Pensar em Kumandra em tempos como aqueles sempre pareceu um conto de fadas para Raya, principalmente pelo fato de todas as nações se unirem novamente, sem conflitos diplomáticos. Mas seu Ba falava e agia com tanta convicção que ela realmente acreditou que poderia ter acontecido.Isso até um grupo de binturis trair a confiança de Coração. Isso até Virana trair a confiança de Benja.
Raya não gostava de se lembrar daquele dia, sentia-se até enjoada com sua própria inocência da época em achar que seria uma boa ideia mostrar a Joia do Dragão à princesa de Presa.
"Assassinos ferozes, com lâminas feitas para apunhalar costas." Foi a primeira coisa que a, até então, princesa de Coração ouviu sobre Presa. Seu Ba falava muito sobre achismos e preconceitos que povos de outras nações tinham com Coração e que eles mesmos tinham com os outros povos, mas mesmo após seis anos desde sua última conversa com Chefe Benja, Raya ainda tinha o mesmo pensamento de antes. O pensamento de que eles eram o inimigo.
Raya já foi apunhalada nas costas por alguém que a deu um presente, alguém que realmente a fez acreditar que talvez Kumandra realmente existisse, alguém que roubou o bem mais precioso que o mundo já teve. Namaari.
A atual Chefe de Coração se lembra casualmente do discurso de seu pai naquele dia, o dia em que devia ter ocorrido uma história diferente, o dia para celebrar. Isso até quebrarem a Joia do Dragão e os Druun voltarem.
Fruto da discórdia humana, os Druun se alimentam de almas e se multiplicam gradativamente em um espaço tempo mínimo. Entidades milenares que esperaram por séculos um único momento de fraqueza para atacarem na escuridão, onde nem os dragões poderiam ver.
Mas há quinhentos anos atrás, o mundo teve uma nova chance, um recomeço. O último dragão, Sisudatu, concentrou todo o seu poder em uma Joia que espantaria os Druun e traria o mundo de volta.
Era um momento de comemoração, onde os humanos deveriam agradecer pelo recomeço e tirar proveito deste novo mundo. Mas como pessoas são pessoas, não foi isso o que aconteceu.
A Joia do Dragão foi guardada e protegida por diversos guardiões desde que a encontraram. Marcado como solo sagrado, o que mais tarde seria Coração já foi um império totalmente focado à devoção aos dragões e a proteção da Joia.
Mas diferente do que muitos achavam, a pedra não ajudava Coração a se erguer. Ela não trazia chuva ou solo fértil, mas é claro que as outras nações não acreditavam nisso.
Por anos todo o mundo esteve em uma guerra fria, sem armas ou ameaças, mas todos sabiam quem eram seus inimigos, ou quem eles achavam ser.
Em algum momento da história, toda a Terra se dividiu em cinco nações nomeadas por cada parte de um dragão. Cauda, Garra, Coluna, Coração e Presa. Tudo parecia estar voltando aos trilhos pouco a pouco, Cauda e Garra tinham um comércio pacífico entre si e pareciam querer expandir, foi aí que seu Ba viu uma oportunidade, uma chance de trazer o que já foi Kumandra de volta.
Mas tudo desmoronou após Raya cometer o erro de confiar em alguém.
Ela tentou não se culpar pela perda de seu Ba por anos, mas desistiu quando finalmente admitiu que a culpa era tão dela quanto de Presa. Afinal, foi ela quem levou a princesa ao santuário da Joia do Dragão.
Namaari, a guerreira mais habilidosa de Presa, próxima Chefe e, principalmente, a binturi que destruiu o mundo.
Naquela época, Raya não a enxergou por este lado. A princesa de Coração apenas viu na garota mais nova alguém que compartilhava dos mesmos gostos que ela, alguém gentil e delicada, Raya enxergou uma amiga em Namaari.
Namaari enxergou um caminho em Raya, um caminho de elevar Presa, de orgulhar seu povo. Raya era apenas um mapa para Namaari traçar seu futuro perfeito.
A Chefe de Coração havia recebido um pingente de Sisu e uma apunhalada nas costas como aprendizagem, a princesa de Presa recebeu seu futuro em suas mãos em troca. Raya poderia dizer que foi uma troca desequilibrada, não que o mundo trabalhasse com causas justas.
O importante de se pontuar é que após isso a vida da princesa Raya acabou, foi retirada de suas mãos em um lindo entardecer pela única pessoa que ela teve coragem de confiar. Em troca, uma nova vida como Chefe foi entregada a garota de apenas quatorze anos.
O momento que a vida antiga de Raya sumiu por entre seus dedos sempre vai ser lembrado a ela como o momento em que a alma de seu Ba foi retirada de seu corpo, ou até mesmo um pouco antes quando Chefe Benja a entregou sua espada e um pedaço da Joia adquirido no meio da confusão e ela compreendeu que seu pai não estaria com ela na manhã seguinte.
Foi com o último raio de sol que Raya levantou a Joia para o horizonte e utilizou da reflexão para espantar os Druun de sua terra, e foi com o último raio de sol que Raya se transformou na Chefe de Coração.
E desde então ela não confiou em mais ninguém, nem em sua própria sombra.
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E vamos de mais uma fanfic sáfica.
Capítulo não revisado!
O que acharam?
Obrigada por ler até aqui❤️.
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ᴅᴇᴘ ʟᴀ | Rayaari/Rayamaari - Short Fic
Fanficᴅᴇᴘ ʟᴀ. Dep La - Adjetivo neutro; "beleza estranha"; "beleza irracional"; também utilizado como "melhor amigo". Binturi - Adjetivo neutro; "traidor"; "falsidade"; "inimigo". ------------------------ Raya tinha quatorze anos quando perdeu seu pai...