Capítulo II

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Ao adentrar o ambiente fico maravilhada com a majestosa biblioteca dos Bargalli. Os livros organizados em ordem alfabética nas estantes pareciam seguir um belo padrão de cores que deixava tudo ainda mais hipnotizante e chamativo, era como se aquele lugar te seduzisse a querer saber um pouco mais. As paredes cor de carmesim combinavam perfeitamente com o carpete vermelho e tudo isso, seguido de alguns vasos de flores e candelabros que deixavam o ambiente extremamente confortável aos olhos.

Deslizo meus dedos lentamente sobre os livros enquanto caminho vagarosamente em busca de algo sobre a nobreza ou economia, porém não posso deixar de notar os títulos clássicos que eu sempre tive o desejo de ler. Havia tantas histórias para conhecer, tantos lugares para viajar, era como se eu estivesse no paraíso e com direito a área vip. Encontrei um livro gasto em tons de dourado que me chama bastante a atenção, me fazendo parar de andar. O retiro da estante e me sento com o mesmo nas mãos em uma das cadeiras feitas de madeira que ironicamente eram absurdamente confortáveis.

Mesmo após passar a tarde inteira lendo, não consegui encontrar nada que pudesse ser usado ao meu favor. Claro que quando digo isso, quero dizer, nada que pudesse ser usado ao meu favor e que também não fosse manchar minha reputação, obviamente.

— Qual é? Ninguém nunca cancelou um noivado com algum príncipe antes? Por que não encontro nada, nem ao menos um único registro?

Folheio rapidamente e de forma irritadiça as páginas amareladas do livro estupidamente grosso que falava sobre cada membro da família real, até que, sem conseguir obter nenhum resultado positivo, eu fecho o calhamaço com força e deito minha cabeça sobre o mesmo. Era impossível cancelar o noivado apenas pela minha vontade, seria visto como uma desonra a família real e contar a alguém sobre o futuro que me aguarda não me traria nada além de uma fama de maluca, levando na melhor das hipóteses a um manicômio.

Era cedo demais para desistir, porém tarde o suficiente para continuar minha pesquisa. Talvez na biblioteca do Palácio eu consiga encontrar algo a mais sobre os casamentos reais e, quem sabe, motivos inofensivos pelos quais eles poderiam ser cancelados. Levanto e caminho em direção a porta onde Léia me esperava com uma bandeja recheada de aperitivos e uma xícara de chá.

— Irei para os meus aposentos, sinto-me cansada depois de um dia de leitura - nada - produtivo.

— Irá novamente pular seu jantar, milady? Está doente?

— Não se preocupe, caso eu sinta fome lhe avisarei. - Digo enquanto pego um dos biscoitos de cima do tabuleiro de prata - mas não precisa me esperar acordada, acho pouco provável que eu vá descer a fim de beliscar algo.

— Claro milady, nesse caso tenha um excelente descanso. - A criada se curva enquanto com uma das mãos sinaliza a direção que devo seguir.

Depois de fechar a porta do quarto, me jogo na cama na esperança de que, conforme meu corpo afundasse entre os lençóis e o edredom, o colchão confortável que seguia me engolindo fosse sugar também, todas as minhas preocupações e extenuação. Fecho meus olhos com intensidade na tentativa de limpar por completo a minha mente que insistia em querer me pôr para baixo, quando um ruído em minha janela interrompe meus pensamentos.

— Tem alguém aí? - Me sento rapidamente na cama encarando a janela, minha voz sai um pouco mais rouca e um arrepio percorre por toda minha espinha. - Só pra avisar, estou armada... - Eu não estava - e luto muito bem também! - pego quase que de imediato o candelabro que se encontrava em cima da minha escrivaninha, me aproximo vagarosamente da janela e, com a ponta dos dedos abro cortinas.

— Oh, então era você gatinho. Me deu um baita susto... - Me deparo com o gato preto que encontrei nesta manhã. - Está com fome? Já aviso que aqui não tem comida, mas se quiser busco algo para você - com a mão que ainda estava livre abro as janelas para que o gato pudesse entrar, entretanto ele não se move, apenas me observa com uma expressão divertida em seu rosto.

— Então essa era a arma que você tinha? Duvido que três velas consigam ferir alguém.

— AAAAH - Berro e logo em seguida jogo o candelabro no animal que cai do segundo andar juntamente com o objeto. Instintivamente olho pela janela para conferir se o gato havia caído de pé como diz o ditado. Descobri que é um mito! - Puta merda, matei o bicho.

Rapidamente abro a porta e desço a escadaria que por sorte se encontrava vazia, não esbarrei em nenhum criado. Corro em direção ao felino e o pego em meus braços.

— Eu sei que falei que duvidava, mas não era necessário me provar com tamanha violência. - Ironizou o bichano atordoado. Subo as escadas em direção ao meu quarto rezando para não ser pega com o gato falante. Assim que chego, fecho a porta e coloco o gato em cima do tapete. - Você tentou me matar e vai me deixar no chão? Que descortês.

— Tem sorte de eu te deixar entrar em meus aposentos, se fosse qualquer outro a te encontrar, você já estaria no mínimo assando.

— Isso foi cruel, você é um demônio ou algo assim?

— ISSO QUEM DEVE PERGUNTAR SOU EU, o que é você? Se estiver interessado na minha alma, saiba que não está à venda. - cruzo os braços em forma de x, dando alguns passos para trás.

— E a senhorita por acaso possui uma? - O Felídeo questiona sério enquanto lambe uma de suas patas traseiras.

— COMO É? Primeiramente que eu nunca tive a intenção de te machucar, pulguento. Apenas reagi no reflexo porque me assustei com a sua bizarrice. E outra, se você não estivesse debochando de mim na minha janela isso não teria acontecido.

— Você está bem assustada né? Está devendo à alguém, senhorita? - Eu não acredito que estou discutindo com um gato...

— Isso só pode ser um sonho... - murmuro esfregando minha testa com as mãos na tentativa de manter a compostura.

— A senhorita é sonambula?

— Não foi isso que eu quis dizer. Só não consigo imaginar uma situação real onde um gato estivesse conversando comigo.

— Minha atual forma te incomoda? Se quiser posso mudar, o que acha de um rato?

— Por que não vira um pássaro e sai voando para bem longe daqui? Não tem nada melhor para fazer? Procure outra pessoa para chatear e me deixe em paz, já tenho muito do que me preocupar.

— Mas a senhorita me derrubou pela janela do segundo andar, não deveria cuidar de mim como forma de desculpar-se? - O gato questiona enquanto se espreguiça. Cruzo os meus braços em sinal de reprovação.

— Para mim, você parece bem inteiro.

— Então sua humanidade só acionaria caso eu estivesse quebrado? Não se educam mais damas como antigamente...

— Você veio até aqui apenas para gozar de mim? Seja lá o que você for, caia fora! Já se divertiu o suficiente, não é mesmo?

— Na verdade, não tanto quanto eu queria. - E subiu em cima da minha cama.

— Saia daí imediatamente, você pode ter alguma zoonose! - Ele me encara confuso.

— Seja lá o que esse termo signifique, não se preocupe, estou limpinho, ok? Me lavei ainda de manhã!

— Eu não estou falando sobre sujeira, zoonose são doenças de animais que podem ser transmitidas para seres humanos.

— Em todos os meus duzentos anos é a primeira vez que ouço essa palavra. - o bichano murmura - Bem, receio ter que te informar que se fosse esse o caso, a senhorita já estaria contaminada desde o momento em que me trouxe para cá. - automaticamente começo a esfregar meus braços com as palmas das mãos.

— Espera, o que você disse anteriormente? Seus duzentos o que?

— Surpresa milady, eu não sou um gato... Sou um feiticeiro! - Assim que o animal fecha a boca, ele se transforma em um homem com cabelos negros e compridos. Não consigo focar muito nos detalhes, minha visão está escurecendo e minhas pernas perdendo as forças. O chão parece cada vez mais próximo e tudo ao meu redor estava girando - ei, você está bem? - a voz do homem parece cada vez mais distante até que não consigo ouvir mais nada. Isso não pode estar acontecendo comigo.

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⏰ Última atualização: Jul 29 ⏰

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