epílogo (único)

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A consciência recai sobre mim conforme sou lentamente carregada para longe de um de meus costumeiros sonhos caóticos. Abro os olhos vagarosamente, percebendo sem demora que não estou em casa.

As paredes que me cercam são brancas e vazias, e não cinzas e cobertas por pôsteres do Pixies ou qualquer banda de rock alternativo que pareça descolada, como as de meu quarto em um imóvel maltratado em Sunnyside no Queens.

A luz importuna do sol consegue atravessar as cortinas marrom-escuras e iluminar o cômodo sutilmente, o que me faz pensar sobre o horário, visto que o sol nasce do lado oposto da janela e só poderia clarear o local com tanto vigor nos fins de tarde.

Consigo ouvir os barulhos do trânsito, o canto melodioso dos pássaros e até conversas alheias na rua, tudo relativamente alto, o que só um apartamento em Upper East Side, no sétimo andar de um prédio residencial de luxo a seiscentos metros da Quinta Avenida, poderia proporcionar.

Esfrego meu rosto e bocejo, sentindo meu corpo pesar contra o colchão, como se milhares de imãs me arrastassem para baixo.

Meu cabelo está bagunçado. Os fios desgarrados estão grudados em minha testa, impregnados com o cheiro insistente de cigarro e um leve toque do xampu de frutas vermelhas que ganhei em meu último aniversário — presentes como este se tornam mais comuns conforme envelhecemos.

Minha pele está suada, exalando o aroma — agora não tão agradável — do meu perfume um pouco doce demais.

Me inclino para o lado direito — a cama range quando me mexo — e vejo Lottie acordada, no celular. Me permito encarar seus bem-feitos traços por alguns segundos. Apenas o suficiente.

Mas ela não olha para mim.

Me virando para o lado esquerdo, vejo o relógio digital na mesa de cabeceira e deixo um longo suspiro escapar.

São 16h06. Está tarde. Muito tarde.

Imediatamente, sou tomada pela sensação de que desperdicei um dia ensolarado dormindo enquanto o mundo continuou sem mim. Sinto urgência em alcançar meu telefone para ver se há ligações, mensagens preocupadas ou simplesmente notícias daquele dia, mas não sei onde ele está. Até tento olhar ao redor à sua procura, mas não há sinais dele.

Me sento, portanto, de forma um pouco afobada, tateando meu lado da cama. Lottie ainda não me olha. Logo noto que a única coisa que cobre meu corpo é o lençol branco, suado e amassado, e o seguro com força, tentando tapar as partes expostas do meu busto.

Por alguma razão, me sinto mais vulnerável do que no fim da madrugada, quando nada me cobria e as íris escuras de Lottie me devoravam sem pudor.

Consigo ver marcas vermelho-arroxeadas espalhadas pela base de meus seios e ombros de forma exagerada, quase proposital, como se tivéssemos feito algo selvagem. Não foi assim, no entanto, não totalmente.

Lottie não é assim, afinal.

Tudo o que sei sobre ela ouvi em nosso primeiro encontro, que aconteceu numa quinta-feira em um bar popular em SoHo. Seu sorriso brilhante de orelha a orelha, em contraste com seus olhos castanhos banhados por um tipo de melancolia silenciosa, não tardou a cativar minha visão. Quando percebi, já estava caminhando em sua direção, pronta para oferecer o que fosse preciso por um pouco de atenção.

Bebemos e conversamos por horas. Éramos diferentes, cada uma com percepções e rotinas muito pessoais para fazerem sentido para a outra, mas isso não importou. Ela precisava de alguém para ouvir e para preencher, e eu não poderia estar mais feliz em ajudar. Na saída, me ofereci para acompanhá-la até seu carro e acabamos nos beijando no estacionamento, o que me levou até o banco do passageiro de sua Mercedes SUV e, por fim, sua cama.

I had lesbian sex with goddess (It could've gone better)Onde histórias criam vida. Descubra agora