Era uma vez

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Querido Kyle,

Eu nunca sei se eu te amo ou se eu te odeio. Nunca consigo entender o que foi que fez você ir embora e me tratar desse jeito estranho que me trata, porque simplesmente não faz sentido na nossa história.
Se lembra de como as coisas foram acontecendo?
A primeira vez que eu te vi eu nem te dei bola. Estávamos no bar do Jo matando aula. Nem éramos da mesma sala, sequer do mesmo curso, mas por algum motivo você estava ali e eu também. Fomos apresentados, mas mal ligamos um para o outro. Sua presença não significava nada para mim naquele dia e eu estava com outros amigos. Um deles foi o grande motivo de ficarmos próximos, você e eu.
Depois de um tempo, em uma data comemorativa, você estava bem bêbado. Eu ia dar um abraço no Fernando e em outra pessoa que eu vou apelidar de O Terceiro, quando você apareceu de repente e me abraçou. Eu achei estranho, eu mal te conhecia, sequer sabia o seu nome. Mas achei engraçado também, porque era um dia de festa e, pra mim, aquilo foi inusitado.
Mas ele, O Terceiro, não gostou dessa história de você estar me abraçando. Ele ficou incomodado e, bom, houveram alguns desentendimentos.
No dia seguinte você me mandou uma mensagem (como conseguiu meu número, mesmo?) me contando as aventuras e brigas da noite anterior por conta daquele abraço.
E sabe de uma coisa? Eu fiquei com raiva de vocês dois. Primeiro, porque pensei "eu não sou nenhum tipo de carne para dois cachorros ficarem brigando". E segundo, eu estava namorando nessa época.
Enfim, o fato é que por causa d'O Terceiro eu e você acabamos virando bons amigos. E era só isso, só amizade, como com o Fernando.
Mas então meu namoro acabou e acabou de um dos piores jeitos possíveis, com traições e facadas nas costas, com coisas tão ruins que poderiam fazer com que eu fraquejasse. Você era um bom amigo e não me deixou cair na tristeza, você me lembrava todos os dias que eu era uma mulher forte e independente. Você via algo em mim e de repente essa mulher incrível que você via eu comecei a ver tambem, e nao tinha nada a ver com pegação, paixão, amor ou sexo. Era simples, eu tinha você e você tinha a mim como amigos e era ótimo ter alguém segurando a minha mão para que eu não tropeçasse. E as coisas são como são, ou são como tem que ser. Talvez fosse porque você realmente sempre foi mulherengo, mas uma atração entre nós dois começou e eu não hesitei. Viramos amigos coloridos. Só tínhamos uma regra: Não se apegue.
E foi aí que começou a dar tudo certo e então tudo errado.
Foi uma noite daquelas que a gente bebia cerveja e andava na avenida que você me parou na frente da estação do metrô e disse que estava se apegando, que me queria, que era para ser algo mais sério. Eu dei risada e tentei desconversar, mas você continuava insistindo. E insistiu por meses até aquela noite que fomos no bar/balada, depois ficamos sozinhos na cama. Eu deitei no seu colo e disse que sim, disse que também estava ficando apegada.
Vendo hoje, parece que eu era uma estrelinha que você ganhou na escola. Uma daquelas que você cola na agenda e esquece, porque todos os dias você vira a página e cola um adesivo diferente.

Carmel Verona 25/09/2015

Primaveras cruéis Where stories live. Discover now