MUDANÇA DE ROTA

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ANA

Dez horas da manhã.

Eu saio um pouco do ônibus para esticar as pernas enquanto o motorista troca o pneu. Ele estava agachado perto da roda direita.

- Vou precisar que todos saiam do ônibus! - alega em voz alta.

De repente sinto um frio na espinha, como se dedos gélidos subissem pelas minhas costas. Eu conheço essa sensação, é como quando minhas sombras me pedem que a alimentem, ou como quando 'eles' estão por perto.

Todos começam a sair do ônibus, continuam suas brincadeiras e conversas aleatórias lá fora. Avistei muitas pessoas incomuns no ônibus, mas não acredito que essa sensação ruim venha deles.

Tentei iniciar uma conversa com um desses estranhos, seu nome é Maly, o que me surpreendeu, me fazendo olhar para as placas de identificação que carrego comigo. Ele não disse muito, e sinceramente, nesse momento, tinha outra coisa chamando minha atenção de uma forma perturbadora.

MALY

Sinto o ônibus sacudir e em seguida parar, o que me desperta do sono. Olho em volta e percebo que quase todos estão com a mesma expressão. Um arrepio desce pela minha espinha, mais uma vez me deixando alerta.

Céus! quando isso vai acabar?!

Essa sensação sempre é seguida por uma situação perigosa, observo ao meu redor e tudo parece normal, olho pela janela e ao longe, bem ao longe uma névoa espessa começa a se formar, o que é estranho pois o tempo está ensolarado, no segundo seguinte uma mulher ordena que todos desçam para que o pneu seja trocado.

Ela emana uma energia familiar, me incomoda que eu me sinta tão... Confortável com isso.

Desço do ônibus assim que a maioria já está fora. Sentir tantas energias diferentes está me deixando instável, todos os meus sentidos estão me avisando que uma merda muito grande está para acontecer e a energia que vem do motorista me diz que ele tem algo haver com isso.

Tento o início de um diálogo com a mulher que também chama minha atenção, mas socializar não é meu objetivo aqui, então me afasto deixando apenas meu nome em seu conhecimento.

A névoa parece se aproximar cada vez mais na medida que me afasto do ônibus, então começo a me preparar para o que quer que seja essa merda.

ELLE

Não me lembro quando adormeci, mas quando acordei foi assustador, achei que a polícia tinha me encontrado. Felizmente não era nada demais, além do grito que dei. Pelo menos os pivetes jovens não riram de mim como aquela menina que caiu, isso já garante mais pontos comigo.

O pneu do ônibus havia furado, mais um contratempo, e mais tempo para aqueles desgraçados de farda me acharem.

Malditos desgraçados de farda! - Penso enquanto desço do automóvel.

O motorista estava na porta com uma prancheta e os passaportes. A aparência dele era cansativa, e havia um anel de ouro em seu dedo anelar esquerdo. O rosto tinha rugas e alguns fios brancos despontando de seu curto cabelo preto ondulado.

Os olhos eram cor de jabuticaba, e não tinha barba. As olheiras e a expressão dele apenas mostravam que ele estava ansioso para chegar em casa, ver a esposa e os filhos.

- Nome? - ele me olhou, de baixo para cima rapidamente.

- Elleny Martinez. - esse obviamente não era meu nome, e ele me encarou vagamente, antes de revirar a prancheta pela minha ficha.

- Certo, senhorita Martinez, por favor aguarde com os outros. - sussurrou a última parte enquanto eu passava por ele - Cuidado, roupas muito curtas como essas podem atrair homens de mal caráter.

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