II

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Foram horas e mais horas me segurando acordada, o medo de algo acontecer comigo se eu decidisse descansar me consumia, mas durante a longa e desesperadora viagem, dado certo momento, minha mente pesa mais do que eu gostaria e acaba por me convencer a deixar o sono me levar. Repouso minha cabeça sobre o encosto da poltrona e adormeço ali. Acordo somente horas depois, assim que sinto um movimento estranho e turbulento da aeronave. Havíamos chegado em Verona, na Itália.

"a famosa cidade do amor, na realidade, parecia mais a cidade infernal para mim agora."

Estava frio, dentro do jatinho era aquecido, mantinha uma temperatura muito melhor do que fora dele. O clima frio não era muito normal em Cancun, não estava acostumada e nem com roupas adequadas para aquilo. Ao olhar a minha volta, Ethan parecia agoniado, fazendo ligações e sua feição com certeza era de alguém que transbordava raiva e impaciência.

Eu até gostaria de saber o que havia acontecido, mas eu estava tão possessa quanto ele naquele momento, talvez até mais um pouco, ao julgar pela situação que me encontrava. Eu estava totalmente no direito de sentir raiva, estava há mais de dez horas de viagem da minha casa, rodeada de completos desconhecidos, em um país que eu nunca havia ido antes, e ainda por cima, tendo dois brutamontes segurando meus braços para que eu não escapasse, como se eu tivesse algum lugar para ir, sendo que nem ao menos falar italiano eu falava.

- Come mai non potevi farlo? figlio di puttana, dovevi essere qui con quella dannata macchina! Non farmi pentire di averti messo nella mia prima squadra, hai capito?! Sarà meglio che tu sia qui tra cinque minuti.

Mais ao lado, o moreno praticamente gritava ao telefone, já me disseram uma vez que italianos falavam normalmente alto demais. Eu se quer entendi algo do que ele disse, mas era nítido que ele estava zangado com alguém.

- Ethan? tudo bem? - um dos homens que estavam dentro do jatinho conosco, este de cabelos loiros ondulados e olhos claros, questiona Ethan assim que o vê desligar a ligação.

- sim, tudo bem. Era um problema com o motorista que já deveria estar aqui, mas ele está a caminho.

Um silêncio perturbador se instaura no ambiente enquanto esperávamos. E como de costume, ele aproveitava qualquer momento sem compromisso para voltar seu olhar para mim, era como se ver minha situação, completamente refém a ele, fosse uma fonte de energia. De qualquer forma, seu olhar era realmente eletrizante.

- já ficou obcecado? - o provoco.

- você nem imagina quais sejam as minhas obsessões, se imaginasse, não estaria tão tranquila. - curto mas objetivo.

A verdade era que eu já imaginava aquilo, e que eu não estava nada tranquila. Tudo isso era aterrorizante. Mas a vida havia me ensinado a ser dura de certa forma, então eu optava por ser firme, não iria me mostrar fraca, não para ele. Se eu iria ou não sair ilesa daquela situação, já não era mais de tanta importância. Tinha minha própria missão agora, e eu a realizaria com maestria. Eu não sabia com o que ou com quem estava lidando, mas de qualquer forma, Ethan também não. Eu faria questão de transformar a vida desse patife no próprio inferno.

Curtos minutos depois, um carro enorme parou em minha frente. Era preto, lustrado e com certeza havia custado milhões de pesos, ou euros. Fui empurrada para dentro daquele carro como um animal sem direito de escolha, aqueles dois gorilas gigantescos não possuíam delicadeza nenhuma. Naquele carro estávamos somente eu e Ethan no banco traseiro e outro homem no volante, provavelmente o motorista que havia dado problemas há pouco. Não demorou para que desse partida e nós seguíssemos caminho.

Ignorando o que acontecia no caos da minha vida, observo e me permito apreciar a paisagem pela janela do carro. Verona era absurdamente linda. Eu acreditava que Cancun era a cidade perfeita, mas Verona era indescritível. Aquela cidade cheirava romance de época, as cores, casas, lojas e todo o restante faziam eu me sentir em um clássico de Shakespeare.

Don't Run AwayOnde histórias criam vida. Descubra agora