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Danielle saiu da casa da família o mais rápido que ela podia sem se despedir de ninguém. Ela até queria dar um abraço em todas as mulheres da família, pois, provavelmente, nunca mais as veria, porém decidiu que seria melhor não fazer isso. Embora sua mente estivesse em paz por ter contado a verdade, seu coração estava doendo como jamais doeu. Talvez essa dor jamais fosse passar.

Em uma semana, ela realmente tinha acreditado que aquela era a sua família. Eram pessoas que a queriam bem e que a aceitaram de braços abertos. Foram mais da metade de seus anos de vida ansiando por algo assim, mesmo que inconscientemente, e quando encontrou, percebeu que não poderia se aproveitar disso por causa de uma mentira. Esperava que um dia eles a perdoassem pelo que fez, mas se isso não acontecesse, teria que conviver com o fato de que magoou pessoas especiais tentando fazer o que era correto.

Na sua cabeça, tinha plena consciência que aquela viagem a Jeju tinha a mudado por completo. Existia uma Danielle Marsh antes de Jeju e uma Danielle pós Jeju. A Danielle pós Jeju era a que relembrou como era amar de novo, não só amar romanticamente, mas também amar fraternalmente. Poderia continuar sendo a megera que sempre foi em seu trabalho, mas quando conhecesse pessoas que valiam a pena, deixaria elas entrarem, porque quando deixou com a família de Haerin - se sentiu mais viva e queria se sentir assim até o fim de seus dias.

De tudo o que aconteceu, a pior parte foi ver os olhos opacos e o semblante de decepção de Haerin. Aquilo quase a matou de tristeza na hora, mas tinha certeza que estava fazendo o certo. Quando percebeu que estava a um passo de desistir de tudo, quis se entregar a ela como nunca se entregou a ninguém. A noite que tiveram na cabana seria algo gravado em sua mente e coração para vida toda, pois a Kang era alguém que havia marcado seus dias e a amava com todo o seu ser.

Antes de entrar no avião que a levaria de volta a Seul, Danielle esperou até o último segundo que fosse impedida pela Kang que fazia o ar faltar em seus pulmões. Quem sabe, os milhares de livros de romance que leu durante a vida e sua carreira não se tornassem realidade para ela?

Contudo, não havia ninguém ali gritando por seu nome e dizendo para ela ficar. Foi então que percebeu que estava novamente sozinha. Seria difícil, mas teria que aprender lidar com isso de novo, só que dessa vez em um outro continente.

Quando chegou em sua enorme cobertura já de noite, se jogou em sua cama deixando um suspiro frustrado escapar. A noite seria longa sem ter Haerin para abraçá-la, não havia nem seis horas que a tinha deixado, mas estava sentindo uma enorme falta da Kang. Tudo o que queria era sentir os braços dela ao seu redor e sua voz sussurrando em seu ouvido a chamando de meu bem. Ficava inteiramente trêmula e derretida quando a chamava assim em um tom doce e verdadeiro.

Encarando o teto, começou a ouvir o barulho dos trovões racharem o céu e não demorou a chuva começar a desabar. Se encolhendo na cama, sentiu algumas lágrimas molharem seu rosto. Era sempre assim, tudo que ela amava acabava perdendo e, mais uma vez, havia perdido muito. Foi assim que passou a maior parte do fim de semana que era para ser o momento mais feliz da sua vida. Estava chorando, sozinha no meio da cama e sem ninguém para a consolar.

Antes mesmo que o sol nascesse na segunda-feira, Danielle já estava de pé arrumando suas malas, tinha 48 horas para deixar o país de vez, então tinha que ser rápida. Quando parte de seus pertences estavam guardados, se dirigiu até a editora onde costumava ser a chefe.

Por uma última vez, entrou em sua sala e colocou em uma pequena caixa o que tinha ali. Não era muita coisa, apenas algumas agendas com anotações importantes, algumas canetas, blocos de notas, um vaso de flores artificiais e um porta retrato com um gato que nem era dela, mas gostava de achar que era. Abrindo uma das gavetas de sua mesa, encontrou o manuscrito que Haerin havia dado. Ela já tinha lido aquele texto autoral da Kang muitas vezes, mas dizia que não porque tinha medo de perdê-la como assistente.

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