Sangue temperado

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O portão se fechava atrás da família 9. AJ ainda ofegava por conta do susto que havia levado do ataque que sofrera da besta alienígena, com Lane ainda se perguntando o porque daquela fala da Misteriosa. Uma grande floresta se estendia nas costas dos integrantes, numa escuridão impossível de penetrar com os olhos. Uma luz forte se acendeu no centro da abóboda que os rodeava e o uma voz podia ser ouvida claramente por todos.

- Parabéns para os que sobreviveram ao primeiro ataque! As nossas mascotes famintas foram saciadas com o sacrifício involuntário de alguns participantes. Mas isso não é questão para ser discutida agora. A primeira fase do teste está começando nesse exato momento. Será uma fase bem competitiva, onde os integrantes de cada família vão disputar pelo prêmio final. Será uma prova de mata-mata. Literalmente! Neste exato momento temos 55 participantes dentro dessa arena que simula uma floresta de clima temperado. Somente 32 dos 55 poderam avançar para a próxima fase. Qualquer meio poderá ser utilizado para avançar de fase. Suprimentos iniciais serão entregados a vocês assim que o primeiro sino tocar. Boa sorte, meus caros colegas de espécie!

Essa fala da Misteriosa espantou Sigrid mais que todos envolta. AJ exibia um sorriso fraco, devido ao trauma do ataque da fera.

-Será que eu realmente vou ter que matar alguém nessa brincadeira aqui? – No instante em que Brenuin concluiu seu pensamento, uma caixa foi largada no chão ao lado da Família 9. Eagle-Shot fez questão de ser o primeiro a abrir. Contido na caixa estavam várias armas de fogo, armas brancas e suprimentos médicos. Eagle-Shot pegou um rifle M4-41 sem pensar duas vezes, e uma faca de exército, deixando livre a escolha das próximas armas. AJ rapidamente estendeu sua mão para alcançar uma SPAS-12 que estava mais para o canto da caixa, deixando somente armas brancas para serem pegas pelos demais integrantes.

-Detesto dizer isso, mas eu acho que nesse ponto o AJ tem razão. Ele e o Eagle-Shot parecem ter mais experiência com esse tipo de "artefato". – Disse Lane, estendendo seu braço para pegar uma katana da caixa. Calmamente e sem dizer nada, Sigrid recolheu um kit médico que estava à disposição da Família. Restando somente um machado para Brenuin.

Eagle- Shot, vendo que todos já havia arranjado modos de se defender, decidiu organizar a família:

-Prestem atenção no que eu vou dizer agora, pois cada integrante do nosso grupo dependerá do próximo para continuar vivo. Faremos o seguinte: montaremos uma formação losangular, com o AJ na frente, Lane do lado esquerdo, o magrelão pelo lado direito e eu atrás, com a mocinha aqui no centro. Entenderam?

Todos fizeram que sim e começaram a avançar mata adentro. Vários ruídos já podiam ser ouvidos, mas não era poossível distinguir se eram ruídos de animais ou de humanos, e isso assustava um pouco a Brenuin, que corria os olhos por todo o arredor da floresta.

Lane havia percebido que a redoma se baseava numa grande árvore centralizada, com várias árvores menoresao redor e um pequeno lago à oeste da sua posição atual. Deduzira então que todos os suprimentos restantes deveriam estar concentrados ao redor da grande árvore. Retirou o seu caderno de anotações e rapidamente começou a desenhar um mapa aproximado do que ele achava mais importante. Pediu aos demais integrantes para fazerem uma pausa para poder explicar-los tudo o que havia observado.

-Grande trabalho, professor, mas antes de você começar a nos clarear a mente, devemos nos estabelecer primeiro. Como você já pode ver, a luz central está se apagando. – Disse Eagle-Shot.

-Está anoitecendo, é melhor arranjarmos abrigo rápido. – Sussurrou baxinho a pequena camponesa celta, que sem que os seus companheiros notassem, já havia recolhido alguma lenha para começar uma pequena fogueira. Brenuin somente assentiu que sim, e parecia que o seu medo era diretamente proporcional à escuridão.

AJ apontou para um local que acreditava ser interessante para a montagem do abrigo. Lane e Eagle-Shot se entreolharam e, cada um vendo que o outro não apresentava nenhuma objeção, começaram a montar o abrigo.

-Nossos antigos ancestrais na escócia costumavam montar abrigos em forma de cone, com madeira fresca.

-A mocinha manja das paradas hein? Monta aí pra nós então ué! – Disse AJ, tentando disfarçar o medo que a escuridão o causava.

-Acende a fogueira para mim então, por favor. – Disse Sigrid estendendo a lenha na direção de AJ, que se virou de costas e saiu andando como quem não houvesse escutado nada. Brenuin prontamente se dispôs a tentar acender a fogueira.

-Essa seiva aqui pega fogo facinho. Um foguinho que você conseguir já vai ser o bastante para acender a fogueira. É só você esfregar esses galhos um no outro até conseguir calor suficiente pra o fogo pegar,tá bem? – Demostrava Sigrid à Brenuin como acender uma fogueira.

Assim que Brenuin deteve os dois galhos na mão, Sigrid saiu as pressas para montar o abrigo, mantida sobre a vigilância constante de Eagle-Shot e a nem tão constante de AJ.

Terminado o abrigo, Lane reuniu seus companheiros e começou a explicar aqueles rabiscos intraduzíveis em seu cadeno.

-De acordo com as minhas deduções, os mantimentos devem estar concentrados nessa árvore central, em sua maioria. Então a maioria dos grupos deve estar concentrada nessa região, e é por isso que devemos evitá-la. Amanhã, o melhor a se fazer é ir em direção ao lago e lá esperar que as outras famílias se destruam. – Sempre que Lane terminava uma frase, Eagle-Shot assentia que sim com a cabeça e concordava com os dizeres de Lane.

-Não é por nada não manos, mas deve ter um ano que eu não mijo. Vou ali tirar uma água do joelho.

E assim, AJ se levantou e se dirigiu à um arbusto distante, mas que ainda era possível ouvir o barulho do xixi na folhagem seca.

Lane continua a sua explicação da estratégia. Todos concordam que esperar no lago é a melhor coisa a se fazer. Eagle-Shot distribui as latinhas de sardinha que haviam coletado da caixa inicial igualmente, uma unidade pra cada pessoa.

-Sobrou um.

-Não sobrou não, essa aí é do...

-AJ! – Gritou Sigrid antes que Brenuin pudesse completar sua fala. Lane correu em disparada na direção de onde os barulhos do xixi foram ouvidos pela última vez. Pouco tempo depois, retornam os dois do mato denso.

-Sabe como é né, tem que bater um barro também. Tô dois quilos mais leve. Credo.

Escutando essa fala de AJ, Sigrid fez uma cara de quem via um rato morto deitado num monte de fezes de bode.

Todos foram dormir. Brenuin e seu medo da morte resistiam ao sono, o que lhe acarretou vários pensamentos ruins. Depois de uma hora, e de ter apagado o fogo, Brenuin caiu em sono.

A luz do sol batendo em seu rosto havia despertado Lane. Um clima agradável ia se formando, excluindo a nuvem de mosquitos que havia se formado sobre sua cabeça. À medida que todos ia acordando, sentaram-se ao pé da fogueira apagada e se reuiniram.

-Aquele moleque do AJ ainda não levantou! Vou quebrar a cara desse malandro! – Disse Eagle-Shot. Ele se distanciou um pouco para ir de volta ao abrigo para despertar AJ,deixando o resto da equipe perto da fogueira.

Nenhuma conversa se desenvolvia entre os participantes. Se encaravam sem nenhuma expressão facial até que Brenuin arregalou os olhos e esticou o corpo. Todos haviam escutado um ruído que vinha de trás de uma moita. O som ia ficando cada vez mais alto e o espanto dos integrantes também, até que surge um pequeno esquilo de trás de um arbusto de amoras silvestres. Lane deu uma risada e rapidamente acertou um golpe de katana no animal, que nem deu seus último suspiro.

Eis que volta Eagle-Shot, com uma expressão assustada e pálida.

-O que rolou, companheiro?

- O AJ... ele sumiu!


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⏰ Última atualização: Jul 08, 2015 ⏰

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