O final de semana tinha chegado, mas eu passei a maior parte do tempo trancada no meu quarto estudando pra prova que aconteceria essa semana. Penso que fiz isso mais para esquecer o acontecimento no carro, do que para de fato aprender para a prova, já que eu não tinha dificuldade nessa matéria. Não vi e nem falei com Ari depois desse dia, mas a sua blusa pendurada na cadeira da minha escrivaninha me lembrava de todos os detalhes.
Sempre andei de carro depois do acidente, mas sempre foi no banco de trás, não por que eu sabia que me daria algum gatilho, mas sim por que sempre tinha alguém para ir no passageiro. Vejo meu celular tocando e o nome de Ari brilhando na tela, ele está sabendo ler mente a quilômetros de distância agora?. Fico nervosa no mesmo instante, será que ele vai querer falar sobre o tal dia? Ou só vai pedir a blusa de volta?
- Oi... - Mordo meu lábio assim que atendo, sentindo cada músculo meu em completa tensão.
- Oi ruiva, não vai vir aqui pra casa? - Todo meu nervosismo vira dúvida, como assim?
- Pra sua casa?
- É, está tendo um almoço em família. Vitor não te falou nada? - Ele pergunta, mas seu tom é como se não iria ficar surpreso se a minha resposta fosse "não".
E realmente seria, já que Vitor não tinha me falado nada.
- Ah não, ele disse sim. Eu só fiquei atolada de coisa da faculdade e acabei esquecendo. Peça desculpas a sua mãe por mim, por favor.
- Tudo bem ruiva, vamos fingir que você sabe mentir. - Dito isso, ele desliga o telefone.
Coloco meu celular na escrivaninha, por que Vitor não tinha me contado nada? Por que ele parecia cada vez mais e mais distante? Em um segundo, me vejo esquecendo tudo o que já tinha estudado e minhas preocupações indo só para o meu relacionamento.
As perguntas do tipo "será que eu realmente mereço algo assim?" é o que mais circula na minha cabeça. Talvez, Vini estivesse certo esse tempo todo e eu estava apenas me enganando, mentindo para mim mesma, ou me forçando a acreditar em algo que só eu via.
Um bater na porta me tira a atenção, logo meu pai aparece.
- Está ocupada? - Nego - Pode descer pra sala?
- Posso sim.
Comecei a ter um pressentimento estranho sobre isso, nunca vi meu pai tão sério na vida. Quando cheguei na sala, Hannah segurava um papel enquanto lágrimas caiam dos seus olhos, no mesmo segundo meu coração começou a bater rápido. Meu pai se sentou ao lado dela e segurou em sua mão, o sorriso que um deu ao outro tirou um pouco do meu pensamento que aquela conversa seria sobre algo ruim.
- E então? - Pergunto, não aguentando mais tanto suspense.
- Bom, poppy. Como você sabe, Hannah sempre teve o sonho de ser mãe, mas infelizmente a infertilidade a impediu de uma vida em que ela tanto sonhava. E bem, a um tempo atrás, entramos em um processo de adoção. - Meu pai diz emocionado. - E nós conseguimos Poppy, conseguimos adotar um garotinho.
- Olha, eu sei que deve ser difícil pra você, mas eu espero que entenda, como isso é importante pra nós. - ela diz com um certo receio.
Eles tinham medo de eu não gostar?
- Nunca que seria um momento difícil pra mim. Eu estou extremamente feliz por vocês, a felicidade de vocês é o que me importa, e um irmão será recebido com todo o meu amor. - Foi impossível segurar algumas lágrimas, fui até eles e os abracei.
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Não minta
Fanfic[Conto] Depois do trágico acidente de carro, Poppy se vê tentando recomeçar. Quando para ela sua vida estava em ordem, tudo parece desandar, e pouco a pouco, ela descobre a verdade sobre aquele fatídico dia.