Três é (im)par

Capitulo II

Antônio

A escola não demorou tanto quanto eu imaginava, hoje ficamos em tempo integral mas tudo passou muito rápido. Assim que bateu às cinco da tarde, Tobb ligou para seus pais avisando que eu iria dormir em sua casa essa noite e pela emoção dele eles deixaram. Liguei para minha mãe também, ela deixou o que era obvio, mas disse para mim passar em casa antes, para pegar as minhas coisas e não ter que usar as de Tobb. Então fomos.

Dividimos o fone todo caminho até minha casa, escutamos alguns cantores que Tobb gostava, e alguns que eu achava legal também.

Ele não parou de falar sobre os novos jogos de vídeo game dele, e que estava ansioso para jogar comigo, e disse que quem sabe eu não gostasse de jogos tanto quanto ele, mas ele sabe que eu vou sempre preferir os gibis e quadrinhos de super-heróis.

- Quer que eu mude de musica? -Tobb me pergunta.

- Oh, não, pode deixar essa mesmo. –digo e ele sorri. – Por que você é tão viciado nessa musica?

- Eu também não sei, mas quando ouvi pela primeira vez, meu Deus, foi como experimentar chocolate.

- Entendi... If this feeling flows both ways...- canto a parte que toca em nossos ouvidos.

- Nossa, você canta como se soubesse inglês. - ele ri um pouco.

- Você ama me zuar né? – dou um soquinho no ombro dele e ele ri de lado e tira o cabelo do rosto.

- Sim, amo. – ele olha pra mim e para minha casa que está a alguns passos da gente. – Te espero aqui tá?!

- Vem, pode entrar. – abro um pouco a porta.

- S-sua gata não gosta muito de mim. – ele coça a cabeça e eu puxo seu braço.

- Vem, a Maya não mata ninguém. – entramos e eu encosto a porta atrás de nos.

Não demoramos muito. Minha mãe tinha deixado minha mochila pronta, com tudo o que eu precisava. Mas mesmo assim eu subi no meu quarto e peguei mais algumas coisas, mas claro arrastei Tobb comigo. Ele e a Maya não se dão muito bem.

Peguei meu notebook em cima da escrivaninha e dois quadrinhos que comecei na ultima semana.

- Pra que os quadrinhos? – Tobb pega eles da minha mão.

- Para ler?! – eu pego de volta.

- Achei que estava indo na minha casa pra jogar comigo. – ele fica um pouco pra baixo.

- E estou. – olho para ele. – Ei, para, tá bom, vou deixar os quadrinhos mas você esta me devendo uma tá.

- Sempre te devo uma. – ele ri.

Ahhh, como eu amo aquele sorriso.

***

Pegamos um Uber da minha casa para a de Tobb, poderíamos muito bem ir andando mas estávamos cansados demais para isso – também por que somos preguiçosos.

Tobb ama brigadeiro, seus pais nunca deixaram ele comer chocolate ate ele completar quatorze anos, e ele nunca desobedeceu. Em um dos aniversários dele eu não consegui impedi, ele ia fazer quatorze então fiz muito brigadeiro para ele, e eu nunca tinha visto uns olhinhos tão brilhantes quanto os dele quando ele comeu chocolate pela primeira vez.

Prometi que eu levaria achocolatado para que possamos fazer muito brigadeiro e ele amou a ideia, comprou umas cinco caixas de leite condensado por que ele queria que tivesse brigadeiro pelos próximos três dias em sua geladeira.

Acho que um dia eu ainda mato esse menino, mas ele está tão feliz, e isso me faz ser o garoto mais feliz do mundo.

- Obrigado moço. – ele paga o Uber e então entramos em sua casa.

Confesso que ele é bem mais rico que eu. Aquela casa típica americana, dois andares, escadas de mármore, uma cozinha linda, piscina, um cachorro peludo e grande e pais conservadores, ah e um irmão chato demais.

O irmão de Tobb me irrita, ele é muito mais velho que nos dois juntos e tem o dobro do nosso tamanho. Ele não aceita o Tobb do jeito que ele é e fica me zuando sempre que eu vou lá, mas chegou em um ponto que eu me acostumei.

- E ai Antônio! – o irmão de Tobb me cumprimenta.

- Oi Vinicius...- digo.

- Nossa que mau humor, o que foi? Ah não, foi rejeitado pela namorada? Ah é né, você é GAY. – ele diz rindo da minha cara.

Gay: Nome dado ao individuo do sexo masculino que tem atração ou interesse romântico por outro do mesmo sexo.

O que aquele idiota tem contra gays?

- Deixa ele em paz Vini. – Tobb segura minha mão e aperta um pouco (um sinal que criamos para que possamos perceber que está tudo bem). – Vem, vamos subir.

Subimos as escadas e nos trancamos no quarto, Tobb da dois socos fortes da porta e se senta no chão, abraçando suas pernas.

- Ei, cara, não chora tá bom. – me sento com ele e lhe dou um abraço. – Sei que seu irmão é um babaca, mas está tudo bem é serio.

- Você sabe que eu odeio que nos chamem de gays, e meu próprio irmão está fazendo isso, isso é um saco. – me levanto, ligo o vídeo game e pego os dois controles.

- Anda cara, para de ficar chorando ai, não somos gays né, vamos jogar Valorant, LOL, e sei lá mais o que, só pega esse controle e faz o que você faz de melhor. – entrego para ele.

- É mano, vamos jogar! – ele ri e eu rio também.