O passado.

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                            —Giyuu Tomioka—

Eu fui enviado em uma missão com a Kocho hoje mais cedo, nosso objetivo era caçar um Oni que supostamente derrubava os inimigos de forma psicológica antes de matá-los, mas ja havia se passado uma hora e nada do monstro aparecer. Além disso, a dificuldade em achar o Oni era a coisa menos estressante ali, já que eu estava sinceramente cansado de lidar com ela me implicando o caminho inteiro.

— Você é tão calado, Giyuu... as vezes me pergunto se você é mudo ou tem problemas na língua, sabe? Sabia que isso faz as pessoas gostarem bem menos de você? — Shinobu pergunta com um sorriso irônico no rosto e eu apenas a encaro. Eu já havia me acostumado com aquele tipo de comentários vindo dela, já nem ficava realmente chateado com aquilo.

— Huh... hoje tenho presa grande. — Uma voz misteriosa fala, me viro e vejo o tal demônio em cima de uma árvore. Ele sorria e balançava as pernas, como se zombasse de nós lá de cima, mas não era grande e parecia consideravelmente fraco.

— E ainda são traumatizados? prato cheio. Vou começar por você, menino emo. — Dizia o maldito demônio enquanto ria de nós e me encarava como se pudesse ver até no fundo da minha alma. Tento puxar minha katana, mas antes que pudesse perceber, eu e Kocho estávamos no chão.

Vi uma luz branca invadir meus olhos por alguns segundos e logo depois eu via um ambiente familiar, era a minha antiga casa, a minha irmã estava lá e eu sabia que dia era aquele... o dia do ataque, estávamos em uma memória que se passava alguns minutos antes daquilo. Eu podia ver uma pequena versão minha ao lado da minha irmã e antes que desse por mim, tudo já havia sido colorido de vermelho... as paredes, o chão, tudo. Minha pequena versão, claramente desesperada e trêmula de choque correu pela neve em um frio congelante até chegar à vila, chamei por ajuda, mas minha irmã já estava morta. Não havia mais o que fazer, não por ela. O pequeno "eu" tentara contar o que havia realmente acontecido, mas ninguém acreditou.

Pouco depois sou enviado para outra memória, onde o meu antigo "eu" sofria com o julgamento das outras crianças, que riam e faziam "piadas" sobre quem eu havia me tornado. Falavam sobre o meu silêncio repentino, me taxavam de mentiroso, louco, atiravam pedras e até me batiam... Doía tanto relembrar aquelas memórias, reviver aquilo era como estar ali novamente, como se eu continuasse sendo aquela criança inútil e indefesa.

Antes que eu pudesse me recuperar, sou enviado a outra memória a qual fui enviado para a casa dos meus tios, que também não eram pessoas muito boas, mesmo sendo vistos pela sociedade com tais. O tio que batia na mulher e a mulher que descontava em seu "filho" adotivo. Revivi as cenas em que aquela mulher me beliscava, xingava, batia e enfiava continuamente, dia após dia, o meu rosto dentro de uma bacia de gelo, para que desinchasse antes de mais um dia de aula.

Durante tudo o que acontecia naquela casa, meu pequeno "eu" tentava parar de chorar todas as noites e lidar com o luto, o fardo e os cortes profundos que eu mesmo fazia em minha própria pele. Até que começam as memórias de quando eu finalmente não aguentei mais e fugi, logo em seguida cortando para a parte em que recebia a notícia da morte de Sabito, meu melhor amigo. Eu podia sentir a dor novamente, a tristeza, a incapacidade... tudo. Era como se eu voltasse aquela época, voltasse a sentir tudo aquilo novamente. Era torturante, cruel.

Mas de repente, acordo em um baque, com a cabeça e visão turvas, ouvido apitando, lágrimas escorrendo pelos olhos e uma voz doce me chamando. Tento ajustar a minha visão quando vejo Kocho à beira das lágrimas enquanto me balançava para frente e para trás, me chamando repetidas vezes.

Afinal de contas, o que estava acontecendo ali?!

Sempre quietoOnde histórias criam vida. Descubra agora