01| Poppy

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Eu encarava o pedaço de cimento com o nome da minha mãe, talvez eu nem piscava. Meus olhos estavam cheios de lágrimas e eu tenho medo de piscar e isso acabar comigo tendo uma forte crise aqui na frente de todo mundo.

- Poppy. - Olho para o lado e Vitor está parado ali, conheci ele a poucos dias, somos da mesma faculdade, pelo o que me lembro. - Sinto muito pela sua mãe. - Ele toca meu braço e eu apenas balanço a cabeça, voltando meu olhar para o túmulo dela.

"Mãe amada por todos"

Não foi eu quem escolhi o que colocar, por que se tivesse sido não teria só isso. Ela não era só amada, ela era uma inspiração, uma mulher forte. Que quando criança fazíamos cookies e bolos quando eu estava triste e ela queria me alegrar. E quando eu cresci e  tive minha fase rebelde, ela sempre teve paciência, mesmo que as vezes eu via ela chorando escondida. Ela era o meu tudo, e agora eu me via completamente sozinha.

- Me escuta poppy. - Olho para o lado novamente, os olhos verdes claros do garoto ao meu lado me encaravam intensamente, eu senti meu coração começar a bater mais rápido. - Não é fácil lidar com essa dor sozinha, ela acaba se tornando muito mais forte. - Sua mão toca meu rosto e instantaneamente sinto uma lágrima escorrer. - Então, mesmo te conhecendo a poucos dias, saiba que não está sozinha. Eu estou aqui e você não precisa ser forte o tempo todo quando está comigo. - sinto um nó na minha garganta.

— Posso...pedir um abraço? – Minha voz sai baixa e eles sorri fraco, desvio meu olhar para o chão, sabendo que já tinha ficado vermelha.

Não demorou muito para seus braços rodearem meu corpo, e meu choro se tornou mais forte. Sua mão foi até meu cabelo começando um carinho de conforto. E pela primeira vez nesses últimos dias, eu me senti segura novamente.

— Vai ficar tudo bem Poppy. Eu prometo.  – Abro meus olhos, e antes que eu pudesse encarar o rosto do Vitor, outro olhar me chamou a atenção.

Um pouco distante de nós estava Ari, o irmão de poucas palavras de Vitor. Nunca disse nada além de "oi" com ele. Mas agora seus olhos estavam tão expressivos, com um brilho triste querendo me dizer algo. Eu simplesmente não consegui desviar o olhar, somente quando ele virou de costas e saiu andando, que eu soltei o ar que nem ao menos sabia que segurava.

Talvez eu não tenha entendido ao certo, mas meu coração dizia que tinha alguma coisa errada.

DOIS ANOS DEPOIS.

— Eu não aguento mais aquele professor idiota. – Vini diz assim que fecho meu armário, me fazendo rir.

— O que ele fez dessa vez?

— Foi ignorante, como sempre. Qual é, ele ficou chocado que algumas pessoas não sabiam o básico da atividade, mas a gente tá aqui pra aprender né? Se não ele nem teria esse trabalho. Super arrogante. – Ele bufa e revira os olhos.

— Realmente, dizem por aí que a vida de artista não é fácil, talvez isso comece desde a faculdade. – Zombo e ele faz uma feição de choro.

— Quem deixou eu nascer com o sonho de ser ator? – Ele murmura.

Antes que eu pudesse responder, meus olhos batem no grupo de amigos virando o corredor. Vitor e seus amigos sorriam de alguma coisa, quando ele me olha seu sorriso cresce fazendo assim que o meu aparecesse. Ele vem em minha direção, me abraçando e deixando um beijo rápido em meus lábios.

— Que tal irmos na casa do Ben hoje? – Ele diz animado.

— Comprei uma mesa de Ping-pong Poppy, você vai adorar. – O garoto complementa com a mesma animação, e eu sorrio mas nego com a cabeça.

— Hoje não tem como irmos, combinamos um jantar com meus pais. – A decepção fica estampada no rosto do meu namorado.

— Mas podemos marcar outro dia, né poppy? Diz que tivemos um imprevisto com a faculdade, sei que eles vão entender. – Meu coração bate em indignação.

— Não, não podemos marcar outro dia. Já é a segunda vez que remarcamos Vitor. E dessa vez você tinha prometido que iria. – Minha chateação é evidente na minha voz, e ouço ele suspirar.

— Eu achava que o jantar seria amanhã, já marquei com o grupo poppy.

— Mas o jantar já está marcado a uma semana!

— Olha, diz pra eles que dá próxima vez eu vou, ok? Seu pai me conhece, sei que vai entender. – Ele me olha e segura meu rosto com as duas mãos. – Por favor não fique brava, sabe que não tenho uma memória boa.

— Certo. Mas dá próxima vez você vai! - digo me rendendo.

— Eu prometo.

Ele sai andando com os seus amigos e eu acompanho com o olhar.

— Sabe que a próxima vez vai ser só na próxima reencarnação né? Se bem que, se eu fosse você e encontrasse um embuste como esse na outra vida, seria a maior azarada do universo. – Reviro os olhos.

— Vitor não é perfeito, mas ele tem suas coisas boas.

— Acho que só o que presta nele é a beleza Poppy, e isso a família inteira tem. – Respiro fundo.

— Tá, chega disso. Estou morrendo de fome, vamos logo comer.

Puxo ele para irmos ao refeitório. Não queria render assunto, já que no primeiro momento em que meu melhor amigo pudesse falar mal do meu namorado, ele falava com gosto. Eu sei que Vitor não é o melhor de todos, mas ninguém entende que ele esteve comigo desde que eu sofri a maior dor do mundo, ele passava as noites em claro comigo, me mimava, me dava o amor que eu sentia tanta falta.

O dia na faculdade foi tranquilo, dessa vez eu tive que voltar de ônibus, já que Vitor iria com o carro para a casa de Ben. Mas tudo bem, gosto de passar algum tempo sozinha.

— Por que seu namorado não veio, querida? – Hannah, a nova esposa do meu pai perguntou.

— Teve um imprevisto com trabalho da faculdade. – Murmuro, vejo de canto de olho meu pai revirar os olhos e sua mulher o olhar repreendendo.

— Que pena, mas tente trazê-lo qualquer dia desses, só me avise antes para preparar um bom jantar. – Ela sorri e eu assinto.

— Você sabe que sua comida é maravilhosa. – Seu sorriso aumenta.

Não tanto quanto a da minha mãe, mas eu nunca falaria isso. Faz apenas alguns meses que ela vejo morar com a gente, meu pai já diz que são casados por eles morarem juntos. Hannah desde sempre me diz que nunca teve ou vai ter a intenção de tomar o lugar de minha mãe, mas que estará aqui para quando eu me sentir confortável e quiser conversar com ela. E até então, ela cumpre o que falou.

Nunca tive motivos para tratá-la mal, algumas pessoas fazem só pelo título de "madrasta", mas eu não concordo com esse tipo de coisa. Ela é uma mulher que sonhava em ter filhos, mas que nunca foi possível. É forte, assim como minha mãe era.



































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Hey! Apenas uma introdução para vocês, o que acharam? Me digam quais foram as primeiras impressões.

Até mais ♡♡

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