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Não era nem 07 da manhã e Danielle Marsh já estava pedalando em sua bicicleta ergométrica e revisando, simultaneamente, mais um manuscrito. Sua vida era tão corrida que para se manter minimamente em forma, passava uma hora se exercitando. Enquanto fazia isso, a sua frente deixava a enorme tv de sua sala rodando um vídeo de uma trilha no meio de um arvoredo. Ela gostava de imaginar que andava por ali em todas as suas manhãs. Quer dizer, ela imaginava isso quando não tinha que estar lendo algo, ou seja, raramente ela desfrutava de seu próprio devaneio.

Assim que concluiu seu tempo de atividade, soltou o ar dos pulmões pesadamente passando uma de suas mãos pelos fios de seus cabelos escuros grudados em sua testa. Definitivamente, ela detestava a sensação grudenta do suor, por isso não esperava mais do que dois minutos para se livrar das suas roupas úmidas e correr para o chuveiro.

Há um bom tempo que seu dia começava naquele ritmo. Acorda às vinte para 6, tomava um suco de laranja, pedalava por uma hora inteira, aproveitava esse momento para trabalhar e quando terminava, se arrumava para ir para o trabalho.

Danielle era uma excelente editora de livros. Para chegar a esse patamar teve que se esforçar muito, então se doava por inteiro para continuar no cargo que penou para chegar. Se manter nele a fazia abdicar de muitas coisas da vida pessoal, mas nesse momento não se importava nem um pouco com isso já que seu trabalho era seu melhor feito e a coisa que mais importava na sua vida.

Após o seu banho matinal, Marsh foi até o espelho que estava totalmente embaçado pelo vapor de seu banho quente, banhos quentes a fazia relaxar. Passando a palma da mão direita para conseguir ver o mínimo de seu reflexo, começou a se analisar minuciosamente por alguns instantes.

Visualizar o seu próprio reflexo era sempre um choque, pois todo dia achava uma marca de expressão nova em seu rosto ou uma pequena ruga se formando no canto dos olhos - pelo menos era isso o que ela via. Era nesses momentos que se perguntava se deveria começar a aderir as plásticas. Tudo bem que não tinha nada em sua face que diminuísse sua beleza, mas não gostava do fato de se incomodar com aquelas minúsculas marcas.

Só tinha um ano que havia alcançado a casa dos trintas e já temia pela velhice. Se tivesse amigos, provavelmente eles diriam que todos esses questionamentos sobre sua aparência eram sem fundamento. Mas ela não tinha amigos.

Depois de passar alguns minutos esticando a pele do rosto com as pontas dos dedos, começou a desistir da ideia de fazer uma plástica. Talvez, quando chegasse aos trinta e três retornasse a esse pensamento, mas nesse momento tentaria se livrar dele.

Logo que saiu do banheiro, foi em direção ao seu quarto se trocar. Não muito diferente de seu habitual, escolheu uma de suas saias lápis preta e uma blusa azul de mangas compridas. Se vestir de um jeito tão social e sempre estar com um salto alto no pé não era o que exatamente a agradava, no entanto, não tinha como fugir de sempre estar assim, seu cargo exigia que ela passasse um ar de seriedade.

Antes de sair de casa, se serviu um pouco de cereal apenas para não ficar de estomago vazio. Quando entrava em seu escritório, saia tarde da noite e, digamos que, esquecer de comer era algo totalmente comum em sua rotina. Sabia o quanto era errado ficar tantas horas sem ingerir nada, mas quando via, já havia pulado uma refeição. Algumas vezes, só comia porque sua irritante assistente trazia seu almoço o colocando em sua mesa e a atormentando a cada cinco minutos para fazer uma pausa.

Após sua rápida refeição, não demorou muito para sair de sua luxuosa cobertura localizada em um dos bairros nobres de Seul e se encaminhar até a editora em que trabalhava, que ficava apenas duas quadras de distância de sua casa. Como não valia a pena enfrentar um trânsito por causa de poucos metros, aproveitou a caminhada para adiantar seu trabalho do dia.

A Proposta. ᵈᵃᵉʳᶦⁿOnde histórias criam vida. Descubra agora