𝑪𝒂𝒑í𝒕𝒖𝒍𝒐 𝒅𝒐𝒊𝒔

42 8 3
                                        

𝑂𝑙ℎ𝑒 𝑝𝑜𝑟 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑜 𝑙𝑎𝑑𝑜

𝑂𝑙ℎ𝑒 𝑝𝑜𝑟 𝑜𝑢𝑡𝑟𝑜 𝑙𝑎𝑑𝑜

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

22 de Maio de 1956

Noites e noites passaram-se em claro para Adelaide, onde a mesma passava sentada sobre a larga janela de seu quarto admirando o infinito céu inglês e, entre tantas estrelas, lutava para encontrar um lugar onde fosse livre. Também pensava sobre Hans e seus dizeres, seu rosto e a vida que ele daria à ela assim que colocasse o anel no seu dedo. A imagem de se ver como noiva em um espelho, por vezes, a amendrontava, e, na tentativa de aceitar melhor toda a situação, acalmava-se sabendo que como um homem importante em uma empresa, passaria a maior parte do tempo sozinha em sua nova casa.

Ele a levara para passeios por Londres, no qual a tratou como uma verdadeira dama; De modo muito cavalheiro, a buscou e a entregou em sua casa no horário prometido, além de tê-la levado à um restaurante recém inaugurado para que provasse dos deliciosos e aclamados camarões, tendo certeza de que todos os custos seriam dele e ela se preocuparia apenas em comparecer. O que impressionou Adelaide foi o fato de ele não ter chamado-lhe a atenção por pedir uma sobremesa, como pensou que faria. Pelo contrário, ficou alegre por sentir que a garota estava cedendo a sua aproximação e talvez sentindo mais conforto em sua presença.

Apesar de todas as preocupações em se casar tão cedo com um homem mais velho, ela tentava o ver com outros olhos. Era difícil para uma garota tão cabeça dura como Adelaide, que aceitasse facilmente um acontecimento como este em sua vida sem questionar.

Depois de um tempo com ele, havia notado alguns detalhes que costumavam passar despercebidos pela britânica, como, apesar dos braços fortes e mãos calejadas, havia certa delicadeza e cuidado em seu agir. Também na confiança que sentia quando estava próximo de Adela, como se estar acompanhado de uma moça como ela era um motivo para se gabar e ser prestigiado pelos demais. Em seu olhar, Adelaide, apesar de não ser tão vaidosa quanto as garotas a sua volta, ainda era dona de uma beleza admirável; seu sorriso era dono de uma luz que o encantava, ele almejava ser o motivo de seus sorrisos mais frequentes.

O casamento estaria sendo organizado pelos pais de Adelaide com a ajuda financeira de Hans, que desejava uma festa de casamento arrebatadora que agradasse muito a futura esposa, mas sempre que o mesmo questionava Adela sobre detalhes decorativos da festa, ela respondia algo como "uhum", "sim, é perfeito" ou "escolha o que achar melhor", demonstrando grande desinteresse em todos esses preparos que, pela garota, eram considerados desnecessários.

O casamento, marcado para o mês posterior, era aguardado com grande anseio pelos senhor e senhora Corner, que já haviam encomendado o vestido de noiva da filha mais nova. Todo branco com detalhes delicados de renda nas mangas longas; todo trabalhado em cetim. Apertado na cintura e com uma grande saia volumosa que lhe daria a aparência de uma princesa. Confesso, eu gostei do vestido.

...

— Como se sente? — questionou Violet, dando os últimos ajustes no vestido da mais nova

Após grande e avassalador silêncio, Adela soltou com um suspiro pesado:

— É o grande dia — fingiu um sorriso para o espelho, essa é a feição que será vista por Hans no altar, um falso e estúpido sorriso

Adelaide sentia um frio pressionando seu estômago, as mãos tremiam conforme a visão de um altar a esperando lhe assombrava. O véu rendado foi posto em sua cabeça com ajuda da mãe, assim escondendo parcialmente seu rosto. quando o véu será levantado? Quando ele se preparar para me beijar? Ou quando eu me puser firme à sua frente no altar? Ela nunca havia o beijado até então, e nenhum outro alguém experimentara seus lábios também. Estava apavorada, apesar de se esforçar ao máximo para não demonstrar tamanho receio em relação àquela cerimônia.

— Precisávamos mesmo de uma festa? Me sentiria melhor em me casar apenas no cartório — sra. Corner bufou

— Não seja tão reclamona Ade, sempre sonhei em ter uma festa tão glamorosa quanto essa — a mais nova abaixou o olhar com remorso, sentia-se culpada por não conseguir se impor.

— Você está linda, meu bem — Violet sorriu transmitindo conforto à irmã

De fato, Adela sentia-se linda com todos os adornos de noiva, que a envelheceram certos anos pela maquiagem de contorno envolta dos olhos, mas estava apreensiva o suficiente para esquecer completamente de sua aparência. Tudo aquilo ainda parecia ser apenas um sonho louco do qual adelaide desejava acordar o mais rápido possível.

Hans por outro lado, aguardava avidamente a noiva. Imaginava como ela estaria vestida, já que não havia espiado seu vestido; além disso, estava ansioso por finalmente tê-la para si, livrando-se de todo o temor na etiqueta. Em sua mente ingênua, casar-se faria Adelaide imediatamente íntima dele, sentindo-se bem à vontade ao seu lado. No fundo sabia que não funcionaria desta maneira, mas gostava de fingir acreditar na magia do amor que florece após a convivência.

Com seus pés fixos no altar coberto pelo tecido branco, o mais velho aguardava de mãos atadas sua noiva. Os olhos castanho-esverdeados trilharam caminho pelos voluptuosos vasos de gerânios brancos que acompanhavam a entrada dos dois lados, onde os convidados (em sua grande maioria, familiares e amigos do noivo) aguardavam a cerimônia, todos muito bem vestidos com cores fortes e vivas, diferente do noivo, que trajava um tom de cinza prateado em seu terno, dando destaque para gravata preta com detalhes dourados, na qual foi ajeitada pela sexagésima vez por Hans, mostrando seu tamanho nervosismo em estar perfeito para o casamento.

Assim que seus olhos encontraram Adelaide, de braços dados com os do pai, que caminhava lentamente com ela pelo tapete cor de leite, um sorriso transbordou em seu rosto, ela estava linda.

Sendo entregue ao noivo, era possível sentir o tremor nas mãos delicadas de Adela, que foram gentilmente massageadas por Hans, a deixando então um tanto quanto constrangida por perceber que ele podia notar seu nervosismo. O padre tagarelou palavras que, naquele momento, passavam despercebidas por Adelaide. Sua mente vagava pelo rosto de cada convidado, muitos nos quais ela nem conhecia demonstravam afeto e orgulho em seus rostos, outros, desdém. "Não é tão bonita para ele", era o que Adela imaginava que pensavam; ao imitar vozes finas e estridentes em sua mente que combinassem com o rosto de seus convidados, ela deixou escapar um sorriso.

— O noivo... pode beijar a noiva

Essas palavras a trouxeram de volta para sua incondicionalmente desesperadora realidade. Tomando sua cintura com as mãos de modo que fez Corner tombar para a direita ao ser segurada pelo mais novo marido, seus lábios se uniram. Ela fechou seus olhos e pensou em tudo, e ao mesmo tempo, em nada. Os lábios dele eram ásperos e secos, diferente do que ela esperava para seu primeiro beijo, apesar de não ter pensado muito nisso durante sua adolescência.

Talvez tenha durado seis ou sete segundos, mas para ela, foi um piscar de olhos e puff! Abriu seus olhos, assim dando de cara com o rosto sorridente e enrugado de seu marido, que parecia muito orgulhoso de seu feito. Seus ouvidos alcançaram o que pareceu uma multidão detrás dela, aplaudindo com afinco o vínculo que havia sido criado naquele instante. Outra vez então, Hans a tocou, sentindo seus cabelos macios por debaixo do véu. Seus dedos escorregaram para a bochecha de Adelaide, a ocasionando um suspiro afoito. A família Corner era, com certeza, a que mais comemorava aquele momento.

Encarando seu dedo anelar, que brilhava com o anel reluzente, Adela aspirou com um olhar melancólico. Enfim, me casei.

𝑼𝒎𝒂 𝑫𝒂𝒎𝒂 𝑪𝒐𝒏𝒇𝒖𝒔𝒂 ~ 𝘛𝘪𝘮𝘰𝘵𝘩é𝘦 𝘊𝘩𝘢𝘭𝘢𝘮𝘦𝘵Onde histórias criam vida. Descubra agora