Vontades

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  Meu desejo seria dormir até umas 10:00 am, mas não posso não é mesmo? Tenho uma formatura para ir. Felizmente é meu último ano no ensino médio. Nem sei o que quero fazer da vida.

  Parece que meu pai era professor de Filo-não sei o quê. Minha mãe disse que ele era muito inteligente e sabia demais. Uma pergunta sobre o futuro para ele poderia ser respondida com precisão por conta da Filo-não sei o quê. Aquele miserável deu mais importância à sua carreira do que para a própria família. Me pergunto onde está sua inteligência agora.

- Alice! É seu último dia! Não vai descer?

Sim. Hoje é um dia memorável, eu acho. Uma porta se fecha para o ensino médio e outra se abre para a Faculdade.

  Quanta vontade de patinar nos lagos imensos congelados pelo clima desse mundo, que antes estava congelado e agora derrete sem me preocupar no amanhã, como fazia com minha mãe. Eu tinha 10 anos apenas. Uma das melhores lembranças. Usei aquele patins até se quebrar.

  Daqui dessa janela embaçada pelo frio da neve e gelo que derretem eu vejo pessoas, andróides, máquinas e robôs. Tudo parece tão monótono. Que tipo de mundo há na mente dessas pessoas? Quando os andróides se tornarão humanos? Será que as máquinas um dia precisarão do ser humano? E os robôs, quando reivindicarão a liberdade? Se este último acontecer será o nosso fim? Se sim, por quê existo? O que são esses pensamentos?!

- Alice Lancelotti, desça já desse quarto!

Eita! Melhor descer. Pela voz da minha mãe é capaz de subir aqui mesmo.

- Já tô descendo mãe, deixa eu vestir minha blusa!

  Antes que eu abrisse a porta do quarto, Nic, o robô doméstico já estava pronto para abri-la do outro lado, à minha espera.

- Minha mãe mandou você vir aqui, eu sei... Não precisa falar.

- Como você sabia disso Senhorita Lancelotti?

- Intuição, Nic. Intuição.

- O que é isso? Como um robô, cujas linguagens de programação está destinada a aprender eu desejaria muito aprender intuição. Me ensina?

  Confesso que fiquei pasma ao vê-lo falar assim. Essa é a primeira vez. Até ontem ele falava somente poucas palavras ou frases incompletas, e, além disso, era apenas repetições genéricas de qualquer robô.

Isso... é novo...

- Bem... Talvez algum dia, eu acho... - no instante em que falei isso observei que esse é um dos primeiros exemplares de robôs e estava bem conservado: sua lataria ainda reluzia como a prata polida, seus sistemas operacionais estavam desatualizados, mas mesmo assim continuavam sendo muito atuais e me arrisco dizer que parecem ser muito avançados para a época atual. Minha mãe não quis desapegar ou comprar outro. Ela disse que foi um presente do meu pai; do meu pai biológico.

- Preciso ir Nic, até mais tarde.

- Até senhorita!

  Se não fosse sua voz tão robótica e andado desengonçado ninguém perceberia que é uma versão de robô muito ultrapassada para os dias de hoje. Ainda mais depois da 4° Revolução Tecnológica em 2049.

Alice in the Darkness - Alice na EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora