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Você não se lembrava exatamente como era ter um pai ou uma mãe. Você não lembra mais como era receber um abraço ou brincar com os brinquedos que sempre sonhou.
Sua infância foi feita de testes e pessoas más da base da Hydra que puniam você por cada passo errado.
Essas pessoas apareceram em todos os seus pesadelos hoje em dia e tudo parecia tão real.
Mas você ainda se lembra exatamente do dia em que os tiros foram altos o suficiente para fazer seus ouvidos doerem e como a ruiva foi a primeira a encontrá-lo em sua cela com as mãos na cabeça tentando abafar os sons.
Você se lembra de como ela se abaixou ao seu lado e fez você se acalmar. Como o toque dela fez você se sentir amado novamente, como as palavras doces dela fizeram você se agarrar a ela e não querer mais soltá-la. Wanda Maximoff segurou sua mão com força até que você finalmente chegou ao Complexo dos Vingadores. Demorou um pouco para você se acostumar com as pessoas daquele lugar, suas risadas, suas roupas, suas vozes. Tudo foi muito estranho para você. Mas com Wanda foi diferente.
Ela foi a única que você deixou pentear seu cabelo, te colocar debaixo das cobertas e até a única que você deixou chegar perto de você. Era óbvio que isso mudou com o tempo, mas essa ligação com Wanda era maior do que qualquer outra naquele Complexo.
Maximoff ajudou você a se recuperar e aprender a ser uma pessoa normal e adolescente novamente. Mas mesmo assim, alguns hábitos não mudariam. Uma vez na base da Hydra, você ficou mais de cinco dias sem comer, não porque quisesse, mas porque cometeu algum pequeno erro e eles pensaram que a única coisa a fazer era puni-lo.
Você se lembra de como seu corpo ficou muito magra sua pele ficou mais pálida que o normal e seus cabelos caíram no chão da cela fria e suja em que você estava. E foi isso que você fez esses dias para se punir.
Quando você começou a frequentar a escola (sendo forçada pelos Vingadores), essas autopunições se tornaram ainda mais frequentes. Você viu como aquelas garotas de saia curta e braços abertos eram totalmente diferentes de você, você pensou. Eles eram magras, muito magras. E você... é você.
As coisas pioraram ainda mais quando essas mesmas pessoas falaram de você, de como seu corpo não era igual ao deles. Então, você acha que o problema é você. Os castigos da sua infância, todo o bullying que você sofreu e como você pensava sobre si mesmo se uniram em uma só coisa, uma grande bola de neve que foi jogada em você e te fez sufocar até ficar sem ar.
Você se sentiu assim naquele momento debaixo dos cobertores, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar, o rosto seco de tanto chorar. Eram apenas seis da tarde naquele dia e seus pensamentos não pararam um só segundo, sobre como você merecia sofrer e morrer de fome, como você nem merecia estar vivo. A maior parte dos seus dias foram assim. Você pulou o café da manhã com a desculpa de estar atrasado para a escola, pulou o almoço dizendo que já tinha comido na escola, pulou o jantar fingindo que estava dormindo quando Wanda bateu na porta do seu quarto.
