Tsetseg estava triste. Ele sabia que ela estava triste, ainda que ela tentasse muito esconder seus sentimentos. Na verdade, ela tentou muito não demonstrar sua miséria para ele, mas era inevitável. Ryu Si-oh aprendeu a decodificar seus gestos, como se estes fossem parte dele mesmo.
A princípio ele notou os longos períodos de silêncio que ela mesma iniciava. Seu mundo cheio de sons e palavras abruptamente se tornou silencioso, e Tsetseg parecia ter a cada dia menos forças para dizer qualquer coisa. Si-oh chegou a cogitar que seu problema era com ele, mas enquanto antes ela parecia ser sociável com qualquer coisa viva, nos últimos dias ela estava presa em seu pequeno mundo particular, do qual ela saia somente para encontrá-lo no limiar de seus silêncios.
Ela passou a lhe dar as mãos a todo tempo. No meio da manhã quando estavam em sua sala, ela se sentava ao lado dele e segurava sua mão na dela, como se quisesse garantir que ele ainda estava lá. Em casa, ela era ainda mais incisiva, Ryu Si-oh se tornando seu pequeno casulo de proteção, do qual ela parecia a cada dia mais dependente. Ela o abraçava na cozinha, suas mãos se demorando sob seu corpo, se apegando a ele muito mais do que deveria. No sofá da sala passavam as horas emaranhados um no outro, a ponto de Tsetseg se acostumar com o grande corpo sempre envolvendo o seu, e desse modo ser impossível dormir quando ele não estava em casa. Ela estava adoecendo lentamente, enquanto que Si-oh era seu único contato com o mundo.
Era ele quem a puxava para fora de sua dor.
Se antes alguém possuía dúvidas que os dois estavam em um relacionamento isso definitivamente era parte do passado. Ryu Si-oh sempre foi óbvio com seus sentimentos, não os escondendo, marcando seu território mesmo antes dela se apaixonar por ele. Tsetseg era quem os mantinha no lugar, especialmente no trabalho. Esse não era mais o caso. Foi em uma quinta feira chuvosa que o escritório executivo da Doggo se emudeceu por instantes sagrados, quando Tsetseg simplesmente interrompeu Si-oh para arrumar sua gravata que ele descuidadamente colocou depois de procurá-la pelo quarto e entre as roupas de Tsetseg mais cedo. Ela refez o nó, do modo que ele mesmo havia a ensinado quando eles começaram a dividir a mesma cama e a vida matinal antes do trabalho, ainda que no início fosse muito difícil entender aquela amarração.
Ela se aproximou abruptamente, seu pequeno corpo roçando no dele enquanto suas mãos desatavam o nó e o refazia, alheia ao fato que estavam do lado de fora da sala de Si-oh, de frente para o elevador que os levariam para baixo. Nem mesmo os seguranças de Si-oh puderam disfarçar o constrangimento diante deles. Ela terminou de fazer o nó e então moveu seus dedos distraidamente para os cabelos úmidos de seu amante, apenas para colocar um dos fios no lugar, seus olhos se demorando imprudentemente na direção dos lábios. Sempre fazia isso quando estava em casa e a cada dia se importava menos em esconder o fato de que o amava.
Si-oh retribuiu seu gesto, um sorriso jamais deixando seus lábios quando suas mãos envolveram o rosto de Tsetseg, apenas para que pudessem tirar a franja que caia sob seus olhos. O elevador os interrompeu logo em seguida, mas não antes que ela o puxasse para dentro, sua pequena mão buscando a dele de repente, sendo a prova definitiva de que Ryu Si-oh havia finalmente conseguido alcançar a pequena e diligente Tsetseg.
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As dobraduras de papéis de seda de Tsetseg e Si-oh
Romance"Si-oh queria guardar para sempre a imagem de Tsetseg sob a luz do sol, enquanto seu coração era roubado por ela a cada dia. Um dia, quando seu tempo finalmente chegar ao fim, aquela certamente seria sua última lembrança. No apagar das luzes, Si-oh...