Capítulo 30 - Afraid

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Em um hospital, a única coisa pior do que a comida e o excesso de branco por todo lado é o silêncio. Seria possível ouvir uma pena cair no chão, e alguém certamente se apressaria para limpá-la. Apitos dos aparelhos, passos discretos ao longe, e nada mais. Depois da partida de Normani, meus pensamentos pareciam mais barulhentos do que nunca. 

O último plano de Camila havia resultado em um hotel em chamas. A mulher que ameaçava a vida de sua filha queria conversar, tinha olhos e ouvidos por toda parte, e eu precisaria sair do país sem que ela soubesse, ao lado de uma assassina de aluguel. Era um plano complexo, pensado às pressas, que poderia ruir no menor dos erros. Se tudo saísse como o planejado, estaríamos juntas em um avião nas vinte e quatro horas seguintes, e talvez essa realidade me assustasse ainda mais do que qualquer possível deslize. Estar completamente sozinha com Camila em um país desconhecido, ainda que de maneira temporária.

- Está pensando demais outra vez. - A protagonista de minhas preocupações manifestou-se, como se pudesse ler minha mente. Forcei um sorriso e dei de ombros, mudando de posição na poltrona que parecia ser feita de espinhos.

- Você não?

- Vem, vamos pensar juntas então. - Observei conforme ela fazia espaço na cama e me chamava com o dedo indicador. - Na melhor forma de entrar no seu prédio sem chamar atenção, por exemplo.

- Pela porta da frente. - Concluí, como se fosse óbvio. Dois passos hesitantes na direção dela, que deu batidinhas na cama ao seu lado, indicando que eu me sentasse.

- Normani ou eu podemos entrar como da última vez, usar o apartamento de cima, que estava vazio, mas ainda assim é um risco. Muito mais olhares estarão sobre nós, seu sumiço pode ter gerado comentários... - Camila prosseguia com as explicações e traçava estratégias em sua mente, como se não escutasse o que eu dizia.

- Isso consumiria um tempo que não temos, e ninguém lá conhece vocês. É muito melhor que eu vá, posso entrar e sair sem levantar suspeitas por estar mexendo em minhas próprias coisas. Apenas reconheça que sou sua melhor alternativa.

Seus olhos fugiram dos meus e ela enrolou uma ponta do lençol entre os dedos, como se pensasse no que me dizer.

- Não, não faz sentido, podemos cuidar disso. Eu só preciso pensar melhor, planejar melhor... - Ela soou incerta, e, subitamente, algo me ocorreu.

- Tem medo que eu desista do plano.

Camila não respondeu de imediato. Os lábios rosados se curvaram em uma careta, e seus ombros caíram quando ela se deu por vencida.

- ... um pouco, sim. Não posso mentir pra você.

- Inacreditável. - Exclamei, em um riso carregado de ironia. - Caso não tenha notado eu poderia tê-la entregado a aquele policial sem pensar duas vezes, ou fugido para bem longe daqui enquanto estava desacordada.

- É diferente, Michelle. Diferente de entrar no apartamento que você chamou de lar durante anos, aceitar que está prestes a deixar tudo e todos para trás por tempo indeterminado para fugir com uma criminosa. Uma assassina, como você mesma fez questão de reforçar diversas vezes. Seria compreensível, para qualquer pessoa normal, querer desistir.

- Não sou qualquer pessoa. Levei você para conhecer meus pais homofóbicos em menos de um mês de convivência, aceitei pular de um helicóptero ao seu lado, e sair do bar em uma noite escura para entrar no carro de uma completa desconhecida que, por sinal, planejava me matar. E então a convenci a não fazer isso, bêbada e dopada, sem ter ideia do que acontecia. Pareço normal para você? - A risada adorável que soou em seguida quase me fez querer sorrir também. - Terá que confiar em mim em algum momento, ou acha que vai me levar a Londres como refém?

Now Or Never - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora