O que temos pra hoje é saudades

86 5 4
                                    

(Dedicado A memoria de Cristiano Araujo)



Quando lhe jurei meu amor... Eu trai a mim mesmo.

Raul Seixas



Semanas Antes...


Lorenzo:


Era a mão dela na minha e ao mesmo tempo era uma desconhecida tão amiga que já nem sabia o que era certo e errado.

Crime perfeito era pouco.

Éramos loucos, dois doidos que queriam não deixar vestígios, mas levavam sorrisos como provas de que tinha acontecido. Estava escrito na testa a culpa. Estava no corpo a dúvida de que caminho seguir.

Estava feito o estrago.

Virávamos outra coisa depois. Eu, pra ser sincero, não esperava muito mais do que educação.

Um aceno, um aperto de mão ou, no máximo, um beijo no rosto.                                                                       Beijo que pegava fogo.

Que fazia uma fogueira acender em mim, mas me jogava um balde d'água fria ao lembrar que não poderia externar nada.

E, às vezes, ela fazia só pra me provocar.

Chegávamos a ficar um tempo sem se ver, cada um tocando a sua vida, seus projetos e seus sonhos.Parecíamos esquecer que éramos tão importantes um pro outro.Se não na frente de todos, no psicológico que apenas nós dois sustentávamos e nos fortalecíamos.

A gente se afastava, mas era só cruzar os olhos pra tudo voltar.

Podia ser numa foto, alguém parecido ou, simplesmente, no escuro da saudade ao fechar os olhos.

Pra ser sincero, era, sim, o crime perfeito.

Eram os mesmos defeitos e desejos que se igualavam e completavam de um jeito que ao passar da porta sumiam.Talvez a gente um dia pare pra pensar na explicação daquilo tudo ou até do porquê de não termos ficados juntos.

Um dia, quem sabe.

Enquanto isso, era só aquilo, vai ser só isso.

Aperto de mão, apenas bons amigos.

Claro que não eu vou é atrás do que é meu...



Semanas mais tarde...



Bruno:



Tinham me avisado.

Assim que entrei pelo restaurante, eu vi.                                                                                                                    Assim que meus olhos cruzaram o salão e encontraram aquele casal, meu coração pulou.

Só que não pulava como nos momentos de alegria em que escutava o barulho do carro dela ou quando o nome brilhava na tela do celular me pedindo pra busca-la no trabalho.

Era um querer sair correndo gritando pela rua que aquilo era quase uma tortura, xingando a primeira, segunda e terceira geração viva, porvir e morta, só pra amaldiçoar todo o carinho que já tinha me feito misturado com a loucura da vontade de bater a mão na mesa e perguntar se a comida estava boa.

Porque a indigestão eu garantia.

Quem pode me entender?

Já gostei de algumas garotas antes dela, claro. A vida anda, gira, rola, caminha ou qualquer outro verbo que você queira usar para descrever que quem fica parado no tempo morre.

Mas, depois dela, as outras foram as outras.

Já tinha previsto que isso aconteceria.Se eu disser que esperava nunca mais encontrá-la ou então que ficasse solteira pra sempre, estaria mentindo.

Apesar de achar que eu deveria nunca mais vê-la, sentir seu perfume, cair na armadilha de fitar sua boca ou na besteira de fazer comparações, uma hora tudo seria inevitável.

Não se comparam amores, mas, sem dúvida, se comparam as flores.

E ela era a flor mais bela do meu jardim.

Ninguém acredita quando eu conto, sabia?Quando eu digo que a minha melhor namorada agora sai com outro, vai ao cinema com outro e se diverte com outro.

É, ninguém acredita.

E, naquela noite, um amigo já tinha me avisado.

Eu sabia o que me esperava.

Quer dizer, imaginava.

Minha raiva era não achar aquilo normal.Normal, pra mim, seria o lado dele estar vago e me esperando.

Minha raiva era saber que a vida continua, mas eu seria sempre seu.

Por mais que eu não queira, dá raiva.

Disfarcei tudo isso num sorriso.

E como se a merda não pudesse ser pior, ela me viu, levantou, foi me cumprimentar, beijou meu rosto, incendiou meu corpo, largou o menino na mesa cinco minutos, não o apresentou pra mim, disse "oi" pro meu amigo como se o tivesse visto ontem e ainda fôssemos um casal.

Voltou pra mesa e continuou comendo.

O outro?

Nem falou nada.

Talvez só tivesse merecido o cinema de antes. O jantar estava sendo um bônus.

Sem ciúmes, apenas pela conveniência de sair com o melhor que alguém deixou escapar pelos dedos.

Agora, taí, o resultado: ela de mãos dadas com outro.

Tinham me avisado.

Eu tentei esquecer. Ela seguiu. Meu coração parou.

Olhava pra ela e só conseguia pensar: depois de você, as outras são as outras.






Amanhã tem mais...

Beijão até já ;)

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jun 25, 2015 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

(EM MANITENÇÃO) Love me That. I love youOnde histórias criam vida. Descubra agora