Cicatrizes do Crepúsculo

Sussurros do Sangue Eterno

O Estranho, suas mãos ainda trêmulas com a dor, improvisou um curativo rudimentar para conter a ferida causada pela bala. A lua vermelha, silenciosa testemunha de sua agonia, lançava uma luz pálida sobre sua figura, destacando a determinação que ardia em seus olhos ocultos sob o chapéu de aba larga.

Apesar da ferida que latejava, o Estranho ergueu-se com resolução. Seu destino o chamava na forma de uma biblioteca oculta nas entranhas de Dusktown. O caminho até lá, no entanto, era um labirinto de ruas estreitas e becos sombrios, onde o perigo espreitava a cada esquina.

As sombras se agitavam como serpentes inquietas, e o Estranho, cauteloso, movia-se pela cidade envolta na penumbra. O cheiro de decadência e desespero pairava no ar, enquanto murmúrios distantes e gemidos ecoavam pelas ruas vazias.

Ao passar por vielas apertadas, ele notava figuras distorcidas nas sombras, criaturas corrompidas que pareciam farejar a essência do Estranho. Cada passo era uma dança sutil entre permanecer invisível e avançar rumo ao seu objetivo. O brilho ocasional de olhos selvagens nas sombras indicava que ele não estava sozinho na escuridão.

A biblioteca, um farol de conhecimento em meio à decadência, parecia se distanciar a cada esquina. O Estranho se esgueirava por trás de barris abandonados, saltava sobre detritos que se acumulavam nas ruas e fundia-se com as sombras sempre que sentia uma presença hostil se aproximar.

O perigo, contudo, era inescapável. Criaturas corrompidas rondavam cada recanto, suas formas retorcidas e olhos famintos indicando uma sede de algo que não poderia ser saciada.A lua vermelha, silenciosa cúmplice desse jogo sinistro, lançava uma luz sanguínea sobre a cena.
No beco estreito, as sombras pareciam ganhar vida. Um uivo ecoou, rompendo o silêncio, anunciando a chegada de algo sinistro. Das sombras emergiu uma criatura híbrida, meio homem, meio lobo, com membros distorcidos e garras afiadas que arranhavam o solo de pedra.

Os olhos da criatura, amarelados e famintos, fixaram-se no Estranho. Seu uivo ecoou novamente, preenchendo o beco com uma cacofonia de terror. O Estranho sentiu um arrepio percorrer sua espinha enquanto a criatura avançava com uma lentidão deliberada, como se desfrutasse da antecipação do medo que infligia.

O Estranho, instintivamente, recuou, suas costas pressionando contra uma parede úmida. A criatura, impulsionada por um instinto predatório, avançava com uma fome bestial. O beco tornou-se um palco sombrio para esse encontro, onde o Estranho era a presa e a criatura, o caçador.

Com um movimento rápido, o Estranho desviou-se, escapando por entre as garras da criatura. O beco se estreitava ainda mais, cada passo ressoando como um eco desesperado. O Estranho, guiado pelo instinto de sobrevivência, avistou uma escada de incêndio próxima. Sem hesitar, ele agarrou-a, erguendo-a com uma urgência impulsionada pelo perigo iminente.

A criatura, raivosa, avançou com velocidade surpreendente. O Estranho subiu a escada, cada degrau um escape temporário da besta que o perseguia. Chegando ao segundo andar, ele avistou uma janela entreaberta. Sem pensar duas vezes, lançou-se para dentro, com a criatura rosnando impotentemente abaixo.

A biblioteca, agora seu refúgio, recebia-o com o silêncio solene e a promessa de conhecimento. O Estranho, ofegante e ainda sentindo a dor aguda de sua ferida, sabia que o perigo não cessara completamente. A criatura, lá embaixo, ainda uivava, uma sombra faminta que aguardava seu momento na escuridão.

A biblioteca de Dusktown, majestosa em sua grandeza, era uma cápsula do tempo envolta em sombras. Ao entrar, o Estranho se viu imerso em um vasto domínio de conhecimento, onde pilhas intermináveis de livros empoeirados se erguiam como torres silenciosas. As prateleiras de madeira escura, corroídas pelo tempo, abrigavam segredos antigos e narrativas esquecidas.