the night we met

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intimidade era aquilo que existia quando você caía na minha frente e eu me ajoelhava pra te olhar nos olhos e depois de uns segundos rir e rir até não nos aguentarmos mais.

era o amor sendo tranquilo em sua plenitude, forma, vontade de crescer. era o amor expandindo as paredes do quarto, reclamando mais espaço pra viver, ser visto, amadurecer. era aquilo que existia quando você punha uma música e eu silenciava, ruborizando aquele momento que era nosso, religiosamente.

e você dirigia a cento e vinte quilômetros por hora pra eu ter a sensação de paz.

eu me sentia o charlie de as vantagens de ser invisível.

mas eu me sentia bem maior pois seu amor estava comigo. eu sentia que sim.

intimidade era aquilo que nos habitava quando você tirava minha blusa, depois a calça, por fim a cueca.

você deitava seu corpo frígido sobre o meu e me permitia sentir cada batida do seu peito.

havia dias cujo barulho era similar ao de uma escola de samba. noutros, silenciava silenciava silenciava.
nesses dias, mais pesados, eu sabia que entre mim e você poderia existir um fim.

intimidade era poder me desintegrar a pele enquanto as janelas do mundo se fechavam pra nós dois, enquanto estávamos  suando um rio Jordão.

era o amor nos gaseificando
e nos tratando feito átomos.

intimidade era poder sentir o mundo de maneira segura só porque você existia. era me certificar de que seus poros estavam á espera dos meus em casamentos fictícios de sonhos que, sabíamos, nunca se realizariam.

intimidade era poder tirar da sua fome o meu sustento. era poder te oferecer a minha carne mais pecaminosa e suja que mesmo assim você voltaria para casa e sorriria ao me ver.

intimidade era poder correr contigo nas minhas costas enquanto andávamos pela avenida Paulista.
e você sabia, eu sei que sim, que eu escreveria sobre aquilo.

você me dizia pra eu te soltar que cairíamos e todo mundo poderia rir da nossa queda mas você sabia que se caíssemos, teríamos o que contar pros nossos filhos.

intimidade era sentir a densidade do seu prazer sobre mim depois de uma noite de amor.
sexo não, amor.

aquele magma corporal pra mim era amor,
ou o ápice de um desejo enclausurado.

intimidade era saber de você, amianto com quem sabe todas as orações pra todos os deuses possíveis.

me era dada a benevolência de te saber.
você me dava esse direito enquanto eu te dava esse direito.

eu sabia quando seu estômago estava desconfortável pelo hálito da sua boca. eu sentia o estresse dos seus dias através das falas árduas. eu sabia da sua tristeza quando já era hora de partir.

eu soube a hora que você quis partir.

intimidade era reconhecer que em meio a nós dois ruindo feito um prédio de oitenta a seis andares poderia existir, pra além do amor, o afeto.

( e você olhava no fundo dos meus olhos, enquanto a queda ainda era engraçada e não dolorosa, e ria ria ria... )

Textos cruéis para serem lidos rapidamente IIOnde histórias criam vida. Descubra agora