Universo paralelo

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Acordo com a sensação de estar sendo observado. A luz que entrava no quarto era tênue, mas não se podia chamar aquilo de quarto. As paredes sem pintura, com partes quebradas, o teto parecia o de uma caverna, fiquei intrigado ao ver que uma mulher dormia ao meu lado. Olhei para seu rosto e não a reconheci. quem seria ela? então me dei conta de que não sabia quem eu era. Levantei-me da cama em busca de um espelho para tentar reconhecer a imagem que se apresentaria. o banheiro, se é que se pode chamar assim, parecia um beco sujo de uma grande metrópole. olho para o espelho imundo e desgastado e vejo um sujeito com a barba por fazer e os cabelos de um vermelho estranho. não me reconheço, e busco me lembrar do dia anterior. O que acontecera? Quem era a mulher na cama?

precisava descobrir, pois a sensação de estar sendo vigiado ficou mais forte e eu não sabia o que pensar. o que me ocorreu foi acordar a mulher, mas o que eu diria a ela? fui até a janela e não reconheci o lugar, parecia uma cidade grande pelo barulho dos carros que passavam na rua em frente, olho para a rua e parece que estou no segundo andar de um prédio caindo aos pedaços. então ouço atrás de mim uma voz rouca de mulher

—Bom dia!

me viro e vejo uma linda mulher enrolada em um lençol com os cabelos desgrenhados e a maquiagem borrada.

—Bom dia!

respondo automaticamente. então ela me diz

—Ontem não pude agradecer devidamente ao meu herói, mas agora...

ela diz se aproximando lentamente de mim, e eu com um olhar assustado e confuso a questiono, sem entender nem um pouco suas palavras

—qual herói?

—Você é claro, me tirou de uma bela enrascada e ainda me ofereceu o seu quarto e sua cama para passar a noite.

Meu coração acelera ao pensar na possibilidade de eu ter me envolvido em alguma encrenca, mas além de tudo, me lembra de que estou mais vivo do que nunca, e isso não poderia ser apenas uma ilusão ou um truque barato.

—o que houve ontem?

Perguntei preocupado

—Você não se lembra? Bem eu estava no bar tomando um blood mary então um sujeito começou a me assediar e você me perguntou quem era ele e eu disse: "não sei meu amor". Então você bravamente se levantou e perguntou a ele nem um pouco intimidado: "o que você quer com a minha noiva?"

sem ter o que responder ele começou a gaguejar e foi saindo. Agradeci seu gesto, ao que você me ofereceu outro drink, bebemos e conversamos até a madrugada. depois viemos para seu quarto.

Fico embasbacado e tento assimilar a história descabida que aquela bela mulher me conta, e sendo bem sagaz tento tirar-lhe mais informações

—Eu te disse meu nome?

perguntei discretamente

Ela um tanto atônita e assustada me responde —você esqueceu seu nome?

—não sei nem quem eu sou. Respondi de pronto.

—Bem você me disse que se chamava Jhonny, e que morava em um apartamento próximo, me perguntou meu nome e começamos a conversar. A propósito você tem um belo apartamento.

Dizer que aquilo era um belo apartamento me deixou mais confuso, qual era a noção estética daquela mulher, para dizer tal coisa! Um banho era urgente, mas outra sensação de urgência me mandava sair dali , mas por que? Procurei no quarto por quaisquer sinais de minha identidade e só encontrei uma chave dentro da gaveta do móvel que sustentava um abajur roto e sujo. Saímos para a rua que parecia ser de uma cidade abandonada, lixo na calçada e na rua e prédios aos pedaços. Para onde devia seguir? Não fazia ideia mas sair dali era imperativo, avistamos um café na outra quadra e entramos. quase que instantaneamente ouço uma voz grave com um estranho sotaque chamar pelo meu nome

—Bom dia senhor Johnny! o de sempre, não é? faço neste instante, e para a senhorita?

Aquilo me deixou mais alerta, afinal eu tinha um apartamento na área, eu era conhecido e ao menos agora sabia o meu nome.

—Um café!

respondeu a mulher, que eu não perguntara o nome.

Sentamos em uma mesa próximo a porta e logo perguntei a ela; claro que pisando em ovos para não ofendê-la; ela com o rosto corado me responde

—É Alina, sou de ascendência russa, mas não vamos discutir isso novamente né!

Fiquei com a sensação de que ela sabia de algo que eu ignorava. O homem chega com uma bandeja e duas xícaras de café fumegando.

—qualquer coisa é só falar

disse e voltou ao balcão nos deixando a sós. O café era saboroso e me deixou com a sensação de estar em casa, mas que casa?

tomamos o café e ao me levantar para pagar, o homem disse:

—Pode deixar que eu anoto para o senhor e o senhor vai jantar? Hoje teremos bife com chili e fritas o seu preferido.

Bife com chili e fritas? Sério?, bom, Mesmo surpreso com aquela informação respondo rápido e sucinto para tentar sair dali o mais breve possível

—Sim claro.

Na rua havia poucos transeuntes, todos com um ar de satisfação no rosto, mas o que se via era desolação e abandono. Uma vizinhança aos pedaços e vazia. O que aquilo significava? Eu não conseguia entender. Uma onda de medo me invadiu e ao avistar o primeiro táxi acenei, entramos apressados e falei com Alina

—Vamos para seu apartamento.

Ela um tanto assustada, deu ao motorista o endereço. seguimos por uns dez minutos e paramos em frente a um prédio em uma vizinhança bastante diferente de onde estávamos, não tinha o ar de desolação que vimos antes, mas as pessoas pareciam tristes e desconfiadas.

O apartamento de Alina era grande e arejado com ar de limpeza e bem decorado, a pintura parecia nova em folha. Assim que entramos ela diz envergonhada

—desculpe o aspecto do lugar, mas é o que eu posso pagar no momento.

Naquele instante percebi que estava em um manicômio ou estava sonhando, ou melhor tendo um pesadelo.

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