CRÔNICAS DE EMULHALAN: O Mago e o fio do Destino

Prólogo - O Conto do Anjo da Morte Parte 2

Sinto que esse é o momento onde os humanos ririam, mas eu não senti nada com essa revelação inesperada.

Apesar de ser incomum encontrar pessoas que podiam ver os seres espirituais, isso acaba acontecendo uma quantidade bem grande de vezes quando você não está preso aos limites do Tempo e do Universo.

Mas foi esse garoto que me fez receber uma missão rara e única até mesmo pra mim, mas essa foi apenas a primeira vez que nos vimos.

Passados alguns anos para os mortais eu retornei para aquele planeta tingido de vermelho ferrugem, as bombas, as guerras e a própria taxa de suicídio nesse lugar eram tão altas que nós anjos da Morte raramente encontrávamos as pessoas que deveríamos matar, visto que quase todas elas acabavam morrendo antes do seu destino determinado.

Eu até mesmo cheguei a pensar que aconteceria o mesmo com os filhos de Antônio, mas até mesmo eu fiquei surpreso com o que aconteceu anos depois, quando Lucano tinha quatorze anos.

Lucano e Sara, dois irmãos inseparáveis, estavam bem aqui, sobreviventes da bomba, da guerra e dos próprios sobreviventes desse universo, embora o mesmo não possa ser dito da mãe deles.

A senhora Minerva já não se encontrava aqui, não sei como aquela enfermeira de coração puro morreu e sinceramente.

Não me interessa.

E assim como o seu pai, hoje eu levaria a vida de Lucano.

Ele estava bem diferente de quando eu o encontrei pela primeira vez, do alto do céu eu pude ver como aquele garoto esquelético colocava sua irmã pra dormir.

Um pneu era o travesseiro dela e o chão queimado era sua cama, sem direito a um cobertor a menina de onze anos tinha que suportar o frio congelante da noite.

Seu irmão por outro lado não deixava de olhar em minha direção, nunca soube como ele podia ver e sinceramente não me importava, mas o que realmente me surpreendia era o pedaço de madeira que ele usava.

Nada que realmente fosse uma ameaça para mim, mas se eu estava entendendo as coisas corretamente (e eu nunca errei antes), aquele garoto raquítico estava me desafiando para uma luta.

Nunca entendi esses desejos dos humanos de lutarem, mas compreendo as regras do duelo e nunca me neguei a realizar um.

Conforme eu descia ao chão minhas asas se recolheram graciosamente como um pavão recolhe sua plumagem.

Olhei rapidamente para Lucano, o garoto suava sangue de tanto medo em seus olhos, uma recepção muito mais humana que a de seu pai, ver a morte diante de seus olhos e tremer de medo, essa é a reação comum de um homem.

-Você não tem chances de me vencer Luciano, filho de Antônio, filho de Anastasia, filha de Ivan.

-Eu sei quem você é! O garoto gritou, com todas as suas forças e pulou em cima de mim, ou ao menos era isso que ele desejava fazer.
Aquele corpo raquítico não tinha forças para manobras que exigiam um corpo tão bem trabalhado.

-Aceite sua morte e se poupe dessa vergonha Lucano, filho de Antônio, mesmo que sua existência tivesse sido criada com a força de cem dragões, ainda assim para mim você não seria diferente de uma formiga olhando para o Universo.

-Eu não vou desistir da minha vida! O garoto gritou arremessando a madeira que ele usava como Lança em minha direção, mas ela nem chegou a alcançar o meu pé.

-Como pode ver Lucano, você não tem forças para duelar comigo, aceite que é sua hora de ir embora, não há nada que você possa fazer para evitar isso.

-Não...
Lucano murmurou, se aproximando da irmã quase sem forças.
Se eu morrer ela vai ficar sozinha.

-Não é seu destino andar ao lado de sua irmã daqui para frente.