Capítulo 1 - A equipe de robótica

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Capítulo 1 - A equipe de robótica


Jogo os grãos de milho. A pipoca daquele carrinho estava muito murcha... dei mais da metade aos pombos, dividindo sua atenção com o senhor sentado de costas pra o lago. Se eu fosse um pombo, preferiria as migalhas de pão dele às minhas pipocas horríveis, e eles preferiram. O senhor me olha, convencido de que havia vencido a batalha.

Pombos metidos.

Muitos estudantes vinham ao parque. Ele ficava logo em frente à entrada da universidade, um local ótimo para encontros de bebedeira e banhos ilegais, mas eu era careta demais para isso.
As folhas da estação cobriam tudo de laranja e marrom e o dia estava escuro, tanto que os postes ainda estavam acesos. Vinha aqui sempre para observar os cisnes, desenhar as pessoas. Talvez hoje não esteja sendo tão diferente do habitual.

— O que está fazendo aqui?

Olho para trás. Liam rodeava o banco para se sentar ao meu lado, completamente agasalhado. Lugar perfeito para tudo, menos para se esconder de alguém.

— Só pensando.

— É o que fazemos. — Diz ele, como se ser um nerd obcecado com notas fosse algo para se ter orgulho. — Já que não está fazendo nada, preciso de ajuda com o Froide.

— Liam, as aulas acabaram. Hoje eu quero fazer algo diferente como, sei lá, dar um passeio de bike ou...

— Passeio de bike? Isso é mais importante que o nosso filho?

— Não diga isso alto. — Olho ao redor. Já era estranho ele estar parecendo uma bola de lã, nem estava tão frio. — Com certeza não precisa da minha ajuda.

Recebo um olhar de desdém. Não aguento mais esse jeito mandão dele, age como se fosse dono do meu cérebro.

— Não quero saber, nem tente me convencer.

— Lori... o dever te chama.

— Não, obrigada.

— Vai.

— Não.

Olho para o senhorzinho se levantando. Ele deve ter mais vida social que eu... talvez um lugar mais interessante para estar e um outro alguém para amar.

— Vamo, se fizer isso por mim... por nós — Ele olha no fundo dos meus olhos. — Te empresto meu caderno de cálculo.

Sinto meu cérebro coçar. Não tem como dizer não àquilo.

10:53AM

— Deixa eu ver o código de novo. — Digo.

Descobri que Liam realmente precisava da minha ajuda com o Froide, nosso robô batizado com o jogo de palavras mais espanta-popularidade que existe:

Frodo (escolhido por nosso parceiro de projeto Fin porque ele é "pequeno e fofo como um hobbit") + Droide (robô soldado de star wars, autoexplicativo)

OBS: Sim, a semelhança com o nome do filósofo não é acidental.


— Veja se não é no outro método.

— Quer saber? Eu vou pegar um lanche. — Digo. Minha barriga já ardia e eu não aguentava mais receber tantas ordens.

— O quê? Ah, traz um salgadinho pra mim.

Um "por favor" seria legal às vezes, mas isso não era o que mais me incomodava no momento. A ideia de que eu poderia estar em qualquer, qualquer outro lugar... isso remoía meus neurônios.
A chuva havia começado lá fora. Acho que a ideia de fazer um piquenique improvisado agora parecia ser distante. Pego dois pacotes de cheetos e dou meia volta, isso e caçar um erro em cinco mil linhas de código vai ser o resto do meu dia.

Deparo-me com Liam discutindo com a coordenadora do nosso curso e mais dois homens de camisas iguais.

— O que está acontecendo?

— Vocês não podiam ter visado antes? Lori, eles querem cancelar nosso projeto! — Diz Liam enquanto pegava os materiais sobre a mesa.

— Cancelar? Por que motivo?

— Nós lamentamos por dar essa notícia tão em cima da hora a vocês, mas a universidade decidiu traçar a verba para o programa de Artes e História Britânica. Talvez, no futuro, possamos retomar com seu projeto.

— Que se danem esses hippsters maconheiros! — Diz ele, jogando tudo na mochila. — Vocês velhos só vivem no passado. Isso aqui... — Aponta para o Froide. — Isso é o futuro.

Era engraçado o quão ofensivo ele conseguia ser em momentos de raiva. Eu sabia que aquilo não era sério, mas a senhorita Hanna, não.

— Tenho certeza que sim... Mas esse "futuro" vai ter que esperar a conversa que teremos com o diretor.

— O quê? — Ele questiona.

— Por favor, Srta. Hanna, entenda o nosso lado. Nos esforçamos muito pra fazer isso dar certo. — Mostro o cômodo com uma engenhoca diferente em cada canto.

— Entendo perfeitamente, Lorina, mas reações assim não podem ser ignoradas. Me acompanhe. — Ela diz para o garoto.

— Lori, pegue as coisas e leve minha mochila.

A porta é fechada, dando espaço para um silêncio há tempos não reinado naquela sala. Que situação.

Peço uma porção de carne com salada no foodtruck do campus, vazio com o fim das aulas. Sento-me e comodo a mochila pesada de Liam para conseguir comer. Como que eu vou aproveitar o dia com essa tranqueira? Talvez eu devesse só desistir.

Sinto um esbarrão no ombro, fazendo-me derrubar a comida nos meus sapatos. Um cara passa por mim correndo e segurando... a mochila! Como que isso aconteceu?! Disparo atrás dele. O sujeito olha para trás e começa a aumentar a velocidade, passa pelas bicicletas presas na calçada e atravessa a rua.

— Alguém pare esse ladrão!

As pessoas olham assustadas, algumas até tentam interceptá-lo, mas ele escapa de suas mãos. Miserável! Não consegui ver seu rosto, talvez nunca possa recuperar aquelas coisas.

Vejo-o seguir para praça de alimentação com a mochila escorregando das costas, até que se desequilibra ao esbarrar em uma das mesas. Te peguei! Agarro uma cadeira, pronta para atacá-lo.

A Viajante & o Príncipe RegenteOnde histórias criam vida. Descubra agora