Agora
Eu estava viva.
Isso já era um bom começo, certo? Considerando tudo o que aconteceu até agora, estar viva é uma vitória para mim.
Mesmo que eu não seja tão merecedora.Me forço a abrir os olhos, minha visão estava turva, dificultando que eu identificasse o local onde eu me encontrava.
Pessoas com jalecos brancos corriam para todos os lados carregando pranchetas e gritando coisas que não pude distinguir.Meu corpo ardia como se estivesse em chamas e eu sentia uma pressão muito forte no peito, como se estivesse sendo esmagada por uma casa de dois andares.
Olho para os lados, o que faz minha cabeça latejar. Eu estava vestindo uma roupa esfarrapada fornecida pelo hospital, com meus braços e cabeça enfaixados e um equipo de soro injetado na veia.Pouco a pouco, os sons ao meu redor se tornam mais nítidos e começo a enxergar com mais clareza.
Diversas pessoas extremamente feridas eram carregadas de um canto para o outro por soldados Siryanos, médicos corriam pelos corredores estreitos gritando instruções para os enfermeiros, algumas crianças choravam abraçadas umas às outras num canto pequeno e empoeirado sob observação de uma senhora idosa e era possível ouvir gemidos de dor de todos os lugares possíveis.Uma moça aparece detrás das cortinas azuis que cercavam as laterais da minha maca.
Seus longos cabelos loiros estavam presos num coque frouxo, claramente feito às pressas, olheiras escuras se formavam sob seus olhos e alguns de seus dedos estavam enrolados com Band-Aids. Ela aparentava estar exausta.- Que bom que acordou, Vossa Alteza. - Ela segue até uma mesa baixa no canto da pequena sala e pega alguns papéis na gaveta, examinando-os com atenção.
- Está sentindo dor?
- Onde estou? - É tudo o que consigo responder.
- Este é um dos centros médicos improvisados que foram erguidos para receber as vítimas do ataque, Vossa Alteza.
Ela guarda alguns papéis soltos em uma enorme e desgastada pasta azul com algumas palavras escritas de maneira desleixada na parte de cima e a coloca de volta na gaveta.
- Está sentindo dor? - Pergunta novamente.
Observando-a com atenção, pude notar o quão esgotada ela estava.
Seu jaleco estava amarrotado e amarelado em algumas partes, o lindo bordado no bolso pequeno do jaleco, que antes dizia "Dra. Sienna", estava gasto e descosturado nas bordas, seus lindos cabelos dourados estavam secos e ainda era possível notar resquícios de batom em seus lábios.Comecei a pensar se, por um acaso, suas olheiras não eram apenas seu rímel que acabou borrando graças às noites em que não pôde tomar um banho ou sequer dormir, pois precisava ficar em claro e cuidar dos pacientes.
Há quanto tempo ela está aqui? Há quanto tempo não visita sua família?- Não estou com dor. - murmuro, perdida em pensamentos. As minhas lembranças do acidente no velho porão não passam de um grande borrão na minha cabeça. Mas internamente, eu sabia que havia uma pessoa lá. Alguém cujo eu não estava conseguindo me lembrar.
Ela está morta?
- A garota! - pergunto repentinamente. - Onde ela está?
Sienna me encara por alguns instantes, sua expressão impassível.
Ela inclina suavemente sua cabeça para o lado, se esforçando para identificar a garota a qual eu me referia.É compreensível que ela não a reconheça.
Inspeciono o lugar com os olhos.
Não era uma visão agradável.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Herdeira
FantasiMavie Velour, herdeira legítima do trono de Athos, precisa deter seu ex-melhor amigo antes que ele destrua o mundo inteiro por pura vingança! • • Mas o que acontece quando o amor da amizade que cultivaram sobressai ao seu senso de justiça?