Don't Run Away

I

ISABELA

A tarde em Cancun, no México, estava ensolarada, como a maioria dos dias do ano naquela região. Tanto que eu havia até conseguido convencer Álvaro, meu irmão seis anos mais velho que eu, a sair para tomar um sorvete. Mas claro, ele nunca iria em um trailer comum, quis ir em uma das maiores e melhores sorveterias da cidade. Aquele garoto, sempre tão ganancioso, queria usar de um simples gesto como ir a uma soverteria, para ostentar todo o dinheiro sujo que ele possuía para os outros.

Mas para a felicidade dele, tédio meu e infelicidade do outro, meu irmão tinha um plano ao me levar justamente aquela soverteria. O motivo tinha mais ou menos 1,90 de altura, tatuagens e usava roupa social. Ethan Montanari, o maior rival do meu irmão, o homem responsável por desviar todo o dinheiro das apostas do cassino ilegal de Miami que Álvaro monitorava. Eram infinitas notas que nesse exato momento, estavam escondidas sabe lá Deus em que lugar.

Álvaro estava possesso de raiva daquele homem, e naquele momento, não foi possível que o Montanari escapasse.

- patético! - meu irmão dizia, ou melhor, insultava o prisioneiro a nossa frente enquanto eu só assistia aquela cena.

- eu patético? - dizia o mais velho, aparentemente muito mais tranquilo do que deveria para alguém na mesma posição em que se encontrava agora - você já me prendeu aqui e ainda faz questão de me xingar gratuitamente só pra se vangloriar por isso, tem certeza que eu sou o patético da história?

Eles falavam um com o outro como dois adolescentes implicantes. Mas a situação entre eles era tensa, medonha. Aquele desentendimento vinha de anos atrás, e o motivo principal, era justificável.

Estávamos há mais ou menos uma hora e meia naquele porão, só para que Álvaro pudesse insultar o quanto quisesse o prisioneiro a nossa frente. O pobre coitado se encontrava como um passarinho em uma gaiola. Foi em um mero deslize e nós o raptamos, e agora, ele seria obrigado a nos revelar onde estava a droga do dinheiro que ele e a equipe dele pegaram antes de nós.

- eu faço o que eu quero, e você cala a boca! tá preso feito um ratinho em cativeiro. - Álvaro ria.

- que seja. - ele não tirava aquele sorrisinho do rosto em momento algum - eu não vou ficar aqui por muito tempo mesmo.

- isso é o que vamos ver, hermano! - meu irmão se levanta do banquinho que estava sentado a frente da cela que o outro estava - Bebela, não tira os olhos dele.

- claro. - respondo, vendo ele caminhar em direção a saída do porão.

- Bebela? - disse em tom de deboche, não me agradava nem um pouco aquela postura de marrento e relaxado que ele mantinha.

Esse miserável! Ele me tirou do serio desde que entrou no porão. Não por algo que ele disse, até porque ele não era um homem de muitas palavras. Mas ele estava calmo demais, tranquilo demais, isso não é o comportamento correto de alguém que está sendo feito de refém.

- Isabela Ramos para você. - me sento onde meu irmão estava anteriormente, ficando frente a frente com o prisioneiro, separados por uma grade.

- Isabela... sou Ethan, Ethan Montanari, muito prazer, hermosa. - ele sorria.

- hum. - o silêncio constrangedor se instala logo em seguida, libertando os olhos dele para poderem rodear todo o meu corpo, mas eu não queria ele me olhando tanto - você não está muito tranquilo pra quem pode morrer a qualquer momento?

- não vou morrer. Seu irmão precisa de mim vivo se quiser o que ele tanto busca. Aliás... - uma pausa dramática, como as dos filmes - como alguém como o Álvaro pode ter uma irmã como você?