The First Taste

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21 de março de 2011
The First Taste - Fiona Apple

Um sorriso largo se espalha pelo rosto de Alice, e Castiel nota o espaço que separa seus dentes da frente. A falha é talvez a característica mais marcante da garota, tão comum em qualquer outra categoria. Ela pula e o abraça num arroubo de emoção, e a ele só resta a surpresa e a irritação de um contato tão íntimo vindo de uma quase desconhecida.

- Se quer minha ajuda, nunca mais faça isso. - ele diz, empurrando-a com as mãos em seus ombros ossudos.

Alice tem a pele bronzeada, beijada de sol, mas é possível dizer que cora com a rispidez do rapaz.

- Perdão, foi automático.

- Bem, aprenda a se controlar, então.

Envergonhada, ela olha pro lado e assente com a cabeça. - É, eu vou… Vou tentar. - Ela brinca com os próprios dedos por um momento, e então se recupera do choque da reprimenda. Um pequeno sorriso volta ao canto de sua boca. - Pode passar na loja mais tarde, traga seu currículo e o resto eu resolvo com meu pai.

A Sound System é a única loja de música na cidade com um acervo de discos de vinil, e conta também com uma coleção gigantesca de CDs e merch de bandas variadas. Na opinião de Castiel, é a joia de Amoris. Seu dono, Norman Mandeville, cuida do caixa enquanto a filha se ocupa da escola, e ela então toma seu lugar pela tarde para que ele veja a parte administrativa. O acordo funciona tão bem que nunca sentiram necessidade de mais uma mão no negócio. Foi o que lhe foi dito quando tentou entregar currículo anteriormente, pelo menos. Se pode tirar algo pelo modo que é recebida sua candidatura à vaga inexistente é que Alice tem muita influência sobre a loja, e sobre o pai.

Norman é muito parecido com a filha em aparência, muito alto (algo como 1,95 metros, talvez?) e magro. Tem a cabeça raspada, mas os olhos são iguais aos de Alice, enormes, negros como poços de piche. Na mente adolescente de Castiel, ele é instantaneamente um adulto muito legal, não só por trabalhar com música, mas por todas as tatuagens que cobrem seus braços e pescoço. Se pergunta como um homem assim criou uma menina tão sem graça.

- Então você é o amigo da Alice. - não é uma pergunta, mas uma afirmação.
Não amigos, no máximo conhecidos, mas Castiel não diz isso. Apenas assente com a cabeça.

- Ela me avisou que viria. Disse que entende de música. - Novamente, não é uma pergunta. Ele cruza os braços sobre o peito, expondo melhor o desenho de um dragão no antebraço. - Se um cliente te pedir recomendação de um som parecido com Deftones, que banda você recomenda?

Atrás de Norman, Alice encara Castiel mordendo o lábio inferior, nervosa. Ele pensa por um segundo ou dois, procurando a resposta que o dono da loja gostaria de ouvir, mas então decide dizer o que realmente acha. Se for errar, que seja por algo que acredita.

- Winged Skulls. Eu recomendaria pra qualquer um, mas o álbum novo deles lembra muito o som mais antigo do Deftones.

Norman permanece impassível, mas Alice suspira em alívio, o que prevê a aprovação do seu pai, que dá um sorrisinho de lado um momento depois.

- Muito bem. É o que eu mesmo diria. - ele diz, e Castiel sente como se ganhasse a validação de um pai. - Mas saiba que nós temos todo tipo de clientes. Se eu te perguntasse as novas sensações do pop, quem você me recomendaria?

O ruivo sente que foi pego numa armadilha de rato, e toda a satisfação que sentiu em dar a primeira resposta se torna um frio interno. Sabe muito de rock, punk e a maioria dos estilos alternativos, mas pop é um estilo que sempre fez questão de evitar. Ele olha pra Alice, que por trás do pai faz mímicas e esboça palavras com a boca. Com uma mão ela faz o número um, e com a outra, aponta pra cima. One Up? One…

- One Direction. - ele responde, juntando as mímicas com os sussurros da garota e lembrando da boyband sempre na boca das meninas da escola. - Toca no rádio o tempo todo, é uma febre no momento.

O dono da loja, apesar de aparentemente satisfeito, abre a boca pra fazer outra pergunta, mas é impedido pela filha, que põe a mão em seu braço e sorri docemente.

- Papai, eu não disse que ele sabe de música? Pode confiar no Castiel. Somos muito amigos, ele tem meu voto.

Seu primeiro instinto é fazer careta com a descrição, mas Castiel se para antes de esboçar qualquer expressão. Com o rosto de uma estátua, ele assente com a cabeça.

- Bom, ele parece entender do assunto. - Norman diz, então se volta para o rapaz, sério. - A Sound System é muito querida por mim, talvez, depois da minha filha, a coisa mais preciosa na minha vida. É a primeira vez que eu confio em alguém fora da família pra tomar conta dela, você entende? Eu preciso de alguém que viva pra música.

- Viver pra música é tudo que eu faço, pode confiar.

A última parte parece ter desagradado. O homem o olha do alto de sua muita altura, uma sobrancelha erguida. - Esse voto de confiança não é seu, é no julgamento da minha filha. - Ele sai do pequeno escritório em que estão e volta com um avental em mãos, que joga no colo de Castiel. - Mas o emprego é seu. Bem vindo a Sound System.

- Bem, garotinha, você cumpriu com a sua parte do trato. - diz Castiel, em pé com Alice na porta da loja.

- Eu disse que iria… - Ela parece envergonhada - Mas eu quero pedir desculpas pelo meu pai, do mesmo jeito. Ele é do tipo protetor, mas eu juro que não será um chefe ruim.

- É bom saber que ele leva a música a sério.

Alice lhe olha e sorri.

- É bom saber que você entende.

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⏰ Última atualização: Jan 28 ⏰

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