervas. Quando Jeanne chegou nas colinas antes mesmo de Rose recebê-la a velha bruxa entrou na casa aos berros de felicidade dizendo "Rose que felicidade, esta casa logo terá crianças correndo entre os corredores!", era o que Rose estava esperando que Jeanne dissesse, Louise estava grávida de gêmeos.

Todas as bruxas da Família Gautier estavam em festa, embora Rose tenha demonstrado sua irritação ao descobrir a notícia. No entanto, passaram muito tempo juntas, discutindo os planos e detalhes. Louise compartilhou tudo sobre seu noivado com Frederico, mas Rose não conseguia esquecer as palavras premonitórias de Jeanne, que afirmava que Louise nunca seria feliz no amor.

A previsão apontava que minha mãe, Caroline, e meu tio, Armand, nasceriam entre o final de março e o início de abril de 1946. Esses nomes foram escolhidos em homenagem a um romance bruxo do século XVIII, escrito por Leonard Rousseau, que narrava a proibição do amor entre dois amantes de clãs diferentes.

Louise, por sua vez, começava a elaborar um plano para comunicar a Frederico sobre sua gravidez. Embora quisesse evitar que ele se preocupasse com os exames finais das especializações do último ano, estava decidida a compartilhar a notícia com os pais dele e sua melhor amiga Hermínia. Tinha a certeza de que os pais de Frederico ficariam radiantes com a novidade, e a amiga Hermínia, ao receber a notícia, viria correndo para Paris. Louise redigiu uma carta, informando sobre a gravidez e convidando todos para visitarem a França assim que Frederico e Hermínia concluíssem seus estudos no início de dezembro. O convite era para passarem a temporada de Natal e Ano Novo na Europa, e ela enviou sua coruja em direção ao Brasil para entregar a mensagem.

No dia anterior um corvo entrou correndo pela sala de estar deixando um envelope grosso e verde cair no colo de Louise enquanto está bordava um lindo quadro da vista das colinas para enviar de presente para Frederico, e esse recado fez com que tudo virasse de cabeça para baixo. Ao abrir o envelope, viu uma fotografia de Frederique com roupas de quadribol beijando uma garota muito bonita com o uniforme de CasteloBruxo e na mesma fotografia viu sua amiga Hermínia olhando para o casal rindo e aplaudindo em meio a uma multidão alvoroçada soltando confetes e festejando com cerveja amanteigadas o que parecia ser um final de um campeonato.

No verso da fotografia, encontrava-se um autógrafo de Frederico, indicando que ele já tinha visto a imagem. Ao lado, um bilhete revelava uma caligrafia bastante familiar, e suas palavras eram diretas: "Não entendo por que persiste em sabotar a felicidade de meu irmão. Ao observar esta foto, espero que perceba a alegria que ele compartilha com minha amiga Solenia Vargas. Estão namorando desde a sua partida, e até sua amiga Hermínia apoia essa relação. Por favor, pare de inventar mentiras sobre uma gravidez inexistente. Consegui interceptar sua carta e não permitirei que ninguém caia em suas artimanhas de veela. Adeus!"

Ao concluir a leitura da carta e observar a fotografia, o corvo que repousava sobre a lareira fez um ruído estridente e voou pela janela, como se estivesse aguardando que Louise testemunhasse toda a revelação para, em seguida, retornar ao remetente. Mais tarde, Rose encontrou Louise no chão, chorando e gritando de dor aos pés da lareira. O ambiente nas colinas adquiriu um tom fúnebre e permaneceu assim até o Natal. Esta foi uma das últimas anotações em seu diário:

Colinas Gautier, 25 de Dezembro de 1946.

Querido Diário,

A dor e ódio que me consomem é avassaladora, mais intensa do que qualquer maldição imperdoável. Parece que a cada duas horas, um Avada Kedavra é lançado em meu corpo. Apesar desse sentimento implacável, sinto a necessidade de manter minha força, pois devo cuidar do meu bem mais precioso, Caroline e Armand. Educarei meus filhos da melhor forma possível, determinada a não permitir que caiam nas armadilhas da paixão ou das amizades falsas.

Lancei diversos feitiços de proteção ao redor da propriedade Gautier, assegurando que nem Frederico, nem Herminia, consigam localizar minha família ou se aproximarem da minha propriedade. Mesmo que tentem, serão desviados ou enlouquecerão enquanto vagueiam pelas redondezas de Paris. Nem mesmo suas corujas serão capazes de me encontrar. A partir de hoje, vou entrar em um luto eterno, como se Frederico tivesse falecido, e meus filhos jamais saberão o verdadeiro motivo da sua atribuída morte.

Com pesar,

Louise Gautier.

Foram tempos difíceis e sombrios durante a gravidez de Louise. A irmã mais doce se transformou em uma figura amarga e fria, não encontrando felicidade sequer na expectativa dos gêmeos que carregava. Louise mal se alimentava, e apesar dos esforços de Rose e das outras irmãs para animá-la, ela havia perdido completamente seu brilho. Em 15 de abril de 1947, Louise deu à luz aos gêmeos Caroline e Armand.

A tristeza de Louise aprofundou-se ainda mais quando Clemence engravidou alguns meses depois e se casou com o Lorde Inglês em 15 de dezembro de 1947, causando a morte de Rose Gilmore. Isso resultou em uma longa e amarga disputa entre as irmãs pela herança, levando ao afastamento de todas, exceto Louise e Madeline, que permaneceram nas colinas Gautier.

Louise não sobreviveu por muitos anos após esses eventos. Incapaz de superar sua condição incurável, há rumores de que ela mesma se amaldiçoou. Em fevereiro de 1955, Louise faleceu nas Colinas Gautier, deixando seus filhos, com apenas oito anos na época, aos cuidados de Madeline. É neste ponto que a história de minha mãe, Caroline, começa. Em meio à tristeza, as crianças encontraram força em suas próprias companhias. Madeline, embora não fosse a melhor figura materna, garantiu que nada faltasse aos pequenos e cuidou deles de maneira indireta até os últimos anos em Beauxbatons

As Bruxas VeelasOnde histórias criam vida. Descubra agora