O acordar.

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Gyuu Tomioka —

O que? hm... O que aconteceu? — Pergunto, sentindo uma pontada aguda na barriga ao tentar me levantar. Olho para baixo e percebo que havia sangue. Era um corte superficial, nada tão grave assim.

— Como assim? Você quase morreu, foi isso que aconteceu! Tem noção do quanto fiquei preocupada? — Perguntou retoricamente, me dando um abraço apertado e consequentemente sujando suas roupas.

— Sobre o que está falando? Eu estou bem, Shinobu. A propósito, cadê o Oni? — Perguntei, reparando que meus braços tinham arranhões e alguns cortes. Solto um longo suspiro ao lembrar que terei que costurar o casaco novamente.

— Eu o derrotei. Ele não era tão forte, mas atacava enquanto o caçador estava desacordado, interna e externamente. O dano variava de acordo com o nível das memórias. Seus pesadelos foram muito ruins? Você está bem machucado. — Disse a mulher, suspirando e me soltando logo em seguida.

— Não, não foi nada demais. — Digo, tentando me levantar, mas acabo cambaleando para trás e quase caindo, com uma dor aguda.

— Você é idiota?! Percebeu que estava machucado e tentou se levantar como se estivesse em perfeito estado! Parece que você não pensa, Tomioka! — Ela pôs o braço por debaixo do meu, agarrando meu tórax e me dando apoio para ficar de pé.

Eu me mantive em silêncio, reparando em Shinobu. Ela estava levemente ferida, mas com uma expressão estranha, se eu tivesse que chutar, diria que era um misto de angústia, arrependimento e preocupação.

— ...Você conseguiu ver algo? alguma das minhas lembranças? — Talvez aquela pergunta fosse idiota e óbvia, ela não devia ter visto nada, já que as memórias eram minhas.

— O que? Sobre isso... Apenas algumas. — Meus olhos se arregalam em surpresa quando as palavras escapam de seus lábios. Como aquilo era possível? O que ela havia visto?

— Como assim? O que você viu? — Perguntei, sentindo um pequeno calafrio correr pelas minhas costas.

— Apenas sobre a sua irmã. Não vi mais nada, não precisa se preocupar. Mas sabe, se quiser conversar, sei que não sou a pessoa mais indicada, porém eu irei te escutar. — Eu apenas fiquei calado, mas ao mesmo tempo, bem surpreso. Eu podia sentir minha testa franzir um pouco e minha expressão ficar rígida.

A ideia de mais alguém saber sobre aquilo não me agradava nem um pouco. Não que eu gostasse de como Shinobu me tratava antes, mas não queria que ela me encarasse com pena. Não, não ela.

Nós Voltávamos em silêncio, com excessão de alguns suspiros meus, devido a dor. O clima estava tenso, o ar era pesado, dificultando a respiração. Minhas mãos estavam levemente trêmulas, eu sabia que não conseguiria dormir aquela noite.

O que faria se Kocho contasse para todos? O que eu poderia fazer se ela revelasse o quanto eu fui fraco, inútil e tolo, ao ponto de sequer conseguir defender minha irmã? Olhei para ela, que estava mais concentrada no caminho do que em qualquer outra coisa, ela também não parecia querer comentar nada. No caminho, eu não conseguia pensar em nada além daquelas memórias e em como elas me assolariam, me perseguiriam até nos sonhos.

Assim que chegamos, ela me levou para um quarto.

— Tire seu casaco e a sua blusa, Tomioka. Preciso ver seus ferimentos. — Disse, pegando um kit de primeiros socorros. Eu retiro minha blusa e casaco, ainda em total silêncio. Consegui sentir a angústia em sua voz, em seu olhar e apenas consegui abaixar minha cabeça.

— Escuta, Eu... — Ela acaba travando, mas logo se recompõe, franzindo um pouco a testa e tentando reformular sua frase.

Continua...

Sempre quietoOnde histórias criam vida. Descubra agora