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Alina

— Sua aparência não condiz com a posição da filha de um presidente.

Olhei para Catherin atráves do espelho, que me olhava com uma mistura de pena e compadecimento.

O meu reflexo no espelho era pavoroso, descabelada e olheiras tão profundas quanto um fúnil.

— Toda vez que penso que eu vou me acostumar com essa vida, eu sou arrancada as 6 da manhã da minha cama para fazer coisas diplómaticas. — Catherin riu e afastou o cabelo da minha testa para passar o píncel de maquiagem em meu rosto. — Porque as pessoas insistem em fazer tudo de manhã?

— Alina, certas coisas não tem explicaçõs, o que nos resta é aceitar.

— É tudo tão superficial, Cat. Sorrisos falsos e discursos decorados. — Fitei meu próprio olhar cansado no espelho. — E essa maquiagem não vai esconder a minha cara péssima.

Catherin parou por um momento, encontrando o meu olhar refletido no espelho.

— Às vezes, a melhor forma de enfrentar as sombras é brilhar, mesmo que seja com um sorriso pintado. — Ela terminou de aplicar o batom rosa claro, me lançando um olhar significativo. — Você é linda.

Suspirei mais uma vez, reconhecendo a verdade nas palavras de Catherin. O glamour e a fachada eram necessários para sobreviver naquele mundo.

— Talvez, um dia, eu possa ser mais do que isso. — Murmurei, meu olhar distante se perdendo nas sombras do quarto.

Catherin sorriu, uma expressão de compreensão.

— Você já é mais do que isso, Alina. Acredite.

Os meus lábios se curvaram em um sorrriso sem mostrar os dentes e contemplei meu reflexo maquiado.

Assim que Catherin saiu do meu quarto fechando a porta atrás de si o silêncio mórbido inundou o ambiente, uma sensação estranha que me acompanhava toda vez que eu estava sozinha. Por um lado, a sensação prazerosa de estar a sós comigo mesma, e do outro, a sensação de liberdade que eu nunca teria enquanto eu estivesse dentro dessa casa. Por mais que eu tivesse momentos bons a sós comigo, jamais me sentiria bem o suficiente aqui e eu já havia aceitado isso a muito tempo.

Meu celular em cima da penteadeira acendeu e uma notificação na tela apareceu.

"Ali, você ainda tá dentro, né?"

Eu li e não respondi, ao invés disso ignorei e deixei o celular apagar.

Spencer não era o tipo de amiga que desistia fácil, nem mesmo sendo a minha amiga, afinal tem que ter paciência para ter uma amiga com pais como eu.

"Vou considerar o seu vácuo como um sim."

E pela primeira vez desde longos dias, me peguei sorrindo.

Spencer era como uma máre calma no meio de uma tempestade para mim, e não me entenda errado, Spencer estava longe de ser uma pessoa calma, mas para uma pessoa que levava uma vida pesada e de tantas cobranças, ter ela como um escape do mundo era um excelente motivo para continuar viva. Eu não era carinhosa e nem muito menos expressava tudo oque eu sentia por ela, mas acho que me ver feliz e sorrindo já era uma demonstração clara pra ela do que me fazia sentir.

Levantei e sai de frente da penteadeira indo em direção a janela, onde era possível ver uma pequena multidão de jornalistas e equipes da imprensa à distância, aguardando o meu pai.

Uma meláncolia subiu pelo meu corpo e por um momento eu só desejei sair correndo para qualquer lugar que não fosse a minha casa.

Eu ouvi três batidinhas na porta e logo em seguida uma mulher de cabelos cacheados e de estatura baixa se adentrou dentro do meu quarto.

BREAK WALL | Roman PartizanOnde histórias criam vida. Descubra agora