It wasn't a mirage

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Alya folheava o livro bonito e interessante que tinha ganhado de presente da Senhora Canon. O livro era grande e parecia ter mais de 400 páginas, mas para uma menina que lia tão aceleradamente, aquilo não era nada.

As folhas de outono estavam espalhadas pela praça, a rua estava deserta e a noite fria e silenciosa. Em seus fones, por incrível que parecesse, não tocava Tv Girl. Mas Cigarettes After Sex ganhava seu coração de uma maneira extremamente encantadora.

- Qual o nome desse livro? - Tomou um susto com uma voz doce ao seu lado.

Alya tirou seus fones e suspendeu a cabeça, arregalando os olhos e sentindo um frio na barriga.

Era a garota da miragem e de seus últimos sonhos. Alya se virou para frente e apertou seus olhos algumas vezes, tentando acordar de seu possível sonho.

- Ei, você está bem?

Olhou para a menina de novo, que dessa vez tinha um rosto confuso. Alya queria ter voz para falar, mas quando abria a boca para dizer algo, nada saía.

Não era miragem.

- Eu não queria incomodar, se quiser eu posso sa-

- Não precisa - Disse rápido e baixo - Esse é Garotas de Neve e Vidro.

- Nunca ouvi falar, mas parece ser bom - Disse - Posso ver a capa?

Alya marcou a página onde havia parado e fechou o livro, entregando a garota. A menina admirou o livro e leu a sinopse, fazendo caras e bocas ao terminar de ler.

- Caralho - Murmurou - É um reconto da Branca de Neve? - Alya assentiu.

- Você gosta de ler?

- Estou tentando ter o hábito agora, procuro por livros fáceis de ler pra depois ir para os difíceis - Alya assentiu.

- Sabe, e-eu trabalho na biblioteca e lá tem vários tipos de livros, se quiser eu posso te indicar alguns e você compra - Disse baixo.

- Eu vi você lá - Alya a encarou - Eu tava passeando por aqui, pra conhecer o lugar, e aí eu vi você arrumando umas prateleiras.

Alya ficou calada apenas obsorvendo o que tinha escutado. A garota ao seu lado não lhe causava desconforto, mas saber que tinha sido observada por uma pessoa tão bonita, fazia seu coração acelerar.

Imaginou o que a menina diria se caso Alya falasse que sonhou com seus olhos e que ela não saía de sua mente. E em pensar que tinha ela ali do seu lado, fazia suas mãos suarem.

- Você é nova aqui? - Tentou puxar assunto.

- Sou sim, morava com meus pais em Los Angeles mas me mudei pra cá com meu irmão - Disse simplista - Aqui é bonito e bem melhor que cidade grande.

- Ah, é sim - Sorriu - E quem é seu irmão? Acho que não o vi ainda.

- Ele é meio ruivo, é alto e tem olhos azuis.

Alya reparou que ela gostava de falar enquanto mexia as mãos, tentando se expressar mais.

- Talvez eu tenha visto ele na papelaria, o nome dele é Philip? Algo assim - Manobrou com as mãos.

- Finneas - A garota sorriu largo - É ele mesmo. Nossa, aqui todo mundo se conhecesse mesmo né?

- Sim, aposto que estão comentando sobre você e seu irmão, até porque você é tão bonita que-

Fechou os olhos com força ao perceber o que estava falando. Alya sentiu seu rosto corar e abriu os olhos enquanto morria de vergonhs. A garota estava com um sorriso de canto no rosto enquanto a olhava, Alya apenas coçou a garganta.

- Er, eu tenho que ir pra casa - Disse com pressa - Nos vemos por aí.

Alya se levantou e praticamente correu até sua casa, quando fechou a porta atrás de si, suspirou fundo e colocou a mão no coração. Tentou acalmar sua respiração, mas o nervosismo era tão forte que ela ainda ouvia a voz da garota em sua mente.

Ela foi até a cozinha e pegou um copo com água, bebendo tudo de vez e repetindo o processo mais três vezes.

Alya se sentou na ilha da cozinha, pegou seu celular e pausou a música que tocava.

- Já ia te ligar - Ouviu a voz de Betty atrás de si.

- Desculpe, perdi a hora - Disse baixo.

Elas ainda não haviam conversado muito depois de Alya perguntar sobre seu pai, e Betty parecia se sentir envergonhada de Alya.

- Eu já vou dormir. Boa noite, Dinda.

Se levantou da ilha e foi em direção a Betty, lhe dando um beijo na testa e saindo logo depois.

Alya tomou um banho longo e quente, repensou sobre sua vida e sua existência na terra. Esperava abrir a porta do banheiro e ver Betty sentada em sua cama, apenas para que pudessem se resolver.

Mas seu quarto estava vazio. Não seria daquela vez.

Elas nunca brigavam, a relação das duas era incrível e elas se entendiam bem. Mas haviam momentos como estes, momentos em que o clima pesava e nenhuma sabia exatamente como resolver.

Alya:

Oi Maya

Sei que disse que ficaria sem internet, mas se der me ligue por favor

Estou preocupada com você

Eu te amo, fique bem.

Estava sem sua melhor amiga e estava em um clima ruim com sua madrinha, e além disso tudo, sentia falta de sua mãe. Sentia falta de alguém que mal lembrava do rosto pessoalmente, mas podia sentir a presença de alguma forma.

Alya pegou o porta retrato de sua mãe e foi para a varanda de seu quarto. Ela olhou para as estrelas do céu, as estrelas daquele outono tanto ventava.

- Não sei se consegue me ouvir, mas eu sinto sua falta, mãe - Sentiu seus olhos arderem - Eu não consigo me lembrar da sua voz e eu me odeio tanto por isso,  porque eu sinto sua presença comigo e eu queria que estivesse aqui de verdade pra eu ouvir você.

Saiu as primeiras lágrimas de seus olhos.

- Por favor, me ajude a lidar com tudo. Me guie pelos bons caminhos e mantenha a presença que eu sinto sua ao meu lado.

Deu um beijo na foto do porta retrato, admirando sua mãe pela foto e sentindo seus olhos embaçarem de uma vez.

Alya começou a chorar, ela não sabia exatamente o porquê. Tudo se misturava, eram muitos sentimentos de uma vez só e ela já estava começando a ficar cansada.

Ela não soube quando pegou no sono, porque seus olhos começaram a pesar em meio as lágrimas que insistiam em cair.

Alya dormiu sobre as estrelas que dava para ver da varanda, com o frio extremo e a quentura no coração.

Garotas de Neve e Vidro, livro por Melissa Bashrdoust.

When I Saw You - Billie Eilish [hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora