— Ela acabou de completar dezenove anos mãe... — a doce voz de Violet soou suplicante do quarto ao lado — ainda é uma criança
Adelaide, em seu quarto, marchava aflita. Seus dedos sentiam a pressão das unhas contra sua pele clara, os saltos curtos emitindo um toc toc toc a cada passo que dava. Anceava por alguma informação vinda de seus pais. Ela não estava realmente preparada para um casamento. Não estava preparada para se virar sozinha; mesmo tendo uma predisposição para ser uma garota empenhada em seus afazeres e tendo certa facilidade em aprender as coisas com rapidez, ser dona de uma casa sozinha ainda soava como um desafio ameaçador.
— Ele é um homem confiável, amigo da família — sua mãe, a sra. Aurist, replicou despreocupada — além disso, é rico! É um futuro ótimo para Ade e não sabemos quando uma oportunidade tão boa quanto esta voltará a aparecer, temos de aceitar sua proposta. Ela haverá de se apaixonar por ele assim que ter a chance de conviver com ele, e se não, ainda terá uma vida maravilhosa de luxos e bencãos com Hans.
"Proposta." A palavra ecoou na mente da mais nova. Esse homem pediu aos meus pais por mim? Fui vendida, bem dizer, e como um homem como este é visto com tanto carinho pelos meus pais? Isso não me parece normal ou aceitável.
Assim a porta foi aberta, surgindo no quarto a mais velha Corner, trazendo consigo rangidos do velho chão de madeira; sua feição transparecia exatamente o que Adela temia.
— Eu juro que tentei... — Adelaide soltou de seus pulmões um suspiro pesado, com os olhos fechados, recostou-se na poltrona velha ao lado de sua cama de solteira, sua irmã a acompanhou, agachando-se ao lado da menor — pense Ade, você sabe que eles te forçariam à isso uma hora ou outra. Já foi um milagre não terem te casado com aquele médico aos dezesseis...
As duas pareciam tristes, mas nenhuma delas estaria surpresa com tal acontecimento.
— Não estou pronta...
— Nunca estamos. Hans é um homem responsável — Adelaide revirou seus olhos, não o conhecia direito — pense, é melhor que saia logo dessa casa, nossos pais não sabem cuidar de você. Eu não me sentia pronta quando me casei, e era ainda mais nova que você; o amor sempre acha um caminho e me ver livre de nossos pais, ah! Foi o paraíso. Apenas fique tranquila, meu bem. Eu tenho certeza de que você vai se acostumar e os pinos logo entraram nos eixos.
Violet abraçou-se à irmã mais nova, realmente não queria ver a sua pequena irmã passando por isso pois sabia no fundo que Adelaide não fazia o tipo romântica e não cederia tão fácil aos encantos de Hans, podendo assim, dificultar as coisas ainda mais nesse casamento, além disso, Adelaide mal aprendera a cozinhar e nunca havia sido beijada, ainda era muito imatura para se tornar esposa; Ainda assim, rezava pela irmã para que as coisas dessem certo e assim, Adelaide talvez tivesse chance de um futuro com melhores condições do que as em que viviam.
Contudo, ainda ajudaria a irmã e, sabendo onde Hans morava, visitaria Adelaide sempre que pudesse, trazendo concelhos e muito apoio em sua escolhas após seu casamento.
A ideia de ter um homem como seu chefe, diariamente dizendo-lhe o que fazer e o que não fazer era quase tão tenebrosa quanto o fato de que seus pais praticamente lhe ofereceram como um pertence para esse tal hans. Adelaide o conhecia, sim, de vista, mas jamais fizera questão de saber quem, de fato, ele era. Estava presente em comemorações familiares desde que a mesma completara dezessete.
Ele era um homem alto e forte, mas sorridente. Possuía um cargo importante numa empresa de refrigerantes, assim tendo uma boa qualidade de vida; seu rosto já possuía algumas rugas, ele aparentava ter quarenta e poucos anos, mas sua idade atual era trinta e oito. Algumas coisas nele incomodavam Adelaide (e passaram a incomodar ainda mais depois de saber que ele era seu futuro noivo) como seus dentes, que possuíam tal coloração amarelada pela possível quantidade de café ingerida, Adelaide odiava café. Suas calças, que pareciam apertadas demais para um homem com pernas como as dele; talvez o cabelo também a incomodasse, sempre penteado para o lado como se uma vaca passasse a língua em seus fios para os ajeitar.
Era loiro, como ela. Por um instante, chegou a pensar na aparência de seus filhos, mas tal imagem embrulhou seu estômago, aquele rapaz não era o tipo de homem para quem se olha e pensa "esse será um bom pai", não. Mas um homem que provavelmente deixaria os filhos chorarem muito antes de prestar auxílio, um homem que esqueceria os filhos na escola pós horário de aula, um homem rústico e um tanto quanto incompetente quando o assunto é responsabilidade familiar. Bom, mas é claro que estas eram apenas conclusões precipitadas de Adelaide.
— Ah, mamãe pediu para te avisar — a mais nova Corner levantou os olhos para a porta, onde Violet parou — amanhã, eles darão um jantar para que conheça Hans.
