Minha mãe sempre disse que comecei minha vida sendo um ser humaninho difícil. Nasci pequena e de oito meses, dando um trabalho descomunal para os médicos e para o pobre do corpo da minha mãe. Essa gravidez foi decisiva para que meus pais não quisessem ter mais filhos.
Meu pai sempre foi um homem muito informado sobre culturas. Os amigos dele, diziam que para um argentino do interior, ele era culto. Federico Vargas nasceu em Buenos Aires, mas foi criado no interior no meio do país com seus oito irmãos. Talvez seja por isso que ele tenha fugido de lá e ter tentado a vida em Montevidéu.
Onde conheceu minha mãe.
Cayetana Di Sali.
Quando tinham 30 (meu pai) e 25 (minha mãe) ambos se conheceram no enterro do primo da minha mãe, que era amigo do meu pai. Ninguém nunca soube ao certo do que Juan havia morrido. Alguns diziam que era drogado, outros diziam que a família tinha problemas de coração e fofoqueiros cruéis, diziam que ele havia se matado.
Provavelmente, aquele era o momento mais inconveniente para se apaixonarem na vida de ambos. Mas aconteceu.
Coisas inesperadas acontecem em lugares inesperados.
Demorou um ano para que os dois se casassem e nunca mais se separassem um do outro.
E então, nasci. Com todas aquelas dificuldades do parto e etc.
Minha vida até o fim da minha mocidade de adolescente foi tranquila. Queria ser bióloga, me tornei atendente de voo, mais comumente chamada "Aeromoça". Não que não fosse meu sonho ganhar dinheiro para viajar. Mas eu queria ir para lugares além de Montevidéu - Buenos Aires. Queria conhecer o mundo e viver longe da pequena capital do Uruguai.
Queria ascender na minha carreira, ganhar um bom dinheiro e morar no exterior. Fosse Brasil ou Chile, mas queria sair das asas dos meus pais.
- Pegou tudo, Aru? - Eu, meu pai e minha mãe estavamos no carro. Ela olhou para trás, no banco do carona. Eu estava desajeitada no banco - Levou seus casacos? Comida pro vôo? Dinheiro?
Sua preocupação me fez rir e soltar algumas lágrimas.
Eu finalmente ia conseguir entrar pra a melhor companhia da América Latina e minha mãe preocupada com a minha pequena mudança.
- Toma cuidado, Aruna - Meu pai tirou o seu Rayban aviador e olhou para mim. Havia algo diferente em seu olhar. Ele estava mais terno e receoso.
Ele saiu do carro suspirando pesadamente
- Já são 10:00, o embarque é às 10:30, certo?
Assenti, saindo do carro. Meu pai começou a tirar as minhas malas do porta-malas. Minha mãe me abraçou de lado.
- Modos lá, mocinha - sussurrou - Dizem que os moços chilenos são mais bonitos do que os daqui.
- O sotaque deles é bonitinho - dei uma risadinha - Não se preocupe, mãe. A partir de segunda-feira não vou ter o mesmo tempo de barzinho que tinha aqui em Monte.
Minha mãe me olhou de forma suspeita
- Sei.
Seu Federico colocou as malas perto de nós. Eu e minha mãe colocamos no carrinho de bagagens enquanto ele fechava o Fusca amarelo 64. Caminhamos em silêncio para dentro do aeroporto. Antes de ir para a sala de embarque, meu pai rompeu o silêncio.
- Aruna... - Meu pai pegou minha mão - Filha...
O olhei preocupada.
- Eu queria dar algo pra você viajar. Quando voltar pra Montevidéu você me devolve - Ele tirou seu escapulário e colocou em volta do meu pescoço. Olhei em seus olhos castanhos, sentindo os meus se encharcarem.
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82 DIAS ★ Ficção Histórica
HistoryczneCresci em um bairro classe média alta em Montevidéu, a Capital do Uruguai. Minha família sempre foi a mais apoiadora possível quando o assunto eram os meus sonhos. Então os persegui com unhas e dentes. Com 23 anos, finalmente tive uma promoção irrec...