CAPÍTULO 3: Vida na Ilha

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  Saio do banheiro ainda sem acreditar no que estou prestes a fazer. E se eu estiver sendo impulsiva? Mas, se eu não fugir... vou ter que entregar um manuscrito que nem existe! Fico escondida para que Jonathan não me veja. Após alguns minutos, chega a tão esperada hora do embarque. Ao passar pelo portão, vejo o estado do avião: todo velho e nem parece ser deste século! Se eu já estava arrependida antes, imagine agora... Isso ao menos é legal? Subo no avião que range a cada passo que avanço. Chego à minha poltrona e percebo que a mulher com quem esbarrei mais cedo está sentada ao meu lado.

— Está fugindo, não está? — a moça indaga.

  Eu não preciso dar satisfação a uma desconhecida. E se ela conhecer Jonathan? Prefiro não arriscar.

— Estou viajando de férias. Estou apenas a passeio! — finalizei.
— Evitar a verdade não lhe fará bem, querida. Sei que está fugindo!

  Estou completamente sem reação com essa afirmação. Como ela sabe que estou mentindo?

— Como você sabe? — perguntei.
— "Saber" é o que eu faço de melhor! A menos que você conte beber, também. — afirma a senhora. — Prazer, me chamo Maeve.
— Prazer, me chamo Kattléia.

  Estendo a mão e ela puxa um cantil da bolsa. Ela bebe e me oferece um gole.

— Aqui, beba um pouco. Pra aliviar o nervosismo.

  Eu hesito.

— É whiskey, Jack Daniel's Black. — afirmou.

  Acabei de fugir, esse avião está caindo aos pedaços e posso morrer daqui a pouco... O que eu tenho a perder? Pego o cantil e bebo. Sinto o amargor e a quentura descendo pela minha garganta. Já me sinto melhor! Devolvo a garrafa a Maeve e me aconchego no avião. Após várias horas, o avião pousa. Descemos e reparo que o aeroporto é tão rudimentar quanto o avião. Eu olho em volta e não sei o que fazer. Fugi, mas... para onde vou? Saio do pequeno aeroporto e dou de cara com um homem estranho. Ele começa a me cheirar.

— Qual é o seu problema, esquisito?!

  Eu o empurro.

— Vejo que é nova por aqui. Eu posso conseguir o que quiser. Drogas, órgãos, armas.

— A única coisa que eu quero é que você saia de perto de mim!

  Maeve se aproxima e detém o homem.

— Escuta aqui. Mete o pé antes que eu faça você se arrepender amargamente por perturbar a minha amiga, Kattléia!

  O homem se assusta quando vê Maeve e se apressa para ir embora.

— Ok, sra. Fugitiva. O que está fazendo nesta ilha? Vamos, derrame o chá.

— Estou fugindo da minha antiga vida. — respondi.

  Ela me analisa com os olhos e arqueia a sobrancelha.

— Arrá! Você é uma criminosa! Eu adorei. Seremos boas amigas. Gosto da vida criminosa!

  Eu encolho os ombros e dou risada. Não sei se o que Maeve disse é bom ou devo me preocupar...

— Eu sinto... sinto que você é uma escritora. Que divertido! Eu sempre quis escrever também.
— O quê?! Como você sabia? — pergunto.

  Maeve sorri e se prepara para dizer algo. Mas, uma multidão de pessoas vem na nossa direção.

— Droga, Maeve! Me ajuda a me esconder!
— Por quê? — ela indaga.
— Vão me perguntar sobre o meu livro.

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