Dou um passo atrás, incrédula com a sugestão. Não é que o pensamento dele, por cima de mim, não me tenha vindo à cabeça, mas ainda assim é tão frontal que me deixa mais chateado, que propriamente com vontade.
-Tu tens-te em muito boa conta. – Admoesto.
-Ou tenho-te a ti em boa conta.
Harry dá mais um passo na minha direção, um sorriso matreiro aflora-lhe nos lábios.
-És diferente, sabes?
-Não, não sou. Sou igual a todas as outras raparigas com quem já estiveste. Se calhar, pior.
Ele coça a sobrancelha, talvez à procura de outra saída para a nossa conversa.
-É difícil contigo. Não partes.
-Não?
Ele olha-me de cima abaixo, como se estivesse a tentar decidir o que fazer, e num instante os dedos frios dele envolvem-me metade do pescoço e os lábios dele estão encostados aos meus. É um segundo, mas é tudo o que basta para o meu estômago cair em queda livre e a minha cabeça ficar enovoada. Ele avança para cima de mim, fazendo-me caminha para trás, até ficar encostada a um porte de luz. Sinto a minha boca abrir-se para o acomodar e quero parar, quero muito, mas quando dou por mim tenho os dedos no cabelo dele e tenho a certeza de que solto um gemido quando o sinto apertar-me mais contra ele. Só quero que ele se derreta contra mim, quero que a língua dele lute contra a minha até ficar sem força nas pernas.
-Não partes. - Diz ele, quando se afasta só o suficiente para me lamber o lábio inferior.- Mas dobras.
Faço força nos dedos, puxando-lhe ligeiramente o cabelo.
-Eu não sou dessas. Podia ser, mas não é a minha cena.
-Tens medo?
-De?
Sorrio e empurro-o. Ele ri-se para o céu e passa a mão pelo cabelo, vejo a língua dele passar-lhe pelos lábios.
-De ti. Tens medo de ti.
Dou-lhe um empurrão simpático no ombro.
-Não me conheces assim tão bem para dizer isso. E para além do mais, nós temos um acordo, lembraste?
O sorriso do Harry desaparece e ele enfia as mãos nos bolsos.
-É uma pena que tenha sido isso a juntar-nos.
-Estás a tentar voltar atrás?
-Eu? Não.
O telemóvel dele toca e sou subitamente passada para segundo plano. Os olhos dele dardejam para o ecrã e ele rejeita a chamada, antes de me sorrir de forma falsa.
-Tenho de ir. Como sempre, foi um prazer ver-te.
Se havia desejo ou interesse, o fogo foi extinto por quem quer que lhe tenha ligado.
-É uma luta?- Pergunto de chofre.
-É só para isso que eu sirvo, não é, Cam? Um leão de jaula?
A resposta é um pontapé no estômago, e eu engulo em seco. Como é que ele pode ir de quente a gelado em questão de segundos?
-Disseste que não ias voltar atrás.
-Pois disse. Mas não. Não é nenhuma luta. Fica descansada, eu aviso-te.
Assinto e num gesto protetor, cruzo os braços sobre o corpo.
-Precisas que te leve a casa?- Ele pergunta-me, mas não olha para mim, distraindo-se a refazer o laço dos ténis.
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Hurting You
عاطفيةCamelia cresceu no centro de uma poderosa família de médicos em Seattle. Quando desafia o pai e escolhe formar-se em jornalismo, é subitamente cuspida para o mundo real, onde se cruza com Harry, o violento e obstinado lutador de boxe da sua faculdad...