ACASO OU DESTINO?

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MALY

- Qual o horário do primeiro ônibus? - pergunto para a mulher por trás da bancada.

- O primeiro ônibus do dia sai às 7h. - ela me encara. - Poderia me passar sua identidade por favor?

Observo ao meu redor e não vejo muita gente, na verdade quase ninguém, considerando que ainda são 05:30h da manhã.

Volto meu olhar para a atendente que me aguarda com um semblante mal humorado.

- Você vai me entregar a passagem sem fazer nenhuma pergunta e assim que eu sair, sempre que lembrar do meu rosto ficará sem voz, não importa o que faça, ficará muda.

Tremendo e com os olhos arregalados, ela carimba o passaporte e me entrega a contragosto. Minha cabeça dói pelo uso excessivo da energia, aprendi da pior forma que o uso da indução exige muito de mim, mas foi preciso.

Caso contrário aquela mulher não me entregaria o passaporte e para sorte dela, hoje não estou afim de violência.

Há três meses, acordei no meio de um matagal, com o corpo coberto de cortes e algumas cicatrizes inexplicáveis, lembrando apenas do meu nome e de coisas que sei fazer, que poderiam facilmente me jogar em um laboratório para ser estudado.

Venho tentando descobrir o que aconteceu comigo, porém sempre tenho apagões quando estou em perigo, acordando horas depois em outro lugar e com apenas alguns fragmentos de memória da carnificina que causei.

Devido a isso, tive que induzir muita gente para cobrir meus rastros.

Mas me cansei, desisto de procurar respostas para as milhares de perguntas que me assombram todos os dias, desisto de tentar lembrar se tive uma família, um lar.

Eu desisto.

Não precisei esperar muito para que o ônibus chegasse. Algumas pessoas começaram a se aproximar, ansiosos para a viagem e eu não me importei em saber para onde esse ônibus iria, quero apenas ir embora dessa cidade.

O motorista desce e ressalta o horário que o transporte partirá. Meus olhos travam no homem e não sei o porque me sinto tão alerta de repente, uma necessidade enorme de vê-lo morto se assenta em meu coração.

Não me dei conta que já caminhava em sua direção, até que um outro rapaz esbarra em meu ombro.

- Cuidado por onde anda, idiota. - praguejou, me olhando de cima à baixo.

Não sei o que acabou de acontecer, então entro o mais rápido possível dentro do ônibus e espero sua partida. Um tempo depois, ele está lotado e o rapaz que esbarrou em mim antes, acaba por sentar ao meu lado, me dando sorrisos estranhos e pedindo desculpas inúteis.

O ignoro e apenas coloco meus fones e fico em silêncio.

JUDE

- Vamos Jude, temos que chegar na rodoviária às 6h! Eu prometo que será legal. - Sophie me sacudia sem parar, tentando me convencer de ir em uma viagem.

Olho para o relógio e vejo que já são 5h, se eu não levantasse agora, poderíamos nos atrasar, mas a preguiça falava mais alto.

- Por que você quer tanto viajar de ônibus? Não tem graça nenhuma, e é super cansativo. - pergunto-me virando na cama.

- Vamos Jude, é minha primeira viagem assim. Vai ser incrível, eu prometo! Vamos visitar várias praias, museus, bares chiques, festas... Ah, ah! E claro, vamos ver aquele jogo de basquete que você tanto quer!!! E ai?

"Mais de 20 anos de amizade
Não é pra qualquer um."

Me levanto indo arrumar as minhas coisas, vejo ela vindo atrás em pulos de euforia o que me faz rir.

AvaranOnde histórias criam vida. Descubra agora