Garotas Extraordinárias

Vocês não estão mais sozinhas

Desde que se conhece por gente, Chaeyoung viveu em um orfanato católico e sempre teve consciência de que foi abandonada por sua família. Crescer cercada por freiras tornava sua vida um tormento, pois a angústia de ser lembrada a todo momento que iria para o inferno só aumentava por também saber desde sempre que gostava de garotas. Além disso, enfrentava o bullying tanto no orfanato quanto na escola por ser menor que a maioria e também muito chorona.

Ao completar seus 14 anos, ela tomou uma decisão firme de não mais se submeter às imposições que lhe eram lançadas. Consciente do peso das expectativas alheias, ela optou por um estilo de vida que afastasse agressores e desafiasse as normas restritivas impostas pelas freiras e pela sociedade que a havia confinado naquele orfanato.

Assim, ela abraçou um visual desfem e também abraçou com fervor um ativismo feminista e ateísta, rejeitando tanto a religião quanto a ordem social que a cercava. E em uma era marcada pela tensão da Guerra Fria e pelos horrores da Guerra do Vietnã, ela abraçou o comunismo como um ato de resistência contra a opressão e a exploração dos mais vulneráveis.

Determinada a enfrentar seus agressores, mesmo sabendo que não podia igualá-los em força física. Fez uso de sua engenhosidade para começar a utilizar estratégias para expor os bullies, que tanto temiam ser delatados e enfrentar retaliações.

Ela se manteve firme com esse novo estilo de vida por dois anos, desafiando os bullies e protegendo aqueles que precisavam de ajuda. No entanto, quando decidiu intervir em uma situação em que um garoto franzino estava sendo incomodado por alguns valentões, tudo mudou. Rapidamente, a situação se voltou contra ela, e Chaeyoung se viu encurralada, cercada pelos agressores que não toleravam suas novas atitudes.

Cercada por 10 meninos, Chaeyoung percebeu que sua empreitada foi falha, ainda mais quando viu o menino franzino fugir enquanto os bullies abriam espaço. O alvo deles ali era ela desde o princípio pensou ela.

— Chegou tua hora, Katarina — O bullie que parecia ser o líder disse enquanto todos se aproximavam e fechavam o cerco. — Agora você vai pagar por toda a sua petulância e vai aprender a ser uma garota obediente e serviente a Deus.

— Já disse para não me chamar assim, seu merdinha! — Gritou Chaeyoung dando um chute certeiro no saco do primeiro que se aproximou o suficiente.

Katarina é seu nome de batismo, que lhe foi dado quando foi deixada no orfanato. Eles a chamavam assim com a intenção de irritar a menor e sempre conseguiam. Assim que Chaeyoung desferiu o primeiro golpe, os agressores retalharam furiosamente, atacando-a de todos os lados e com toda a brutalidade que puderam reunir. Chaeyoung foi envolvida por uma torrente de socos, chutes e empurrões, enquanto se via incapaz de se defender totalmente contra a avalanche de violência que se abateu sobre ela.

Em meio a toda aquela violência Chaeyoung sentiu algo mudar dentro dela. Além da dor, uma sensação que parecia como uma energia começou a fervilhar em seu âmago, se acumulando conforme sua raiva aumentava e pulsava através de suas veias como uma correnteza violenta. Com um impulso instintivo de autopreservação, ela canalizou essa energia recém-descoberta, sem entender completamente o que estava acontecendo. Em um ato de desespero ela lançou essa energia para fora de si, como uma explosão de força primal.

Os bullies que a cercavam foram atirados para trás, como se não pesasse nada. Corpos se chocavam contra paredes e o chão com um impacto surdo. Alguns gemiam de dor, outros permaneciam imóveis, talvez inconscientes do que acabara de acontecer. O ambiente, antes carregado com o som de risadas cruéis e insultos cortantes, agora estava envolto em um silêncio pesado. Chaeyoung estava sozinha no centro desse turbilhão, tentando entender a extensão do que acabara de desencadear.