Ele emergiu do saloon, o ar pesado com a escuridão da noite. A lua vermelha, como um olho vigilante, dominava o céu, lançando sua luz sinistra sobre Dusktown. O aroma de sangue, podridão e carniça infiltrava-se pelas ruas estreitas, um lembrete inescapável da maldição que agarrava a cidade.
Diante do saloon, o cavalo do Estranho jazia sem vida, sua presença anterior agora uma sombra de sua vitalidade passada. O corpo do animal, rígido sob o toque da lua vermelha, testemunhava a malevolência que pairava sobre Dusktown.
Murmulhos inumanos sussurravam pelas vielas, ecoando como preces distorcidas. Gritos de agonia, dor e sofrimento penetravam o ar, fundindo-se com o lamento constante do vento noturno. Cada rua, cada esquina, estava imersa em um coro de tormento, como se a própria cidade estivesse gemendo sob o peso de sua maldição.
O Estranho, mesmo diante dessa sinfonia de desespero, permanecia inabalável. Seus passos ecoavam como uma promessa silenciosa, seus olhos ocultos pela aba do chapéu observavam as sombras revoltas que dançavam em resposta ao mal que contaminava Dusktown.
Ao cruzar o caminho onde seu cavalo caíra, O Estranho reconheceu o preço de sua jornada. A lua vermelha iluminava suas feições sombrias, destacando as cicatrizes visíveis de suas próprias batalhas. A cidade, impregnada com a essência do Éter Primordial corrompido, aguardava o confronto iminente com um forasteiro que se tornara o catalisador de sua redenção ou ruína.
Os passos do Estranho ecoavam pelas ruas sombrias de Dusktown, banhadas pela luz sinistra da lua vermelha. As sombras se estendiam como dedos longos, tocando cada esquina da cidade amaldiçoada. Ele avançava com cautela, os olhos atentos às silhuetas distorcidas que se desenhavam nas paredes envelhecidas pelos anos de desespero.
Ao longe, um tremeluzir de tochas rompeu a escuridão. O Estranho se aproximou, sua curiosidade sendo engolida pelo receio do desconhecido. À medida que se aproximava, percebeu que não estava sozinho. Vários moradores, como sombras dançantes ao redor das tochas, pareciam realizar algum tipo de ritual.
No entanto, conforme se aproximava, uma sensação de desconforto tomou conta dele. Os moradores não estavam normais; seus movimentos eram erráticos, suas risadas transformadas em murmúrios inquietantes. O Estranho podia sentir a corrupção que emanava deles, distorcendo suas formas humanas em algo mais sinistro.
Escondendo-se nas sombras, O Estranho observou com crescente inquietação. As expressões dos moradores eram vazias, seus olhos refletindo uma escuridão interna que arrepiava a espinha. Ele compreendeu que, de alguma forma, a cidade havia perdido mais do que a luz do sol; havia perdido sua própria humanidade.
Agora, entre os corrompidos, o Estranho sabia que teria que ser silencioso, evitando qualquer contato que pudesse desencadear uma reação agressiva. A cidade, que já era sombria, revelava-se como um pesadelo inescapável. Pela primeira vez, o Estranho sentiu o medo, não apenas pela cidade, mas pela escuridão que ela escondia. Ele prosseguiu, decidido a encontrar a biblioteca e desvendar os segredos que mergulhavam Dusktown em seu próprio crepúsculo sombrio.
O Estranho encontrou uma escada desgastada que serpenteava pelo lado de fora de uma das casas. Cada degrau rangia sob seu peso, como se a própria estrutura lamentasse a presença de alguém testemunhando a agonia da cidade. Ao alcançar o topo, ele emergiu em um pequeno terraço, onde o vento noturno soprava com uma tristeza melancólica.
Dali, ele contemplou Dusktown, um reino de sombras e desolação sob o domínio da lua vermelha. As ruas estreitas, uma vez pulsantes com a vida de uma comunidade vibrante, agora eram como veias negras que atravessavam o corpo moribundo da cidade. O saloon, antes o epicentro de encontros e risos, estava envolto em um silêncio sepulcral.
A lua vermelha lançava seu olhar carmesim sobre cada construção e cada rua, revelando uma paisagem de desespero. As sombras se contorciam nos becos, como serpentes famintas à espreita. No centro da cidade, a praça principal, que antes era um ponto de encontro animado, agora era um palco de rituais corrompidos.
As tochas que outrora iluminavam a vida agora serviam apenas para destacar a corrupção que se infiltrara na carne de Dusktown. Os moradores, que outrora formavam uma comunidade unida, estavam agora reduzidos a espectros errantes, suas figuras distorcidas contorcendo-se em um espetáculo de desesperança.
O Estranho sentiu a tristeza impregnando a cidade, como se as próprias pedras estivessem chorando. A deplorável transformação que testemunhava parecia transcender o tempo e a razão. A cidade, outrora viva, agora era uma sombra de si mesma.
E assim, no topo da casa, sob a lua vermelha, o Estranho viu Dusktown como nunca antes.
E assim, no topo da casa, sob a lua vermelha, o Estranho viu Dusktown como nunca antes. Entre as silhuetas distorcidas, suas atenções foram atraídas para uma estrutura peculiar no centro da cidade. Entre as ruínas e sombras, ele discerniu o que parecia ser a biblioteca da cidade, um refúgio de conhecimento em meio ao caos.
Agachado no telhado, o Estranho estudou o caminho sinuoso até o que acreditava ser a entrada da biblioteca. Antes que pudesse traçar um plano de ação, o silêncio noturno foi quebrado por um estrondo ensurdecedor. Um disparo cortou o ar, e em um instante, uma dor aguda ecoou através de seu ombro.
O Estranho se encurvou sob o impacto, sentindo o calor do sangue que escapava. Desorientado, ele não conseguiu determinar a origem do tiro. A lua vermelha, testemunha silenciosa de sua agonia, lançava sua luz sanguínea sobre o Estranho, enquanto ele lutava para manter a consciência.
O desespero o envolveu como as sombras ao seu redor. Ele cambaleou até a beirada do telhado e, sem hesitar, lançou-se na escuridão. Caiu no solo poeirento com um gemido abafado, sentindo a pulsação da dor em seu ombro ferido.
Ofegante, ele cambaleou para um local mais seguro, onde a urgência de um curativo era inegável. As mãos trêmulas pressionaram um pedaço de tecido contra a ferida, enquanto a agonia persistia. O Estranho, que antes enfrentava criaturas sobrenaturais sem pestanejar, agora se via impotente diante da crueldade de uma bala.
A cidade mergulhada na escuridão testemunhava a angústia do forasteiro, que, mesmo ferido, recusava-se a render-se à maldição que envolvia Dusktown.
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Cicatrizes do Crepúsculo
WerewolfEm meio às sombras traiçoeiras da cidade amaldiçoada de Dusktown, surge uma narrativa de ação e terror, entrelaçada com os segredos ocultos do Éter Primordial. O Estranho, forasteiro com uma busca desesperada pela cura, enfrenta a noite temida por t...