Prólogo

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Nesse sábado acordei tarde. Era a minha folga por isso não tinha de acordar cedo, também não tinha combinado nada com o Jonathan, então meu namorado, ou seja, era um dia livre de compromissos. Estava frio (normal, era inverno) mas não o suficiente para me fazer ficar em casa. Ao andar pelas ruas encontrava tudo fechado, menos o café do senhor Pete, não tenho a certeza mas  suponho que tenha sido por isso que fui dar uma volta até uma pequena clareira que havia por detrás das hortas dos Sanders. Vantagens de viver numa aldeia.

Não sei muito bem porquê mas nesse dia também levei o meu pequeno rádio a pinhas. Já não era grande coisa nessa altura mas recordo-me de até estar a funcionar bem, quer dizer, calculo, se assim não fosse não teria estranhado o facto de ter começado a fazer interferência com alguma coisa.

Depois disso só me lembro de parar de ouvir aquele Death or Alive e de ver qualquer coisa preta a cair do céu. O meu cérebro deve de alguma forma ter criado uma barreira de memorias porque até hoje não consigo recordar os cinco minutos seguintes. A memoria só volta com a imagem de um rapaz magro, muito branco e ensanguentado parcialmente enterrado no chão.

Devo ter ficado algum tempo a olhar para ele. Não é propriamente normal ver coisas daquelas. Talvez tenha inclusive entrado em choque, especialmente quando o estranho ser que parecia estar mais que morto decidiu abrir os olhos e falar. "Não me ajudes que não é preciso". Foi dito com uma voz extremamente sarcástica enquanto cuspia sangue o fez com que me desse vontade de não o fazer mas a razão falou mais alto.

Levantei-o e acartei-o a muito custo até à casa. Na altura vivia sozinha mas tinha dois quartos, deitei-o no das visitas. Pode parecer estranho ter levado um sujeito semimorto para casa sem saber nada sobre ele, apenas parecia-me confiável. Mais tarde vim a saber que ele tinha usado uma espécie de feitiço para influenciar aquele acontecimento. Limpei-lhe o sangue, despi-o, deixei-o dormir e lavei-lhe as roupas.

Foi assim que conheci Dante. Um demónio amigável nos tempos livres para os outros excepto para mim. Não me interpretem mal, eu não me apaixonei nem casei com ele contudo fiz um amigo para lá da vida.

Catherine David, 18 de janeiro de 1990

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