Acordei sobressaltada com o toque da campainha. Eu não estava propriamente a dormir mas as aulas da senhora Thompson eram sempre tão interessantes que sem querer acabei por entrar numa espécie de transe. O que vale é que era a ultima aula do dia e, a excepção de Robin, ninguém reparou. E mesmo ela só teve como reacção aquele sorriso estúpido de quando queremos rir e não podemos.
Saí da escola a correr. Cheguei à padaria de rompante, peguei num pãozinho de canela e subi para o meu quarto. Estava tão empolgada que nem dei importância ao amigo da minha mãe. O que era sem dúvida de estranhar.
Dante de nome, nunca foi de muitas conversas. Pelo menos comigo. Aliás, o nome e o facto de nutrir uma profunda amizade pela minha mãe eram as únicas coisas que sabia sobre ele.
Já no meu quarto, caí na cama onde tinha deixado o recorte de jornal da manhã e o antigo diário do meu avô. Comecei a reler a notícia manchada de estranho. Quatro pessoas assassinadas, nada foi roubado, corações desaparecidos. Tinha a certeza, este era o meu tipo de trabalho.
Bateram à porta.
-Espera só um minuto.
Disse enquanto espetava a papelada para debaixo da almofada. A pessoa atrás da porta não esperou. É que para além de imbecil é surdo. Pensei.
-Ellen, jantar.
A doce voz fez com que me arrependesse de imediato do meu último pensamento. Era a minha mãe. Não esperou que me levanta-se, falou e foi-se embora.
Demorei um bocado a assimilar a informação recebida. Só ia uma coisa na minha cabeça, os lobisomens que atacaram a cidade. Bem, pareciam lobisomens, pelo menos correspondiam à descrição no diário do meu avô. Ainda não sabia como o ou os ia caçar mas para já também não era importante. Corações desaparecidos, aquelas palavras não me saíam da cabeça.
Dirigi-me à cozinha devagar. Sentia as pernas fracas o que fez com que o corredor parecesse três vezes maior. A minha cabeça começou a latejar e comecei a ter uma sensação estranha no meu peito. Apenas me lembrava de ter uma sensação parecida perto de uma pessoa, Dante. O corredor acabou. Transpus a porta da cozinha, apercebi-me do elenco presente e petrifiquei. Deixei de ver e de ouvir, a cabeça deixou de latejar, a sensação no peito desapareceu e as pernas voltaram ao normal. Não sei o que aconteceu a seguir.
Abri os olhos e estava de volta ao quarto. Assim de repente pensei que se calhar tinha desmaiado no quarto e que nada do que vira era real mas quando procurei o diário debaixo da almofada não estava lá nada. Levantei-me e a confirmação de que nada tinha sido um sonho apareceu diante dos meus olhos.
-Catherine, ela acordou.
Foi dito com uma voz seca. O pálido amigo da minha mãe estava à porta do quarto a chamar por ela mas estava esquisito. Esfregai os olhos mas não serviu de nada, tinha visto tudo perfeitamente bem. Onde costumava estar uma cabeleira negra, tal como a de Cath, encontrava-se algo branco. Olhei-o fixamente. Não foi reciproco.
Uma terceira pessoa entrou no quarto e abraçou-me.
-Está tudo bem, estás bem?- largou-me, fixou os grandes olhos verdes nos meus e agarrou as minhas mãos, forte, como uma mãe deve ser-temos um problema querida. Sabes, aquilo no jornal-ela soluçou, as lágrimas tinham começado a escorrer sobre a pele branca- não são lobisomens.
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Angels and Demons
RandomEllen era uma simples aspirante a caçadora até que um dia toda a sua vida muda. Ela terá de ajudar alguém que nem sequer conhece bem a fugir de uma das mais perigosas divisões do céu. O Inferno.