Capítulo I

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Nota da Mitsu: esta história possui um spin-off chamado "Vampire's Desire" que adiciona informações extras. Passa-se no mesmo universo e no mesmo período, abordando o antagonista desta e seu par, não sendo uma sequência nem prequela, e sim, simultânea. Ambas podem ser lidas de forma independente, mas a experiência de leitura será melhor aproveitada acompanhando as duas.


「🦇❤️‍🔥」


Refletido no enorme espelho provençal com molduras douradas, Felix Lee enlaçava a seda azul em torno do pescoço, formando um nó intricado em seu plastrão¹, enquanto sua dedicada criada, Margaret, procurava fiapos e sujidades invisíveis no belo colete que realçava sua silhueta. Os bordados na peça, arabescos deslumbrantes dignos da era de requinte da rainha Vitória, traziam um pouco de delicadeza em meio a seriedade cinza de suas vestes formais de salão.

Um candelabro banhava com sua luz dourada o quarto do Lee, destacando os contornos finos do jovem lorde, que se aprontava sem muito anseio para o baile de máscaras em que daria continuidade aos cortejos de sua noiva. Ele conferia com afinco sua imagem meticulosamente preparada no espelho polido, procurando a sombra do que ele esperançosamente esperava ser uma barba robusta no futuro; ou ao menos um bigode.

Se tivesse nascido um século mais cedo estaria cumprindo com louvor os padrões de beleza do jovem romântico: corpo esguio, rosto liso, feições joviais e delicadas. Mas na Era Vitoriana, um cavalheiro bem aparentado devia ser grande e robusto, com um rosto barbado bem cuidado ou costeletas, viril, sólido e de substância — tanto física quanto financeiramente.

Os fios castanhos do Lee estavam elegantemente penteados para trás com cera de abelha, polvilhados com pó de ouro para dar um brilho especial, embora ele fosse esconde-los por baixo de seu chapéu. Ele vestiu seu pesado paletó com a ajuda da criada e o abotoou habilmente. Ele já estava quente o suficiente sem ele, mas as normas de conduta diziam que era tão condenável sair com as mangas da camiseta a mostra quanto sair usando apenas ceroulas². Além do mais, a moda ditava que quanto mais camadas de tecido, melhor. E roupas largas para acomodar — ou sugerir — a grandeza de um tronco roliço.

Girando sobre os calcanhares, ele se afastou dos espelhos para calçar suas luvas³ imaculadamente brancas, item esse mais do que bem-vindo, uma vez que poupava-o de roçar desconfortavelmente suas palmas na pele alheia. Ele empunhou sua bengala e levou consigo a máscara que usaria. A peça era toda ornamentada com detalhes dourados e pedrarias finas, cortesia de seu prestígio como filho de um duque. Do duque de Solaria.

Quando finalmente chegou à sala de estar, encontrou seu pai repreendo a duquesa por não ter supervisionado as criadas na remoção de uma mancha quase invisível nas luvas do homem, enquanto sua irmã mais nova, Lady Olivia animadamente caminhava de um lado para o outro, ansiosa para comparecer ao seu primeiro baile de máscaras.

— Liv, contenha-se! O que os servos dirão vendo-a ser indecorosa? — Felix chamou a atenção da irmã, repetindo as mesmas repreensões que ouvira centenas de vezes.

Olivia era uma mocinha com pouco mais de 17 anos e usava pela primeira vez seus cabelos para o alto, presos em um coque espiralado com cachos emoldurando suas bochechas, um arranjo floral fresco e colorido adornava o penteado. A lady estava orgulhosa em mostrar sua maturidade.

— Estou ciente, irmão. Já preparei minha feição inexpressiva para usar por baixo da máscara a noite toda, deixe-me expressar minhas emoções ao menos da porta de casa para dentro. — Ela levou a máscara carmim com brilhantes e penas para cobrir seu rosto.

Liv segurava a haste embrulhada em cetim com seus dedos enluvados por suas luvas brancas que chegavam aos cotovelos, a única faixa de pele que ela estava autorizada a mostrar além do pescoço e rosto. O vestido, de mangas bufantes, tinha um barrado rendado, e uma saia pomposa.

Vampire's Delight | HyunLix (em hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora